terça-feira, 12 de novembro de 2013

O CULTO AO ESPÍRITO SANTO É ORDENADO NA BÍBLIA?

Por Gilson Barbosa

Conforme afirma o Credo de Atanásio (escrito contra os arianos), não devemos confundir as pessoas da Trindade nem dividir Sua substancia, pois uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. São iguais quanto aos atributos, mas não são uma única pessoa. A definição da Trindade é: três pessoas distintas em uma só divindade.

Outro fato importante é que na Trindade não há disputa de poderes, onde um é forçadamente subordinado ao outro. Citando I Coríntios 13:5 podemos dizer que no relacionamento entre si não há na Trindade ação por interesse próprio, não se ufanam, não se exasperam, não ardem em ciúmes, não se portam com soberba.

“Não existe uma hierarquia de poder, glória, ou autoridade na Trindade ontológica. A submissão do Filho ao Pai, por exemplo, é a submissão do Filho à sua própria vontade, porque a vontade divina é uma, mesmo tendo o Pai e o Filho consciência de uma vontade distinta e pessoal. A essência da vontade de Deus é uma.”[1]

Podemos dizer o mesmo do Espírito Santo em relação a Cristo.  Muitos se esquecem de que cada pessoa da Trindade tem um papel distinto e um relacionamento distinto. Na teologia há o termo conhecido como Trindade econômica que distingue seus papeis:

A trindade econômica é a Trindade em relação à história humana. Na redenção da humanidade cada pessoa faz parte de um plano perfeito para salvar o homem. Cada pessoa faz obras distintas para conseguir essa salvação. O Pai planeja a salvação, elege os salvos e envia o Filho, o Filho paga o preço do pecado, compra a salvação pelos eleitos e faz intercessão, e o Espírito aplica a salvação aos eleitos, regenerando-os e santificando-os.[2]


O Concílio de Constantinopla (381 d.C.) proclamou em sua confissão de fé que o Espírito Santo deveria ser reconhecidamente “adorado e glorificado junto com o Pai e o Filho”. O contexto da proclamação foi à controvérsia conhecida como “macedoniana” e ou “pneumatômatos”, pois negavam a divindade do Espírito Santo.

Os macedonianos são chamados de “inimigos do Espírito”, por não admitirem o Espírito como Deus.  A heresia parte de um problema litúrgico. Na doxologia, não admitem dar glória ao Espírito junto com o Pai e o Filho. O Espírito não é gerado como o Filho, mas criado. Para os macedônios “espírito” seria mais uma “propriedade” de Deus que necessariamente uma pessoa divina. Argumentavam que Deus é espírito, porém o Espírito não é Deus.[3]


A questão que trago na postagem não é se o Espírito pode ser adorado, mas, se com base nas escrituras sagradas, Ele deve ser amplamente adorado no ambiente de culto ou mencionado mais do que Cristo. Sobre isso há dois pontos a ser considerado: 1º) a Bíblia não ordena expressamente adoração ao Espírito Santo e 2º) o Espírito Santo exalta a pessoa de Cristo.

Dois pontos importantes
Em primeiro lugar, a Bíblia não ordena expressamente adoração ao Espírito. Ao comentar sobre plano de Deus para Israel o apóstolo Paulo reconhece a sabedoria divina e glorifica ao Senhor: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Romanos 11:36). O apóstolo Paulo encerra sua carta aos romanos (cap. 16) saudando diversos irmãos e após falar sobre o plano de Deus de unir os cristãos judeus e gentios em só corpo, a Igreja, novamente exalta e glorifica a Deus por isso: “Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.”

É verdade que em II Coríntios 3:8 o apóstolo fala sobre a glória do ministério do Espírito Santo, mas a menção visa repudiar a mistura entre Lei e Graça, realizada pelos judaizantes, e acentuar a glória do ministério do evangelho da graça de Deus. O contexto deixa claro isso (v.s. 9-11).

