Por Gilson Barbosa
Alguns
irmãos ao ouvirem minha resposta de que sou membro de uma igreja de tradição
reformada, perguntam: “Você não crê no Espírito Santo?”. Confesso que essa
pergunta tem me deixado preocupado. Não porque não creio na doutrina do Espírito
Santo, mas por revelar ignorância ou desconhecimento desta doutrina, e até
mesmo orgulho espiritual, da parte dos inquiridores. Crer no Espírito Santo,
para a imensa maioria do povo evangélico, se limita a dois pontos: as línguas
estranhas e os dons espirituais. Outros fatores que se revelam na pergunta são
a intolerância e as disputas denominacionais.
Não
pretendo discutir nesta postagem a contemporaneidade dos dons do Espírito ou das
línguas, mas, informar aos “desavisados” que o Espírito Santo é muito mais do que
se tem pensado a Seu respeito. Para tanto passo a declinar alguns pontos
importantes sobre a pessoa do Espírito Santo. Faço isso em forma de um credo.
CREIO NA PERSONALIDADE
do Espírito Santo
É
importante ressaltar que o Espírito Santo não é uma força impessoal, uma
energia apenas, como sugere as Testemunhas de Jeová. O Espírito Santo é uma
pessoa e possui todas as qualidades inerentes à personalidade. O pronome
pessoal masculino empregado ao Espírito Santo denota que Ele é uma pessoa. Não
obstante a palavra grega pneuma (espírito) ser neutra, Jesus a empregou em João
16.13,14, acompanhada de um pronome masculino, quando poderia ter usado um
pronome neutro.
Quando
falamos na personalidade do Espírito Santo, dizemos que Ele desempenha as
mesmas funções de um indivíduo. Possui intelecto, emoção e vontade, e isto já é
suficiente para provar sua personalidade, pois, se essas qualidades fossem
apenas figuras de linguagem, como dizem alguns, então nós — os seres humanos –
seríamos irreais?
1
- Atributos pessoais do Espírito Santo
no Antigo Testamento
O
Antigo Testamento fala do Espírito Santo “discutindo” ou “contendendo” com a
humanidade por causa da sua maldade (Genesis 6:3); afirma que o Espírito Santo
falou por meio de santos homens de Deus, no passado, tais como Abraão, Moisés,
José, Davi, os profetas, etc (II Pedro 1:21); que Ele deu (ou ensinou) habilidades
artísticas a Bezalel e Aoliabe (Exodo 31:2-6); que agiu com poder dando vitória
ao povo de Deus contra os inimigos, no período teocrático (Juízes 3:10); que o
Espírito Santo habita, reside, dentro do servo fiel e temente a Deus (Sl 51:11);
o Espírito Santo foi entristecido por alguns do seu povo (Isaias 63:6,10); o Espírito
Santo teria uma participação mais efetiva no Novo Testamento (Ezequiel 36:27),
etc...
2
– Atributos pessoais do Espírito Santo
no Novo Testamento.
O
Espírito Santo consola (Atos 9:31), ensina (14:26), guia (Romanos 8:14), se
entristece (Efésios 4:30), comissiona e nomeia ministros (Atos 13:2), intercede
(Romanos 8:26), pode ser tentado (Atos 5:9), fala (Apocalipse 2:7), ordena
(Atos 16:6,7), clama (Gálatas 4:6).
CREIO NA DIVINDADE do
Espírito Santo
1
- Atributos divinos do Espírito Santo no Antigo Testamento
A
presença do Espírito é a presença de Deus (Salmos 139:7-10). Na criação, o Espírito
Santo se movia sobre a face das águas. Ele pode ser chamado de o Espírito
Criador (Genesis 1:2). Na criação do homem (Genesis 1:26). O profeta Isaías
teve uma visão (Isaías 6:8-10) e o apóstolo Paulo afirma que foi o Espírito
Santo quem falou com Ele (Atos 28:25-27). No acordo da Nova Aliança (Jeremias
31:31 confere com Hebreus 10:15,16). Na transmissão de poder aos juízes (Juízes
6:34; 11:29; 14:6). Na mensagem dos profetas (II Cronicas 15:1; 20:14; Ezequiel
2:2; Joel 2:28,29; Zacarias 4:6).
2-
Atributos divinos do Espírito Santo no Novo Testamento
Eternidade
(Hebreus 9:14); onipotência (Lucas 1:35); onisciência (I Coríntios 2:10); é
chamado de Deus, por Pedro (Atos 5:3,4); participou da ressurreição de Cristo
(Romanos 8:11); é nomeado junto com o Pai e o Filho, nas bênçãos (II Coríntios
13:13; Apocalipse 1:4-6). Dizemos que o Espírito Santo é a terceira pessoa da
trindade, em essência. Todos os atributos divinos dirigidos ao Pai e ao Filho,
também são dirigidos ao Espírito Santo.
