A proliferação de manifestações
religiosas e exóticas
(Paulo Cristiano, do CACP)
O que você diria de pessoas que
adoram legumes, bebem sua própria urina, se alimentam de luz e/ou ainda adoram
astros da mídia? Que perderam a razão? Que são visionárias ou devotas?
Independente do que sejam, o certo é que todos os anos milhares de pessoas em
todo o mundo trocam sua religião oficial por cultos estranhos. Essas novas
seitas caminham paralelamente com as grandes religiões e possuem objetivos
pouco claros, provocando desvios comportamentais autênticos e atitudes
patológicas extremamente preocupantes.
O último censo do IBGE mostrou que
2,3% da população brasileira professa uma “outra religiosidade”. Fanáticos
religiosos não faltam no mundo atual, por isso um grupo de autoridades do
Chile, comissionadas para investigar o fenômeno, chegou à conclusão de que o
perfil de uma seita envolve fanatismo, obediência incondicional, exclusividade
do grupo e liderança messiânica. Mas há alguns grupos (ou seitas) que se
destacam devido às suas práticas anômalas, promovendo cultos com elementos que
se afastam dos padrões convencionais.
Sabemos que devemos respeitar
aqueles que pensam e crêem diferente de nós, afinal, a liberdade religiosa é
uma questão que toca a todos, indistintivamente. No entanto, não podemos
confundir as coisas, a ponto de sermos ingênuos e tolerarmos as ações
irracionais de tais grupos e seus cultos excêntricos.
Culto
O termo “culto” denota basicamente
dois possíveis significados inter-relacionados:
1) Adoração ou homenagem a uma
divindade.
2) Ritual ou liturgia; ou seja, o
modo de exteriorizar esta adoração.
A primeira significação refere-se à
natureza do culto propriamente dito, enquanto a segunda traduz a formalização
que pode ou não estar associada com o pensamento e doutrina que emerge dele.
O culto está essencialmente ligado à
religião, e como esta possui uma conotação de ligação do indivíduo à divindade
(do latim religare), o culto atua então como o meio pelo qual se
consegue pôr em prática a religião.
Também se enquadram neste contexto a
adoração devotada às forças da natureza, aos animais e aos astros celestes.
Quando um culto gera uma seita
Um culto pode gerar uma seita quando
determinado grupo de pessoas se reúne de modo organizado, ou, talvez, quando
parte desse grupo se desintegra, formando subgrupos dissidentes. Neste caso,
temos, na acepção do termo, uma seita.
A terminologia sofreu várias
modificações morfológicas em sua etimologia através dos tempos. De partido ou
facção, recebeu uma conotação pejorativa de não-ortodoxia, doutrina falsa,
crença heterodoxa. No contexto cristão, refere-se a toda e qualquer doutrina
(pensamento ou prática) que contraria a Palavra de Deus.
À psicoteologia das seitas
encontra-se ligado o fenômeno do fanatismo, conseqüência da contracultura
pregada por elas. Nestas últimas décadas, tem havido uma superpromoção desses
cultos. Enquanto uns são amplamente aceitos na sociedade, outros são
marginalizados. Enquanto alguns causam grande sofrimento, outros são aparentemente
benéficos ou até patéticos.
Absurdos teológicos
Os absurdos ou aberrações são o
mesmo que distorções, anormalidades, defeitos que se apresentam. As seitas
produzem incessantemente tais desvios teológicos e muitas delas podem até
conduzir seus fiéis ao suicídio coletivo. Steve Hassan, ex-membro da seita do
reverendo Moon (Igreja da Unificação), hoje pesquisador de cultos e seitas que
realizam algum tipo de controle mental, explica o porquê de as pessoas
aceitarem facilmente uma doutrina aberrante. Segundo ele, “as seitas operam na
personalidade da pessoa, desligando-a de sua vida anterior, fazendo-a redefinir
suas crenças e valores de acordo com as normas estipuladas pelo grupo”.1
A seguir, breves exemplos dos cultos
anômalos desses novos movimentos religiosos.
