quinta-feira, 3 de abril de 2014

SIMPLES CONSELHOS AOS PREGADORES


Por Gilson Barbosa

O Reino de Deus é apresentado aos pecadores por meio de simples palavras através da pregação do evangelho. Por isso o pregador deve ser fiel à mensagem proveniente de Deus. A Bíblia contém a mensagem de Deus para o seu povo, mas, do jeito que as coisas andam nos púlpitos receio que os pregadores estejam falando de si mesmos e não da parte do Senhor. Os púlpitos foram invadidos por pessoas despreparadas, marqueteiros, animadores de auditórios, profissionais da pregação, aventureiros. O povo do Senhor é levado ao engodo por esses tipos de pregadores que estão anunciando mensagens provenientes do seu próprio coração. Por outro lado também o povo do Senhor é negligente quando não toma a Bíblia como padrão ao avaliar uma pregação.

Mas, não bastassem às intenções destes tipos de pregadores (claro que há exceções) temos ainda a questão do método homilético utilizado por eles. A grande maioria usa o método textual ou temático para pregar. Os benefícios desses métodos são bem poucos e, francamente, não representam a melhor maneira de expor a mensagem de Deus. Percebemos que em muitas pregações não há simetria, concordância, análise da gramática, cultura ou história. Não há nenhum tipo de preocupação com as perícopes (grupos de versículos uniformes no texto) nem com o contexto. O resultado disso é que textos bíblicos que edificam, consolam, exortam (quando interpretados corretamente) são alegorizados e o seu verdadeiro sentido é perdido. Meu conselho é que os pregadores mudem o método de pregação para o expositivo. Este se preocupa com o verdadeiro sentido da mensagem de Deus contida no texto bíblico e analisa, quase como que palavra por palavra, os versículos contidos num texto – é o que os estudiosos denominam de exame do método gramático-histórico-cultural. A negligencia no uso do método expositivo tem levado a uma espécie de crise da pregação.  

Não somente o tipo de método utilizado pelos pregadores tem servido de combustível para minar o poder da mensagem divina, mas, o descaso com a importância da pregação do evangelho. O pastor Paulo Anglada no seu livro Introdução à Pregação Reformada nos informa o seguinte quadro da pregação pelos púlpitos afora:

A pregação, como forma distinta de comunicação da vontade de Deus revelada na sua Palavra, está em declínio. Em muitas igrejas ela tem sido substituída por um número cada vez maior de atividades, tais como representações, recitação de poemas, jograis, testemunhos, debates, discursos políticos, atividades sociais e administrativas e especialmente pela música, incluindo corais, conjuntos, bandas, quintetos, quartetos, duetos, solos, etc. Cada vez mais tempo tem sido concedido a essas atividades e menos à pregação.

Em muitas igrejas a pregação do evangelho também tem sido substituída pelo “movimento do Espírito” no culto, entre os quais estão as revelações, profecias, adivinhações, sessões de poder, etc. Quando muitos pensam que isso é, de fato, o que Deus quer para sua igreja o que notamos é a improdutividade no testemunho cristão. Cristo disse que se uma árvore não der fruto deve ser cortada e lançada no fogo. Crente sem mudança e sem testemunho de vida é crente que vive a vida espiritual sem o poder da mensagem do evangelho, contida na pregação bíblica. Talvez o problema esteja nos ouvidos moucos da congregação, mas talvez seja a mão do semeador ou o sermão que ele prega.

A função do pregador deve ser simplesmente de lançar a semente do evangelho, nada mais. Sei de eventos evangélicos onde pregadores pagam uma determinada quantia em dinheiro para pregar. Isso é uma vergonha. Seu objetivo se resume a entreter o povo com discursos eloquentes, “poderosos”, e uso hábil da retórica tendo em vista sua própria projeção como pregador no cenário brasileiro ou mundial. Quão diferente a Bíblia retrata o pregador. Ele é apenas aquele que semeia a semente.

Na parábola do semeador o destaque são os tipos de solos e a semente. Conforme a boa observação de Robert Gundry (Panorama do Novo Testamento) o título dado ao texto de Mateus 13:1-23 como “Parábola do Semeador” pode ser um título ilusório, se for erroneamente usado na interpretação. O semeador nem ao menos é identificado na interpretação. O pregador não deve se preocupar com o tipo de semente nem com os tipos de solos. A semente sempre produzirá seus frutos no bom terreno. Não é necessário se “violentar” na busca por resultados na pregação, pois a semente é divina, ela com certeza é muito boa e alcançará resultados.

O bispo John Charles Ryle ao comentar sobre a Parábola do Semeador afirmou que o trabalho do pregador é muito semelhante ao trabalho de um semeador, pois se ele deseja ver bons frutos precisa semear boa semente e não as tradições da igreja ou doutrinas de homens. A questão é que o evangelho tem se tornado puro pragmatismo e muito da responsabilidade disso são os semeadores. O semeador também deve ser diligente e persistente se quer ver os frutos da semeadura. Ocorre que os pregadores de ocasião necessitam ver os resultados num único culto, numa única pregação – disso depende sua agenda. O importante na boa produção do solo não é o semeador, é a semente. Assim também o pregador não deve se considerar o mais importante na pregação. O importante é atingir o coração das pessoas e usar a boa semente. Prossegue dizendo o bispo Ryle que o semeador não pode transmitir vida. Ele pode espalhar a semente que lhe foi confiada; mas não pode ordenar que ela cresça. É um absurdo ouvir pregadores que determinam ao Espírito quando e como Ele deve vir sobre as pessoas na congregação.  Pregadores não podem ordenar que a semente plantada gere vida no coração do pecador, isso é tarefa do Senhor.

Que os pregadores se considerem servos inúteis. Jonas Madureira (no artigo servo inútil) assevera que isso não significa que o Senhor considere inútil o servo inútil, mas isso deve ser considerado pelo próprio servo. Ou seja, se a ordem do Senhor é para que se pregue um evangelho bíblico devemos fazer isso por pura obediência e não na busca de méritos. Jonas Madureira continua dizendo que a consciência da sua inutilidade “é que salva o servo de fazer do serviço um palco para exibir seu ego, suas capacidades, seu brilhantismo, sua rigorosa obediência e farisaísmo. A consciência da inutilidade fixa os olhos do servo numa direção que não pode ser desviada nem para esquerda nem para a direita. Por isso, esse olhar nunca está voltado para a sua obediência ou seu serviço; seu olhar deve repousar em seu Senhor. Tudo o que o servo faz é para o seu Senhor”. O servo é em primeiro lugar inútil para si mesmo, e é para si mesmo que o servo confessa todos os dias essa inutilidade.

Que os pregadores sejam humildes na proclamação do legítimo evangelho. Lembre-se sempre, o semeador não é mais importante do que a semente e os tipos de solos dependem da eficácia da semente e não do manejamento do semeador. É necessário restaurar o verdadeiro sentido do pregador e da pregação. Que o Senhor nos ajude.


No amor de Cristo,

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