sábado, 28 de janeiro de 2012

AS BÊNÇÃOS DE ISRAEL E O QUE CABE À IGREJA (Subsidio EBD)


Por Gilson Barbosa

Israel se constitui motivo de controvérsias no entendimento teológico e doutrinário dos grupos denominacionais evangélicos. A teologia oriunda da Reforma não faz distinção entre Israel e a Igreja, diferenciando-se dos chamados dispensacionalistas. Para aqueles a Igreja é o Novo Israel. O autor Hermes C. Fernandes (A formação do Novo Israel) escreve:

Podemos considerar a Igreja a continuação do verdadeiro Israel. Os santos que viveram sob a Antiga Aliança e os que viveram, vivem ou viverão sob a Nova Aliança formam um só povo. Dizer que Deus possui dois povos distintos na Terra, é, no mínimo uma incoerência.

Noutro aspecto temos os pregadores do Evangelho da Prosperidade que se apegam ferrenhamente as condições pactuais de Deus com Israel na esfera material e terrena. Intencionalmente ou não, deixam de observar que até mesmo na aliança que Deus fez como o povo de Israel, acerca de dar-lhes a terra de Canaã, haviam condições a serem obedecidas sob pena de alguns não herdarem a terra. Ou seja, a condição da aliança era a obediência. Deus colocaria Israel na terra prometida, mas, os membros individuais da nação poderiam perder seus direitos à aliança pela desobediência.

Acerca desse assunto temos o episódio bíblico, em Números 13.25 – 14.45, onde o relatório dos espias, que retornaram de espiar a terra de Canaã, fora recebido com incredulidade pelo povo. Os israelitas apóstatas murmuraram e intencionaram lapidar Moisés; segundo a decisão Divina morreriam no deserto (Nm 14.1-4, 10, 29 – 38). Embora seja difícil entender, esse é um tipo de promessa simultaneamente condicional e incondicional. Os incrédulos e murmuradores se revelaram verdadeiros apóstatas, por isso perderam (?) seus direitos a essa promessa por causa da desobediência. Os que permaneceriam fiéis ao pacto e obedeceriam ao Senhor, por crerem na promessa, possuiriam a terra por herança (vv 24, 30, 38).

Em contraste, o pacto com Abraão foi incondicional: “Ora disse Jeová a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai para a terra que te mostrarei; farei de ti uma grande nação, e te abençoarei e engrandecerei o teu nome. Sê tu uma bênção: abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei aquele que te amaldiçoar; por meio de ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:1-3 – grifo meu). A primeira clausula do acordo que Deus fez com Abraão é que seria oriundo dele uma grande nação. A segunda cláusula os judeus ignoraram. Citando ainda Hermes Fernandes, Israel não entendera o propósito de ser um canal de bênçãos a todas as nações:

Achavam-se os detentores das Bênçãos Abraâmicas, e não se dispunham a abrir mão desse monopólio. Eles não haviam entendido que o propósito de Deus não era fazer deles uma cisterna, e sim um canal de bênçãos para todas as nações.

Na segunda cláusula da aliança abraâmica está compreendida que Jesus seria o abençoador destas famílias - segundo passagem cruzada com Gálatas 3.16: “Ora a Abraão foram feitas as promessas, e à sua semente. Não diz: E às sementes, como falando de muitos; mas, como de um: E à tua semente, a qual é Cristo”. Ou seja, Cristo é a fonte das bênçãos, nós somos os beneficiários, conforme comprova Gálatas 3.29: “Mas se vós sois de Cristo, então sois semente de Abraão, herdeiros segundo a promessa”. No entanto, para que a primeira cláusula (“farei de ti uma grande nação”) pudesse ser desenvolvida havia necessidades terrenas e materiais, tais como a provisão Divina e gratuita da alimentação, a derrota física dos inimigos de Israel, a certeza geradora de confiança comprovada pelas inúmeras promessas de prosperidade ao povo.  
  
Nas bênçãos Divinas prometidas a Abraão está a unificação salvífica entre judeus e gentios, conforme comprova o apóstolo Paulo quando diz aos efésios “que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do Evangelho” (Ef 3:6). A Bíblia de Estudo de Genebra anota neste versículo:

Embora o Antigo Testamento ofereça vislumbres ocasionais de uma raça unificada, é somente à luz do sacrifício de Cristo que o plano de Deus se torna claro: em um único e grandioso ato, Deus removeu a inimizade entre ele mesmo e a humanidade.