Cultos excêntricos
É incrível como as pessoas estão
propensas a exercer fé nos mais estranhos tipos de deuses. Quando tocamos neste
assunto, obviamente nos vem à mente alguns exemplos de cultos anormais, porém,
os exemplos que seguem são tão excêntricos que desafiam os limites do que
consensualmente denominamos de anormal. Vejamos:
• Culto à cebola
Existe um grupo em Paris, França,
que cultua a cebola. É isso mesmo. Estamos falando de um legume, considerado
pelos adeptos como “bulbo divino”. A liturgia do culto é a seguinte: as pessoas
se reúnem em volta de uma cebola e vão descascando-a lentamente, camada após
camada, até chegarem ao talo, que, segundo crêem, é a parte mais importante do
ritual. O indivíduo que estiver em concentração e contemplar a sagrada
gastronomia, alcançará a pureza espiritual.2
• Adoradores do umbigo
Este culto também gira em torno da
meditação, sendo que, desta vez, o deus venerado é o ventre, ou melhor, o
umbigo. Dentro do templo, com as portas fechadas e um ambiente repleto de
incenso, sob um calor quase insuportável, o grupo (também francês) se concentra
em seus próprios umbigos. Acreditam que, pela meditação profunda, poderão
regredir, por meio do seu próprio cordão umbilical, até o umbigo de Adão, onde,
dizem, encontrarão a paz do paraíso original.3
• Ingestão de excrementos
Algumas seitas esotéricas, para
adquirirem o que chamam de qualidades místicas (como, por exemplo, poder, força
física e espiritual), ensinam a beber a própria urina. Até mesmo o padre Joseph
Dillon, 53 anos, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida (SP), ficou conhecido por
dizer em entrevistas que a urina seria a “água da vida”. Essas práticas
irracionais, do ponto de vista bíblico e científico, têm levado muitos a crer
que ingerindo urina conseguirão força espiritual. Inclusive, há até congressos
internacionais sobre o assunto. Mas muitos não se contentam em “deliciar-se”
somente com sua própria urina, preferindo também comer as próprias fezes, como
é o caso de algumas seitas hindus.4
• Veneradores do sexo
“Nós temos um deus sexy, uma
religião sexy e um líder muito sexy, com um grupo de jovens
seguidores extremamente sexy. Se você não gosta de sexo, que vá embora
enquanto pode”. Esta é uma das doutrinas centrais da seita que ficou conhecida
por muito tempo como Meninos de Deus, hoje Família do Amor. Seu líder, que se
identifica como MO, pregava o sexo livre, inclusive para a prática de um
evangelismo que denominam de “pesca coquete”. Defendem a prática homossexual e
a prostituição. É o “vale-tudo” do sexo no recrutamento de adeptos. Por isso, a
seita foi denunciada e perseguida em vários países e continua sob investigação
da Polícia Federal.5
• Igreja da Eutanásia
De acordo com este grupo religioso,
os problemas do mundo são todos causados pelo excesso de população. Então, a
solução “óbvia” proposta seria a redução da população. Mas como? Pelo suicídio,
eutanásia, sodomia, aborto e canibalismo. Como não poderia deixar de ser, esse
grupo também professa fé em elementos extravagantes. Crêem em extraterrestres e
se dedicam a práticas mórbidas.6
• Adoradores da luz
Tal grupo possui um corpo de crenças
doutrinárias essencialmente esotérico. Acreditam que não precisam mais comer.
Segundo eles, “comida é veneno”, por isso se “alimentam” exclusivamente da luz
do Sol. Por outro lado, a rejeição ao nosso tipo de alimentação, como dizem,
pode provocar um poder espiritual capaz de fazê-los ter visões de seres
espirituais, além de viagens astrais. Este
ascetismo fanático tem levado alguns praticantes à morte. O pior de tudo é que
tentam mesclar essa doutrina perigosa com os ensinamentos bíblicos, dizendo que
Jesus também a praticava. Tais ensinamentos, contudo, são alheios à doutrina
cristã.7
• Os seguidores da “Bíblia Branca”
A Igreja Mundial do Criador é um
grupo racista fundado em 1971, na Flórida, por Ben Klassen, ex-corretor de
imóveis. É um dos movimentos que mais crescem nos EUA, segundo o jornal The
New York Times. São partidários da filosofia de Adolf Hitler e possuem um
livro chamado White Bible [Bíblia Branca], no qual pregam o ódio
contra os judeus e os negros, e defendem a supremacia da raça branca. Baseado
nesta nefasta ideologia, Benjamin Nathaniel Smith, membro ativo de extrema
direita da seita, que chegou a alterar seu nome para August Smith porque
considerava seu nome “excessivamente judeu”, assassinou um coreano, cinco
judeus e três negros. A justificativa? Ele os considerava “pessoas sujas”. A
seita possui sites espalhados pela Internet, onde convida crianças para
seu evangelho de horror.
