Por Gilson Barbosa
Na vida cristã os extremismos devem ser evitados – a não ser nas doutrinas fundamentais, cujo ensinamento e interpretação estejam bem claros na Bíblia Sagrada.
Por exemplo, historicamente no início o Pentecostalismo enfatizava somente o além, a vida vindoura, isso fez com que o Movimento não conseguisse ser um fator de transformação social e cultural na questão da pobreza no Brasil e até mesmo em outros países pobres. O problema é que, nesse sentido, a Igreja nada faz para modificar ou influenciar o mundo em que vivemos. Abandonam-se e negligenciam-se os segmentos sociais tais como as artes, a cultura, a política, a educação, tendo em vista que a “nossa pátria não é aqui”.
Por outro lado, e em visível extremismo, a teologia da prosperidade ensina que os cristãos devem assumir todos os postos sociais. “Tudo é nosso”, diz alguém. Certo pregador da Teologia da Prosperidade disse: “A descendência de Abraão possuirá as cidades de seus inimigos. Todos os que têm fé são filhos de Abraão. Quanto mais inimigos tivermos, melhor será. Tomaremos posse de tudo. Os melhores carros estão nas mãos dos nossos inimigos. Serão de vocês. Há quanto tempo você não vai a uma churrascaria? Há quanto tempo você não vai a um shopping center, não só para ver, mas para fazer compras, para encher o carrinho de mercadoria? É isso que Deus quer para você. O que você deseja possuir? Escreva em seu coração. Deus vai realizar esse desejo. Ele disse a Abraão: ‘Jurei por mim mesmo’ (22.16). Que queremos mais? Traga o seu Isaque. Não ofereça o que não doa em você”. De repente, o pastor indagou: “Quem é inimigo da Universal?” Ele próprio deu a resposta: “É a Rede Globo”. E conclui: “Então, a Globo será nossa”.
A postura do cristão, então, deve ser de equilíbrio. Contudo, a prioridade são as coisas que estão na esfera espiritual, pois, se Jesus não admite que amemos até mesmo um ente querido mais do que a ele (leia Mateus 10.37), imagine colocar o mundo material em primeiro plano? O comentarista William Hendriksen interpreta da seguinte forma esse texto:
Pertencer a Cristo é um privilégio tão inestimável, que nenhuma outra relação pode substituí-lo. E um dever tão imperativo, que nenhuma outra obrigação é mais obrigatória. Ver Atos 5.29. Se a escolha é entre um pai ou Cristo, a vontade do pai, não importa quão ardente seja, deve ser rejeitada; se é entre um filho ou Cristo, que a vontade do filho, não importa quão veemente seja, deve ser sobrepujada. Isso deve ser feito devido à predominância do amor por Cristo. Os que rejeitam essa suprema lealdade a Jesus “não são dignos” dele, ou seja, não merecem pertencer-lhe e ser honrados por ele.
Compreender isso é de valor inestimável para o cristão, discípulo de Cristo. Não devemos nem negar nem superestimar o aspecto material da realidade existencial, mas compreendê-la e aceitá-la normalmente. Os servos de Deus vivem no mesmo mundo onde vivem os ímpios, os que não temem ao Senhor e enfrentam as mesmas adversidades que eles enfrentam: fome, peste, terremotos, desempregos, etc. Mas como a vida não é somente de adversidade, os salvos em Cristo, usufruem, também, de todo o bem que a graça comum de Deus dispensa a toda a humanidade, pois é uma realidade que Ele “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.45).
Numas dessas tristes realidades existenciais está a pobreza. Quando os discípulos ficaram indignados com a atitude de uma mulher que derramou um vaso de alabastro com nardo puro sobre a cabeça de Jesus, dizendo que este poderia ser vendido e o dinheiro revertido em benefício de pessoas pobres, o Senhor deixou claro a realidade, existência e permanência dessa classe social. Portanto, Jesus diz, que se cuidar dos pobres é um mandamento de Deus, ele não tem prioridade maior que Jesus (Mt 26.6-13). Apesar da realidade existencial da pobreza encontrar sua origem quando o pecado entrou no mundo, a pobreza não é o pecado. O pecado é algo, a pobreza é outra coisa. O fato de o pecado entrar no mundo não significa que tudo o que há no mundo é ruim, sofrível, adverso, pois, a realidade atesta o contrário: temos coisas boas no mundo e podemos desfrutar delas com sabedoria cristã.
