Todos os que professam a fé em
Cristo deveriam ter certeza de estarem no favor divino e em estado de salvação,
mas infelizmente não é isso que vemos. Notamos a presença de crentes tristes,
frustrados, ansiosos e medrosos, no que diz respeito a esse assunto. Muitos
pensam semelhante ao que é ensinado no catolicismo romano: é impossível saber
se somos salvos. O teólogo Archibald Alexander Hodge escreve:
Os católicos, sustentando que a fé cristã é
principalmente o assentimento implícito ao ensino de uma sociedade infalível e
visível chamada igreja, e a conformidade obediente com esse ensino, negaram
estrenuamente que os indivíduos particulares tenham qualquer autoridade bíblica
para nutrirem uma persuasão segura de que são objetos especiais do favor
divino. Costumavam asseverar que nem é “obrigatório”, nem “possível”, nem
“desejável”, que alguém nutra tal convicção sem alguma revelação especial e
sobrenatural.[1]
Contudo, é plenamente possível
termos uma convicção firme e segura que somos eleitos do Senhor. Traz grande
gozo à nossa alma sabermos que Cristo assegurou a nossa salvação: “E a vontade
do Pai que me enviou é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca,
mas que o ressuscite no último dia” (João 6: 39). Se a vontade de Deus se
realizará “assim na terra como no céu” (Mateus 6: 10) então é certo que a sua
vontade - de que nenhum dos seus eleitos se perca - será efetivada. Daí uma vez
que verdadeiramente fomos regenerados
e justificados podemos ficar tranquilos, pois ele nos preservará até sua vinda:
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6).
Há um grande engano quando alguns
afirmam que a doutrina da preservação ou segurança do crente incide em
imoralidade espiritual. Alguém diz: “se uma vez salvo, salvo para sempre, então
podemos pecar à vontade?”. Os que pensam assim comprovam que não possuem nenhum
conhecimento bíblico. Acaso não está escrito na Palavra de Deus: “QUE diremos,
pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós,
que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Romanos 6:1, 2).
O fato de termos certeza da nossa salvação nos leva a vivermos mais e mais em
santidade: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa
vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis” (II Pedro
1:10).
O plano de Deus abrange dois
elementos: salvação e serviço. Por isso, Deus nos salvou para algo. Impressiona-me
os inúmeros crentes temporários e os que não se converteram. Eles tentam
usufruir os efeitos de estarem unidos a Cristo a qualquer custo e não
conseguem. Enquanto lutam sozinho contra a concupiscência da carne, são
derrotados por ela constantemente e vivem pecando. Muitos estão na igreja
visível, mas não fazem parte do corpo de Cristo nem estão em união com Ele. Por
isso são frequentes os escândalos dentro do evangelicalismo brasileiro. A
questão é de regeneração e não de santificação. Inúmeras pessoas que estão em
iminência na igreja local não são verdadeiramente convertidas a Cristo. Note os
exemplos bíblicos abaixo:
Examinais as Escrituras, porque vós cuidais
ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. E não quereis vir a
mim para terdes vida. (João 5: 38, 39)
Mas evita os falatórios profanos, porque
produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os
quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a
ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. (II Timóteo 2:
16-18)
Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos
males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu guarda-te também dele;
porque resistiu muito às nossas palavras. (II Timóteo 4: 14, 15)
Filhinhos, é já a última hora: e, como
ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos:
por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós;
porque, se fossem de nós, ficariam conosco: mas isto é para que se manifestasse
que não são todos de nós. (I João 2: 18, 19)
Conservando a fé, e a boa consciência,
rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e
Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.
(I Timóteo 1: 19, 20)
Todos estes exemplificam crentes
que estão envolvidos superficialmente com o evangelho de Cristo. Aparentemente
são regenerados, leem e estudam a Bíblia, muitos são teólogos brilhantes, vão
aos cultos, cantam e oram juntos com o povo, mas não apresentam os sinais
autênticos de conversão: “E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que
vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da
ira futura? Produzi pois frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3:7, 8).
Sobre estes o escritor aos Hebreus já alertava (6:4-6): “Porque é impossível que
os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram
participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as
virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para
arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus,
e o expõem ao vitupério”. Alguém ensina que esses versículos referem-se a casos
de apostasia, mas o contexto deixa claro que na verdade essas pessoas nunca
foram regeneradas (vs 7-12).
Alguém pode perguntar: “mas como
saber se gozo do favor salvífico do Senhor?” ou “como ter a certeza da minha
salvação?”. Há pelo menos três fundamentos que nos levam a ter certeza da graça
e da salvação: a eleição Divina, a expiação de Cristo na cruz do Calvário e o
selo do Espírito Santo. Quanto ao primeiro fundamento Paulo escreveu: “Mas
devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter
Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e
fé da verdade” (II Tessalonicenses 2:13); quanto ao segundo fundamento está
escrito em Romanos 5: 8, 9: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”; e a respeito do
terceiro fundamento temos o seguinte: “Mas o que nos confirma convosco em
Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, o qual também nos selou e deu o penhor do
Espírito em nossos corações” (II Coríntios 1: 21,22).
Se Deus nos elegeu (escolheu)
desde o princípio para a salvação, se justificados pelo seu sangue seremos
salvos da ira, e se o Espírito Santo nos selou e deu seu penhor em nossos
corações, então podemos ficar tranquilos nessas promessas: “Retenhamos firmes a
confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu” (Hebreus 10:23).
Alguns versículos parecem
contradizer essa firme convicção de vida eterna:
Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na
fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus
Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. (II Coríntios 13:5);
Se, na verdade, permanecerdes fundados e
firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o
qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo,
estou feito ministro. (Colossenses 1: 23);
Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à
servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha dalguma maneira a
ficar reprovado. (I Coríntios 9: 27).
Contudo, esses versículos denotam
preocupação e não dúvida. Deus nos chamou para a santificação: “Porque não nos
chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (I Tessalonicenses 4:7),
e esta é tanto posicional quanto progressiva. Um crente regenerado não vive na
prática do pecado: “Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é
justo, assim como ele é justo. Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo
peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer
as obras do diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a
sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. Nisto
são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não
pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus” (I João 3: 7-10).
Portanto, como o apóstolo Paulo
não sabia quem eram os eleitos do Senhor na igreja visível, era normal que
colocasse as palavras deste modo para que eles se manifestassem. Igualmente,
aqueles que dizem ser crentes, mas vivem na concupiscência da carne, pecando
constantemente, comunicando-se com as obras infrutuosas das trevas, devem ficar
atentos, pois a ira de Deus permanece sobre eles e dão sinais de que nunca
foram regenerados.
Você tem dúvida se é salvo ou que
goza do favor Divino? Você se preocupa com esse assunto? Se tiver buscado
chegar a essa compreensão pelo uso constante dos meios extraordinários tais
como profecias, êxtase espiritual, revelações, experiências de poder, etc, você
está perdidamente confuso. Busque essa segurança na Palavra de Deus e no
testemunho interno do Espírito Santo: “O mesmo Espírito testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8: 16).
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