Cultos às celebridades
Os termos “adorar” e “ídolo” possuem
uma conotação estritamente religiosa. Contudo, em seus significados clássicos,
foram sendo gradativamente alterados, pela mente popular, com o surgimento da
mídia televisiva. Muitos fãs fanáticos de astros do cinema e do esporte têm
mesclado a devoção pelo artista com a fé religiosa. Alguns destes ídolos estão
sendo literalmente adorados nos altares de templos religiosos que lhes são
dedicados. Vejamos alguns exemplos:
• Idólatras de Elvis Presley
Parece que a frase “Elvis não
morreu” é muito mais que um simples chavão, pelo menos para os fãs religiosos
da “Igreja Presleyteriana”. A home page do grupo mostra desde
testemunhos de graças recebidas de adeptos até os 31 mandamentos de Elvis. Tal
igreja foi fundada em 1998, na Austrália, após a líder e fundadora, Anna, ter
tido uma experiência mística com o rei do rock. E, hoje, conta com
algumas congregações espalhadas pelos EUA e possui até um “teólogo”, o dr.
Edwards, responsável pela parte doutrinária.
Entre as muitas práticas esdrúxulas
exigidas pelo grupo, destacamos as seguintes:
• Pelo menos uma vez na vida os
adeptos deverão peregrinar até Graceland.8
• Todos devem possuir em casa os 31
preceitos de Elvis, que incluem receitas de comida.
• Devem incentivar, diariamente, as
crianças a elogiar o cantor já falecido.
Mas os disparates não param por aí.
Determinado sacramento, uma paródia da santa ceia, é feito com carne moída e
pudim de banana. Os hinos, é claro, são alusões ao ex-roqueiro, e tudo isso
recheado de muito rock-and-roll.9
• Veneradores de Raul Seixas
Talvez não tão organizado como o do
roqueiro norte-americano, o raulseixismo é um movimento que está ganhando cada
vez mais perfil de grupo esotérico. Em muitos fãs-clubes, já se perdeu o limite
entre a admiração e a veneração. E não é para menos, pois Raul Seixas tinha
tudo a ver com religião. Suas músicas só começaram a fazer sucesso quando o
compositor, hoje bruxo (é assim que ele se autodenomina), Paulo Coelho passou a
compô-las. Noventa por cento das músicas de Raul faziam alusão a temas
religiosos, principalmente esotéricos. Seu último trabalho recebeu o título de
“A panela do diabo”.
“Chegar a ser parecido com religião
é uma coisa meio sobrenatural”, avalia a socióloga Juliana Abonizio. “Os
raulseixistas realizam quase uma peregrinação rumo ao autoconhecimento [...]
Para a Cidade das Estrelas, uma pousada terapêutica coordenada pelo Instituto
Imagick, vão alguns dos fãs de Raul. Não se trata de religião, mas as obras do
cantor estão entre as bases do Imagick, segundo o presidente do instituto,
Arsênio Hipólito Jr. Na pousada, o objetivo é intensificar a luz de cada
pessoa, inclusive por meio da reprogramação mental”.1 0
• Discípulos de Jedi
Mais de 70 mil pessoas na Austrália
declararam ser seguidoras de Jedi. A religião foi criada baseando-se nos filmes
de Star Wars, o famoso Guerra nas estrelas, de George Lucas, o
“papa” da ficção científica hollywoodiana. Talvez tudo não passe de uma
brincadeira de fanáticos cinematográficos, que promoveram uma enxurrada de
e-mails incentivando os fãs a votarem no censo religioso como seguidores de
Jedi.
Para que se tornasse uma doutrina,
era preciso que dez mil pessoas professassem a “fé Jedi”. Mas o caso vem
surpreendendo as autoridades, já que 0,30% da população australiana diz
acreditar em tal “força”, a fonte de poder dos cavaleiros “Jedis”. O jedaísmo
prega os princípios de algumas religiões, como, por exemplo, a busca pelo
autocontrole e pela iluminação. Sua estrutura assemelha-se às filosofias
orientais, mas com valores cristãos. Por isso, não será estranho se algum dia
ouvirmos alguém orar a “Saint Luke Skywalker”!