Como informa o Dicionário Bíblico Wycliffe “em geral, a pobreza resultava das invasões e das guerras, das secas e colheitas insuficientes, da preguiça ou da escravidão”. Se crermos que a pobreza é do Diabo então já não há responsabilidade humana na questão do trabalhar profissionalmente para ter uma vida tranquila e sossegada, pois bastaria expulsar o “demônio da pobreza” e tudo se resolveria. Sabemos que não é assim. Outros crentes se tornaram preguiçosos por causa desse pensamento e o trabalho é uma espécie de maldição. Os pobres que existem no seio da igreja, são como teste e desafio aos cristãos ricos e abastados financeiramente, membros da mesma igreja.
Entre as épocas sagradas em Israel estava o Ano do Jubileu. Este era o “50º ano que vinha após sete anos sabáticos, era para proclamar liberdade àqueles que tinham se tornado escravos por causa de dívida e para devolver as terras aos seus antigos donos” (Lv 25.8-12 – BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA). Agindo assim os israelitas desconcentraria o poder da riqueza nas mãos de poucos, e contribuiria para que a pobreza não progredisse ou proliferasse. A des-contribuição da Teologia da Prosperidade é evidente no fato de que ela leva a pessoa próspera a se tornar orgulhosa, individualista, presunçosa e merecedora de “tal bênção”.
Em Jesus temos a verdadeira prosperidade, mas não se tratam de riqueza, saúde, fama, bem-estar, conforto, etc. Certa vez Jesus censurou a atitude de um homem materialmente próspero e concluiu que o mais importante é ser rico para com Deus (Lc 12.13-21). Caso o cristão venha possuir alguma riqueza ou certo tipo de prosperidade deve levar em conta a Soberania de Deus, pois Ele é Senhor de tudo e onisciente. Isso significa dizer que Deus faz o que Ele quer, quando quer e se quiser. Desconsiderar essa realidade Divina é viver uma vida cristã decepcionante, medíocre e fútil. Cristo e somente Ele é suficiente pra nós!
Em Cristo,
MUITO BOM !
ResponderExcluirCaro amigo Leonardo,
ResponderExcluirSou grato por acessar esse blog. Deus continue o abençoando grandemente.
Grande abraço,
Prezado Pb Gilson, parabéns pelo belo texto.
ResponderExcluirTema extremamente importante, neste tempo em que muitos tem transformado o Senhor dos Senhores em um tipo de gênio da lâmpada, onde é só esfregar e ordenar, declarar, profetizar,determinar, que ele sai correndo para realizar.
Mas, graças a Deus pela sua vida e de muitos outros que se mantém firmes na simplicidade e veracidade do Evangelho de Jesus Cristo. Textos assim são um oasis em meio a este deserto onde falta mensagens verdadeiramente fundamentadas na Palavra de Deus.
Um prazer participar do seu blog.
A Paz!!!
Maravilhoso estudo!
ResponderExcluirOs artigos encontrados no seu blog, no site da Editora Fiel e no site do projeto Os Puritanos são para mim, verdadeiras fontes de edificação espiritual.
Pr. Rosivaldo Sales
Pr Rosivaldo,
ResponderExcluirPreciso dizer que o irmão tem sido um referencial para minha vida. Sou muito edificado pelos seus conselhos e conhecimento teológico. Minha oração é que Deus continue usando seu conhecimento para instruir os que se dizem cristãos, mas vivem na marginalidade do estudo teológico e doutrinário.
Grande abraço,
Querida irmã Kátia,
ResponderExcluirAcredito que somente uma fidelidade as Escrituras nos livrará das teologias inúteis e devastadoras. No entanto, sabemos que para extrairmos o puro ensino da Bíblia Sagrada é necessário usarmos ferramentas, como por exemplo, a Hermenêutica Sagrada. Penso que é aqui que a Igreja do Senhor tem sido omissa. Precisamos prosseguir conscientizando, mesmo que a conta gotas, nossos irmãos. Sabemos que a tarefa é árdua, mas é gratificante também.
Grande abraço e obrigado por suas palavras.
Em Cristo,
Deus te abençoe, meu amado compañeiro.Muito sigo sempre seu bloq e me edifica grandemente.
Excluirrealmente isto é o que a biblia ensina sobre a verdadera prosperidade.
Abraços.
Pr Marcio,
ResponderExcluirÉ uma grande satisfação tê-lo como amigo e leitor deste blog. A Bíblia é suficiente para nós, não precisamos de subterfúgios, modismos ou invenções. Que o Senhor continue o abençoando grandemente.
Saudações à família.
Em Cristo,