Por J.P.Moreland
Tradução Elvis Brassaroto Aleixo
Pode ser de grande utilidade saber distinguir as vertentes da apologética. O apologista Ron Nash ensaia esta distinção nos seguintes termos: apologética negativa e apologética positiva. Não devemos interpretar estes termos como possuidores de significados daquilo que seria aprovável ou reprovável. Os termos negativo e positivo aludem aqui tão-somente a duas abordagens distintas da apologética.
Segundo sua concepção do assunto, na apologética negativa, o objetivo principal é produzir respostas aos inúmeros desafios da fé religiosa, ou seja, esta vertente apologética visa remover os obstáculos enfrentados pela convicção da nossa crença. Nesta abordagem estratégica, o apologista recebeu argumentos ofensivos à sua convicção religiosa e, por conseguinte, expõe argumentos defensivos.
Na apologética positiva, o apologista tem a iniciativa e apresenta argumentos contundentes que amparam sua convicção religiosa e, conseqüentemente (às vezes, até involuntariamente), se opõe às demais convicções de fé. Nesta abordagem estratégica, o apologista trabalha demonstrando evidências que comprovam a sua crença e, ao contrário da abordagem negativa, não depende de um ponto doutrinário preestabelecido para iniciar sua tarefa. Observamos, portanto, duas atitudes comportamentais distintas, embora convergentes ao mesmo objetivo.
Estas duas abordagens são amparadas por quatro razões que justificam a essencial ocupação da verdadeira comunidade cristã com a disciplina “apologética”. Vejamos quais são elas:
Primeira razão: a Bíblia nos ordena a defendermos a nossa fé e nos apresenta vários exemplos de como esta nobre tarefa pode ser realizada. Os profetas do Antigo Testamento recorreram com freqüência às evidências históricas e proféticas quando argumentavam diante das outras nações. No Novo Testamento, Jesus autenticou suas próprias credenciais fazendo que as pessoas considerassem e reconhecessem suas obras. Cristo respondeu com evidências às perguntas honestas que lhe foram dirigidas, como pode ser visto em seu diálogo com Tomé (V. Jo 20.26-28). Em Atos, de igual forma, Paulo argumentou com os incrédulos demonstrando as evidências do evangelho ao referir-se constantemente aos fatos que permearam a vida, morte e ressurreição de Jesus (V. 1Co 15.3-8). Judas 3 e 1Pedro 3.15 nos ordena explicitamente que devemos defender a fé dando uma resposta racional aos que a questionam.
Segunda razão: a apologética pode ajudar a remover os obstáculos da fé e, assim, ajudar os incrédulos a abraçarem o evangelho. Certamente que nesta atividade o próprio Espírito Santo está envolvido, nos ajudando a empregar tais evidências para o convencimento da proclamação do evangelho, atraindo, desta forma, muitas almas para Cristo.
Terceira razão: a apologética contribui para o fortalecimento dos crentes de pelo menos dois modos. Em primeiro lugar, lhes dá confiança de que a fé deles é verdadeira e razoável, promovendo, assim, um encorajamento para uma vida de fé sempre em busca da compreensão. Em segundo lugar, a apologética pode atuar até mesmo em algumas estruturas seculares que envolvem nossas próprias vidas, nos auxiliando a enfrentar as diversas indagações a que tais estruturas nos submetem, e também nos libertando para uma cosmovisão compatível com o cristianismo.
Quarta razão: a apologética pode contribuir imensamente para a construção de uma cultura saudável. Quando promovemos nossa fé, fundamentados na verdade e na razão, contribuímos para uma percepção cultural capaz de reconhecer que as nossas atitudes moral e religiosa não são meras questões particulares, mas apropriadas em outras áreas também. Assim, conseguimos remover do âmbito privado e de opiniões pessoais as questões de dimensões religiosas, transportando-as ao âmbito público da discussão racional, o que irá beneficiar a própria sociedade de um modo geral.
Desta forma, a execução da apologética, seja em sua abordagem negativa ou positiva, conforme classificou Ron Nash, acarretará bens inefáveis à propagação do evangelho em nosso mundo contemporâneo.
0 comentários:
Postar um comentário