A bênção prometida a todas as famílias da terra, por meio de Abraão, é espiritual e não material ou terrena – como querem os pregadores da prosperidade: é a paz, a harmonia, o livramento da culpa do pecado, a salvação, a vida eterna. Em Efésios 2.11 – 14, o apóstolo informa que pela cruz de Cristo gentios e judeus são unidos:

Por isso lembrai-vos que outrora vós, gentios em carne, que sois chamados incircuncisão pelo que é chamado circuncisão em carne, feita por mãos, estáveis naquele tempo sem Cristo, alienados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus vós que antes estáveis longe, vos aproximastes pelo sangue de Cristo. Pois ele é a nossa paz, ele que dos dois fez um e derrubou o muro da separação, a inimizade.

A contradição da teologia da prosperidade é gritante! Somente pessoas incautas, que não priorizam o estudo bíblico e teológico não percebem isso. Jesus ensinando sobre a questão de renunciarmos nosso “eu” ou abrirmos mão de alguns privilégios que o “mundo” oferece, para “ganharmos” a vida eterna, disse: “Que aproveita a um homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Que daria um homem em troca da sua vida?” (Mc 8:36, 37). O texto de Marcos 8.34-38 trata sobre as exigências do discipulado e seguir a Jesus é estar num relacionamento pessoal e íntimo com ele. Este, não implica em riquezas e isenção ou anulação de sofrimentos, mas em descobrirmos, por meio de Cristo, que o caminho do discipulado requer “autonegação”. O autor Dewey Mulholland (Comentário expositivo sobre Marcos – Série Cultura Bíblica) escreve:

Seguir a Jesus requer “autonegação”. Isso envolve: primeiro, mudar o centro de gravidade da visão concentrada no “eu” para a completa adesão à vontade de Deus; segundo, uma vontade contínua de dizer “não” a si mesmo a fim de dizer “sim” para Deus; e, em terceiro lugar, uma denúncia radical a toda auto- idolatria. Em oposição à auto-afirmação, a autonegação inclui também o abrir mão das prerrogativas de “direitos humanos” (cf. 1 Co 9.12, 15).

Pergunto: Os pregadores e os adeptos da teologia da prosperidade estão dispostos a mudarem o centro da gravidade concentrada no seu “eu”? Estão prontos a dizerem “não” a si mesmo? Teriam coragem de abrirem mão das prerrogativas de “direitos humanos”? Pronto, falei! Está feito o desafio. Duvido que façam isso, pois são como sanguessugas: vivem de sugar algo de alguém (no caso deles, as rendas e riquezas dos ricos, e o suado dinheiro dos crentes pobres). Bem escreveu o sábio: “A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três coisas que nunca se fartam; sim, quatro que nunca dizem: Basta!” (Pv 30.15). Nunca estão satisfeitos. É necessário sempre criar algo, uma necessidade, uma justificativa, para extorquir financeiramente a Igreja de Deus.

Na verdade, a “pregação” dos evangélicos da prosperidade é essencialmente utilitarista, ou seja, se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Em certo sentido, o próprio conceito a respeito de Deus não deixa de ser também utilitarista, pois o que Ele quer é ver seus filhos felizes - resultado comprovado pelas aquisições de carrões de marca, mansões, saúde perfeita, roupas caríssimas, jatinhos, almoços em restaurantes caros, etc. Para toda essa discrepância cristã busca-se uma interpretação bíblica capaz de justificar a sede por uma vida, que no final não passa de egoísmo pessoal, busca de poder terreno e sede de prazer material. Alguém poderia afirmar que todos buscam estas coisas. O próprio pastor Silas Malafaia tem deixado bem claro que os que “criticam” seu procedimento teológico na questão financeira são hipócritas.

Há três erros básicos nesta afirmação (de que todos querem as riquezas, a fama, o status, etc). Primeiro, a generalização, pois, é muita presunção humana dizer que “todos” buscam riquezas, fama, poder e bem-estar. O problema está na categorização das riquezas e do bem-estar pessoal, pois, no caso deles, são frutos de uma busca desenfreada e ambição doentia. O segundo erro, está na busca de respaldo bíblico para sustentar a ideia de que todos procuram aquelas coisas; pois, principalmente o Novo Testamento não aplica às riquezas terrenas a possibilidade de ser uma fonte de relacionamento positivo diante de Deus. O terceiro erro é que a afirmação produz uma teologia intencionalmente defensável para substanciar uma doutrina estranha e arbitrária ao cristianismo.