Na Galácia os falsos mestres estavam distorcendo a mensagem do evangelho. Paulo, então, lembra os irmãos que Cristo pagou um alto preço para alcançar um propósito: livrar os pecadores da escravidão do pecado. Se os falsos mestres ministravam motivados por uma intenção egoísta, inclusive no que diz respeito ao proselitismo praticado por eles entre os irmãos dali, a intenção de Paulo era pura e piedosa; por isso ela exalta a Cristo: “Graça e paz da parte de Deus e do nosso Senhor Jesus Cristo [...] ao qual seja dada glória para todo o sempre. Amém.” (Gálatas 1:3, 5).

Não querendo enfadá-los com as mesmas interpretações, mas sugiro que leiam os seguintes textos: Efésios 3:21; Filipenses 4:20; I Timóteo 1:17; II Timóteo 4:18; Hebreus 2:7; 13:21; I Pedro 5:11; II Pedro 3:18; Judas 1:25; Apocalipse 1:6; 4:9, 11; 5:12,13; 11:13; 14:7; 19:1, 7.

Todos os textos bíblicos ordena que tanto o Pai quanto o Filho sejam adorados, mas não faz menção do Espírito Santo. Isso significa que ele não pode ser adorado? Não é bem isso. Ainda que não tenha mandamentos específicos, geralmente aplicamos os princípios (a questão de o Espírito ser essencialmente Deus em seus atributos, por exemplo) na adoração ao Espírito. Mas, falamos acima que cada pessoa na Trindade possui um objetivo e propósito nas suas atividades; e a do Espírito não é glorificar a si próprio, mas a Cristo.

Em segundo lugar, a função do Espírito é exaltar a Cristo. Os irmãos em Corinto queriam saber como identificar se a pessoa que fazia uso dos dons estava realmente falando pelo Espírito. Paulo responde afirmando que o Espírito sempre busca exaltar a Cristo: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o SENHOR, senão pelo Espírito Santo.” (I Coríntios 12:3). Ou seja, o Espírito sempre conduz as pessoas à presença Cristo. Conforme afirmou o pastor Augustus Nicodemus Lopes (O Culto Espiritual, p. 75, Ed: Cultura Cristã):

Se Jesus não for o centro e não receber a glória e a honra que lhe são devidas como Cabeça da Igreja, como o Filho único de Deus e o Senhor de tudo e de todos, então tais coisas não procedem do Espírito Santo; podem proceder do homem ou de espíritos malignos, mas não de Deus.

O Senhor Jesus ao instruir seus discípulos sobre a vinda do Espírito Santo para que estivesse para sempre com o povo de Deus (João 14:16, 17) lhes orientou também sobre o que o Espírito faria: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João 14:26). Em outras palavras o Espírito não traria nada diferente ou inusitado, mas apenas aquilo que Cristo já tinha ensinado aos discípulos.

O Espírito também tem a responsabilidade de não confundir as pessoas, pois seu objetivo é guiar os crentes em toda verdade. Não vejo com bons olhos tanta confusão em torno da pessoa do Espírito se ele nos conduziria às verdades de Deus. O Espírito também não exige nem reivindica glória para si mesmo nem fala de si próprio. Ele não traz confusão, novas revelações, nem contradiz o que Cristo ensinou: “Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” (João 16:13, 14). Receio de que muitos crentes hoje em dias estão passando por cima das orientações de Cristo com respeito à pessoa do Espírito em suas funções.

O Espírito Santo tudo realiza tendo em visto a exaltação de Cristo: “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.” (João 16:7-11).

Apenas o que a Bíblia prescreve
Quais as reais implicações negativas de se adorar o Espírito? Muito provavelmente nenhuma. Mas, corre-se o risco de fazer algo não prescrito pela Bíblia; o que fatalmente gerará confusão doutrinária e mais divisão no Corpo de Cristo. É bom não ir além do que está escrito na Bíblia Sagrada.

Que o Senhor nos ajude a compreender as funções de cada pessoa da Trindade.
Com amor, em Cristo.



[1] Teologia Sistemática de Allan Myat e Franklin Ferreira, Editora Vida Nova.
[2] Teologia Sistemática de Allan Myat e Franklin Ferreira, página 76, Editora Vida Nova.
[3] Apostila Cristologia do Primeiro Concílio de Constantinopla, José de Lima. 
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Um comentário:

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