CREIO NA OBRA do
Espírito Santo
O
que alguns crentes não sabem ou esqueceram é que a principal obra do Espírito Santo
é glorificar a Jesus Cristo para que ficasse ou fique claro aos seus seguidores
quem é Ele: “O Espírito me glorificará, porque receberá do que é meu e vos
anunciará. Tudo o que o Pai tem, pertence a mim. Por isso é que Eu disse que o
Espírito receberá do que é meu e o revelará a vós” (João16:14,15). Nem mesmo o
Espírito busca glória para si, como muitos fazem a Ele. O Espírito Santo não exibe
a si mesmo, pois Jesus disse que Ele testemunharia Dele: “Quando, porém, vier o
Advogado que Eu enviarei para vós da parte do Pai, o Espírito da verdade que
provém do Pai, Ele testemunhará a meu respeito” (João 15:26).
É
o Espírito que convence o mundo do seu pecado, da justiça e do juízo (João 16: 8)
aplicando a regeneração no coração do pecador: “Arrazoou Jesus: ‘Em verdade, em
verdade te asseguro: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar o
reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; mas o que é nasce do Espírito
é espírito”’ (João 3:5, 6). A santificação pessoal, outra obra do Espírito, não
pode ser produzida pela própria pessoa, mas o Espírito Santo é o agente da
santificação (Gálatas 5:16-18).
CREIO NO PODER do
Espírito Santo
Muitos
crentes quando pensam no poder do Espírito o fazem absolutamente pelo influxo
místico ou carismático, para daí vencerem a carne, o mundo e o Diabo. O que me
deixa escandalizado é que o mesmo poder não tem poder para refrear o pecado deles.
Na verdade temos que entender que não se trata do poder pelo poder, mas poder
para testemunhar, influenciar e falar de Cristo aos pecadores (Atos 1: 8; 2: 4,
37-41). Até mesmo a vinda do Espírito no Pentecoste, batizando os discípulos em
línguas, culminou na exaltação da pessoa de Cristo, pregação do Evangelho e
conversão dos pecadores (Atos 2: 22-41) e não num êxtase frenético. O que pode ser
dito é que se busca muito os carismas, mas
pouco o poder do Espírito.
CREIO NO BATISMO no
Espírito Santo
Não
confunda esse batismo com o das línguas, pois quanto a este ultimo, segundo o
próprio apóstolo Paulo já nos seus dias nem todos falariam em línguas estrangeiras:
“Acaso são todos apóstolos? São todos profetas? Ou são todos mestres? Todos tem
o dom realizar milagres? Todos tem o dom de curar? Falam todos em línguas?
Todos interpretam?” (I Coríntios 12: 29, 30). Sabemos que as perguntas de Paulo
são apenas retóricas, pois para todas elas a resposta é sempre uma só: NÃO!
Por representar muito bem o meu pensamento
transcrevo o que a Bíblia de Estudo de Genebra comenta sobre esse ponto: “O pleno ministério do Espírito começou no
Pentecostes, depois da ascensão de Jesus ao céu (Atos 2:1-4). João Batista predisse
que Jesus batizaria no Espírito (Marcos 1:8; João 1:33), como o cumprimento de
uma promessa feita no Antigo Testamento e repetida por Jesus (Jeremias 31:
31-34; Joel 2:28-32; Atos 1:4, 5). O Pentecostes marcou o inicio da era final
da história do mundo, que terminará quando Jesus voltar. No momento em que
nascem de novo, os crentes em Jesus recebem o Espírito, segundo a totalidade do
Novo Testamento (Atos 2:28; Romanos 8:9; I Coríntios 12:13). Todos os dons para
a vida de serviço que aparecem subsequentemente na vida dos cristãos fluem
desse batismo inicial do Espírito, porque por meio desse batismo o pecador está
unido ao Cristo ressurreto”.
CREIO NA TOTALIDADE do Espírito Santo
Agora
pergunto: “mediante tudo o que foi exposto como pode alguém dizer que não creio
no Espirito Santo?”. Dentro da economia da trindade cada Divindade exerce sua
função respeitando os limites um do outro. O papel do Espírito é bem claro nas
escrituras e não pode nem deve ser reduzido ou limitado. Até podemos discutir
sobre a contemporaneidade das línguas ou dos dons, mas aferir a fé cristã dos
outros, por estes dois pontos apenas, é pura ignorância.
Nas coisas essenciais, unidade. Nas não essenciais, liberdade. E em todas as coisas, o amor. Esse deve ser o lema do cristão.
Que
o Senhor nos ajude a tolerarmos em amor, uns aos outros.
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