quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PODEMOS SER REGENERADO PELO BATISMO EM ÁGUAS?

Por Gilson Barbosa
A Igreja Católica Romana crê que uma pessoa se torna nova criatura por meio do batismo e ensina que ele é necessário para a salvação. O batismo é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Os outros são: crisma, eucaristia, penitencia, extrema-unção e o matrimônio. Segue abaixo algumas citações católicas a respeito do batismo regeneracional:
“O batismo não somente purifica de todos os pecados, como também faz do neófito ‘uma nova criatura’ (2 Co 5:17), um filho adotivo de Deus, que se tornou ‘participante da natureza divina (2 Pe 1:4), membro de Cristo e co-herdeiro com ele (Rm 8:17), templo do Espírito Santo”.
“Pelo batismo todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado”.
“A Igreja não conhece outro meio senão o batismo para garantir a entrada na Bem-aventurança”.
Estas citações estão em desacordo com as Escrituras Sagradas. Em primeiro lugar, a Bíblia diz que devemos crer em Cristo e recebe-lo como nosso Salvador pessoal, para sermos filhos de Deus (Jo 1.12) diz: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome”. Em segundo lugar, o batismo deve ser ministrado depois da salvação e não como condição para a salvação: “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas” (At 2.41; At 18.8). Em terceiro lugar, o batismo não é prioridade, mas uma consequência da fé em Cristo: “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar” (I Co 1.17).
A regeneração batismal é uma discussão acirrada entre protestantes e católicos romanos, e, é comum o catolicismo romano, por meio dos seus estudiosos, argumentarem que em Tito 3.5 encontramos a base para a defesa do batismo regeneracional. O texto bíblico diz:
“não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”
A suposição feita é que esta passagem fala de forma clara e uniforme sobre o fiel ter sido ou ser regenerado pela água do batismo. Para os católicos é inadmissível a regeneração fora do contexto do ritual do batismo. Para eles os textos bíblicos que demonstram ser a regeneração um ato de Deus tornam-se irrelevante. A palavra regeneração na língua grega é palingenesia e em Tito 3.5 refere-se ao início da nova vida do cristão. Devido a isso os teólogos católicos associam a expressão grega com a água do batismo, por causa do “lavar regenerador”. No entanto, precisamos descobrir se esse “lavar regenerador”, no texto bíblico pode ser interpretado como uma lavagem de água e se cabe outra interpretação. Um dos argumentos (do catolicismo romano) favoráveis ao entendimento católico é que todos os pais da Igreja acreditavam na regeneração batismal. Por exemplo, Pelágio entendia que a regeneração não significava o nascimento de uma nova natureza, mas o perdão dos pecados no batismo.
Entretanto, defendo a ideia de que nem tudo o que os chamados “pais da Igreja” ensinaram estão de acordo com a ortodoxia bíblica e doutrinária, e que, portanto temos de ser “bereanos”, ou seja, devemos examinar os diversos ensinamentos para ver se tudo é assim mesmo.  Entendo também que o texto de Tito 3.5 não fala da regeneração batismal, e que interpretar diferente é forçar o texto na tentativa de fazê-lo dizer o que de fato não diz. Antes de comentarmos sobre Tito 3.5 é importante conceituar o termo regeneração.
Segundo James I. Packer a regeneração ou o novo nascimento:
“é uma nova criação interior da natureza humana caída, mediante a ação soberana graciosa do Espírito Santo (Jo 3.5-8). A Bíblia concebe a salvação como a renovação redentora do homem, com base em um relacionamento restaurado com Deus e Cristo, e apresenta-a como algo que envolve ‘uma transformação radical e completa operada na alma (Rm 12.2; Ef 4.23) por Deus, o Espírito Santo (Tt 3.5; Ef 4.24), em virtude da  qual nos tornamos novos homens (Ef 4.24; Cl 3.10), já não conformados com este mundo (Rm 12.2; Ef 4.22; Cl 3.9), mas no conhecimento e na santidade da verdade, criados segundo a imagem de Deus (Ef 4.24; Cl 3.10; Rm 12.2)”’.[1]
O que fica claro em Tito 3.5 é o seguinte:
Primeiro, as obras são importantes, mas não produzem a salvação: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito”. Russel Champlin afirma que “as boas obras, que parecem ser tão importantes para os homens, só são legítimas quando verdadeiramente produzidas pelo Espírito de Deus, para que sejam aceitáveis pelo Senhor”.[2] A salvação do ser humano é pela graça de Deus e não por obras humanas: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (II Tm 1.9). Porém, não depreciamos e nem negamos que o crente salvo em Cristo pode demonstrar que vive essencialmente o evangelho quando pratica boas obras como resultado da salvação em Cristo: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Nisso o apóstolo Paulo concorda com Tiago (2.17): “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma”.   
Segundo, Deus nos salvou devido a sua infinita misericórdia: “... mas segundo a sua misericórdia”. A palavra “misericórdia” no Novo Testamento é sinônima de graça. Todos, ou senão quase todos os crentes salvos sabem que “graça” significa “favor imerecido”. Se a salvação é imerecida, nenhum elemento que contenha potencialidade salvadora, além de Cristo, deve ter extrema importância em si mesmo. Caso contrário a salvação se torna banalizada, extremamente fácil e subjetiva: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8).
Terceiro, o meio utilizado por Deus para a salvação, em Tito 3.5, é a lavagem da regeneração e renovação do Espírito: “nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. O batismo não é listado como uma atividade paralela, já que a “lavagem” não é dada como uma função separada do Espírito Santo.  A lavagem da regeneração e da renovação é produzida pelo Espírito Santo. Esta passagem não está falando de água, ou do batismo físico. Ainda que haja uma lembrança do batismo em águas, tal linguagem é usada para referir-se ao Espírito Santo. Em outras palavras, o texto bíblico está afirmando que não é por lavagens ou rituais de homens que a salvação é encontrada, mas pela misericórdia e graça de nosso Senhor, por meio do Espírito Santo.
Portanto, podemos concluir que a nossa regeneração e salvação é trazida como uma obra de Deus, e não em correspondência às nossas ações. O texto não permite ser interpretado dessa forma. Além disso, já que não há esforço de cooperação, ou rituais de homens neste contexto, então a responsabilidade da salvação e sua conclusão baseia-se única e completamente na obra de Deus. Sua honra e integridade são evidenciadas. Não há espaço para a exaltação e nem arrogância humanas, mas o funcionamento da soberania de Deus. Seria muito desconfortável e incomodo, para nós, ter a convicção da salvação por meio de algum ritual, mas podemos descansar seguros de que em Deus a nossa salvação está garantida. Acreditar como os católicos romanos é estar iludido.
Sola Gratia.


[1] ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Ed: Vida Nova, p. 255, 256.
[2] CHAMPLIM, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Ed: Candeia, Vol 5, p. 438.
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