• Adoradores de Maradona
Torcedores argentinos fanáticos
resolveram radicalizar. Promoveram o ex-jogador Diego Maradona, ainda em vida,
de “rei” do futebol a “deus” de uma seita denominada “Igreja Maradoniana”,
também conhecida como “A Mão de Deus”, uma referência ao gol que o atleta marcou
em 1986 contra a Inglaterra.
O grupo possui menos de mil adeptos.
Foi fundado em outubro de 2002, em Paso Sport, na cidade do Rosário. O único
objetivo é a exaltação de Maradona. Já possuem um templo, um calendário
religioso para marcar os eventos principais da vida do craque, que se dividem
em a.D. (antes de Diego) e d.D. (depois de Diego), e alguns hinos. Para não se
sentirem inferiores às outras igrejas, resolveram criar também sua própria
“bíblia”, intitulada “Eu sou o Diego do povo”, uma biografia do ex-jogador.
Como é possível alguém exercer fé
nestes absurdos?
Como são possíveis tamanhos absurdos?
Devem estar se perguntando os leitores de Defesa da Fé. Haveria alguma
explicação plausível concernente à tendência megalomaníaca dentro desses
caóticos grupos religiosos e seus cultos aberrantes? Alguns estudiosos do
assunto, como o professor Moraleda, que, entre outras matérias, leciona
antropologia religiosa, dizem que essa tendência é fruto da aplicação de
técnicas de controle mental.
Quanto a essa questão, declarou o
professor: “... há nelas (nas técnicas mentais) uma tendência bem visível de
constituir-se em organizações autoritárias e fortemente estruturadas. O passo
para o fanatismo é fácil de se dar. A seita destrutiva se organiza como
agrupamento totalitário, no qual se utilizam técnicas de persuasão coercitiva
(que constrange alguém a fazer algo) e controle mental, para conseguir a total
submissão dos indivíduos ao líder e a entrega sem reservas à idéia coletiva;
por seu caráter alienante, são grupos potencialmente destruidores da
personalidade dos membros”.1 1
Cremos, portanto, que a origem de
todas essas heresias está fincada no âmbito espiritual. As pessoas estão
cansadas da fé que professam e, para a maioria, sua religião tem-se tornado
fria e impessoal. Não há vida, não preenche a necessidade básica de seus
membros. O modo alternativo de crença e prática das seitas é extremamente
atrativo para alguns. As seitas oferecem um mundo alienado, porém,
personalizado. Lembre-se, o homem é “incuravelmente religioso” (Paul Sabatier),
portanto, “precisa ter um Deus, ou, então, criará um ídolo” (Martinho Lutero).
O que expomos foram apenas alguns
exemplos que pesquisamos, entre muitos, os quais não caberiam neste
artigo. Os grupos apontados satisfazem às solicitações, por e-mails, que o ICP
recebe diariamente em seu Departamento Teológico.
Devemos ficar atentos ao perigo que
as seitas e seus cultos representam para a sociedade, de modo geral.
Felizmente, muitos governos já estão tomando providências a respeito. Como
cristãos, temos a tarefa de alertar sobre toda e qualquer manifestação
religiosa que contrarie as verdades bíblicas. Eis o motivo deste texto!
Fontes
1
http://www.malagrino.com.br/online/olmwaco.html
2 Porque Deus condena o
espiritismo, Jefferson Magno Costa, CPAD,
p. 216-7.
3 Ibid.
4 Revista Defesa da Fé, nº 40.
5 www.cacp.org.br
6 http://www.churchofeuthanasia.org/
7 Revista Defesa da Fé, nº 43.
8 Nome da mansão que Elvis Presley
comprou para seus pais, em 1957, na cidade de Menphis, no Estado do Tennessee,
EUA.
9
http://www.geocities.com/presleyterian_church/home.html
10 http://www.correiodabahia.com.br/2004/03/24/noticia.asp?link=not000090074.xml
11 As
seitas hoje, José Moraleda, Ed. Paulus, p. 10-1.
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