segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O QUE É TEOLOGIA REFORMADA?

Por Gilson Barbosa

É extremamente relevante que cada cristão compreenda as crenças da sua denominação religiosa. A compreensão, contudo, deve ser a etapa mínima, pois não é bom que o servo de Cristo se satisfaça apenas em saber ou entender aquilo em que crê. Apesar de eu não ter nenhuma estatística em mãos não tenho nenhuma dúvida de que inúmeros irmãos simplesmente não sabem qual teologia (ou que tipo de teologia) sua denominação evangélica está comprometida.  

No ótimo livro Hermenêutica fácil e descomplicada (CPAD) o teólogo Esdras Bentho ao expor as acepções do étimo teologia afirma o seguinte:

O termo teologia a partir do conceito escolástico medieval e das rupturas surgidas por meio das principais controvérsias cristãs tornou-se termo elástico e inclusivo para reconhecer o expoente pragmático de um sistema teológico, combinando o nome do indivíduo ao vocábulo teologia. Assim temos: Teologia Agostiniana, Teologia Arminiana, Teologia Wesleiana, Teologia Paulina, Teologia Joanina, e muitas outras.

O tipo de teologia que desejo que estudem com profundidade poderia ser designada de Teologia Calvinista. Porém, historicamente é conhecida como Teologia Reformada. Em certo sentido ela não foi introduzida por e com Calvino. Como bem escreveu James Montgomery Boice

Os crentes na tradição reformada têm em alta consideração as contribuições específicas como as de Martinho Lutero, Jonh Knox e, particularmente, de João Calvino, mas eles também encontram suas fortes distinções nos gigantes da fé que os antecederam, tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cartas de Paulo e nos ensinamentos de Jesus Cristo.

As quatro tradições teológicas do cristianismo

Parte do entendimento da teologia deve-se as diversas tradições dentro das quais ela é praticada. No desenvolvimento histórico há quatro principais tradições teológicas do cristianismo: a teologia das igrejas ortodoxas orientais, a teologia da Igreja Católica Romana, a Teologia Protestante e a Teologia Liberal. Os teólogos Stanley Grenz e Roger Olson (Iniciação à Teologia, Ed:Vida) faz um resumo histórico sobre a Teologia Reformada nos seguintes termos:

A história da teologia protestante começa com a Reforma, no século XVI. Em 1517, o monge católico alemão Martinho Lutero deu inicio a uma controvérsia ao pregar suas 95 teses – ou pontos de debate – na porta da catedral de Wittenberger. Nas décadas seguintes, desabrochou o terceiro ramo da teologia cristã. Nós a chamamos “protestante” porque protestou contra a ênfase da teologia católica romana à autoridade do papa e dos concílios e contra certas crenças e práticas comuns da Igreja.

Além de Lutero, destacaram-se entre os primeiros teólogos protestantes Ulrico Zuinglio e João Calvino, da Suiça, Thomas Cranmer, da Inglaterra, e Menno Simons, da Holanda. Todos haviam sido católicos romanos, porém se voltaram para o caminho da reflexão protestante. Esses líderes estabeleceram várias tradições dentro do protestantismo. Lutero obviamente fundou o luteranismo, Zuinglio e Calvino foram os pais da ala reformada (principalmente presbiteriana, na Inglaterra e nos Estados Unidos). Cranmer ajudou a estabelecer a teologia da Igreja Anglicana. Simons foi um dos primeiros líderes anabatistas, cujo maior grupo hoje é conhecido como menonitas.

Estes primeiros irmãos protestantes apesar de serem falíveis e suscetíveis a erros, buscaram entender as Escrituras com seriedade e honestidade. Houve tanto divergências quanto concordâncias. Podemos mencionar quatro pensamentos em comum: 1) a rejeição da tradição (os pronunciamentos do papa e concílios) como de igual valor ao do testemunho bíblico; 2) a rejeição da teologia natural como guia para o verdadeiro conhecimento de Deus; 3) a afirmação de que todo o cristão tem o direito de ler e interpretar a Bíblia e 4) a afirmação da natureza contínua da reflexão teológica como esforço cooperativo do povo de Deus (“Reformando e sempre em reforma”). 

A Declaração de Cambridge e os 5 Solas

As crenças que fundamentam a Teologia Reformada são as que seguem abaixo. As mesmas constam no documento denominado de Declaração de Cambridge – Aliança de Evangélicos Confessionais - e estão em forma de teses:

1) Sola Scriptura – “Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação”.

2) Sola Fide – “Reafirmamos que a justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé e somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene o princípio da sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima”.

3) Sola Christus – “Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatoria do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada”.

4) Sola Gratia – “Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada”.

5) Soli Deo Gloria – “Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a autoestima e a autorrealização se tornem opções alternativas ao evangelho”.

Um chamado ao arrependimento e à Reforma

São muitos grupos evangélicos e pessoas que reivindicam uma segunda Reforma. Até mesmo o atual papa (Papa Francisco) tem comentado sobre o tema. O lema “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est” (Igreja Reformada Sempre se Reformando), de autoria do reformado holandês Gisbertus Voetius (1589-1676), não deve ser aplicado a qualquer momento crucial da igreja e ou para estabelecer doutrinas que não estão claras nas escrituras sagradas. A expressão “sempre se reformando” não deve ser interpretada como sendo adaptadas as práticas atuais, tais como: misticismo, novas revelações, crentes gnósticos, neopentecostalismo, pentecostalismo, entre outros. É necessário nos arrependermos e pedirmos perdão ao Senhor, devido ao profundo distanciamento quanto aos fundamentos da Teologia Protestante ou Reformada. Voltar-se à Reforma não tem nada a ver com promover outra Reforma, mas, simplesmente nos apegarmos confiantemente aos próprios fundamentos desta teologia que mudou o pensamento religioso de todos os tempos, trazendo muitos à salvação, para a glória de Deus.

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