O CARÁTER E OS TIPOS DE PROMESSAS DIVINAS


Infelizmente, no pentecostalismo quando um crente afirma que tem promessa de Deus para sua vida está se referindo ao fato de se tornar um pregador itinerante, um pastor integral, um (a) cantor (a) de sucesso – de preferência com agenda anual, despesas pagas e muitas vendas de CDs ou DVDs. Nada mais supérfluo! Quase sempre tem a ver com finanças. Abaixo cito o pastor Geremias do Couto, onde afirma o seguinte sobre o caráter das promessas de Deus:

- Elas são um ato da sua vontade: Devemos reconhecer que o plano de Deus para a humanidade vai muito além de nossas expectativas. “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55:8,9). A soberania de Deus há de prevalecer sempre.  

- Existem classes de promessas de Deus: algumas são incondicionais, tais como a vinda do Messias (Gl 4.4), a volta de Cristo (II Pe 3.4), o julgamento dos pecadores impenitentes (At 17.30,31), o triunfo da igreja sobre os poderes malignos (Mt 16.18). Outras são condicionais ao ser humano – principalmente na questão da obediência (tais quais as condições dos termos pactuais entre Deus e os israelitas).

- As promessas de Deus independem das circunstâncias: A realização das promessas de Deus não está sujeita as circunstâncias e nem limitadas pelas intervenções contrárias, seja do homem, do próprio Diabo, no intuito de impedir a ação de Deus (Is 43.13).

Ainda, as promessas de Deus podem ser gerais, como no caso a promessa de salvação. Podem ser promessas individuais, mas, não deve ser entendida no sentido carismático onde um “profeta” no culto revela (adivinha?) uma pessoa e passa a “profetizar” bênçãos na sua vida. Ela pode ser mais bem categorizada como promessas gerais, pois Deus não falará conosco no mesmo sentido como a Abraão, Noé, Ana e muitos outros. Existem as promessas específicas à Israel. E, existem promessas específicas à Igreja. Ainda que haja verdade nessas distinções de promessas, penso ser melhor entendermos como uma única promessa geral, distinguindo apenas suas implicações.

Por que os pregadores da prosperidade não ensinam sobre as promessas de Deus e sua soberania? “Pois o Senhor dos exércitos o determinou, e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar atrás?” Is 14:27; sobre a promessa da salvação? “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” Gn 3:15; sobre a promessa da paz interior? “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” Jo14:27; sobre a promessa da verdadeira prosperidade? “Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” Mt 6:33; sobre a promessa de um lar feliz? “para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor, com juramento, prometeu dar a vossos pais, enquanto o céu cobrir a terra” Dt 11:21; sobre a promessa de uma velhice feliz e frutífera? “Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes” Sl 92:14; sobre a promessa de segurança num mundo inseguro? “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará” Sl 91:1; sobre a promessa da segunda vinda de Cristo? “os quais lhes disseram: Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” At 1:11; sobre a promessa de nossa entrada no céu? “Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo” Fp 3:20.

As bênçãos de Deus para este mundo perdido e carente de salvação, com certeza não virá por meio da pregação do Evangelho da Prosperidade, pois, estes confundem o transitório com o eterno, o material com o espiritual. Que os crentes trabalhem, estudem, sejam honestos nos negócios, e, se alcançarmos alguma prosperidade material,  a Deus seja a glória!

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo” Ef 1:3

Em Cristo,

Compartilhar:
←  Anterior Proxima  → Inicio

3 comentários:

  1. Parabéns Pb Gilson. Deus continue te usando para esclarecer as verdades Bíblicas que muitos não querem ver. Deus o abençoe.

    ResponderExcluir
  2. Irmã Wania,

    Obrigado por acessar esse blog e pelo comentário.
    Que Deus continue o abençoando.

    Em Cristo,

    ResponderExcluir
  3. OLA IRMÃO GILSON, SEMPRE COM CLAREZA DOS QUE TEM A MENTE DE CRISTO, QUEREMOS PROSPERIDADE ESPIRITUAL E O DEMAIS 'ELE' FARA. ABRAÇOS

    ResponderExcluir