Por Gilson Barbosa
Se por um lado não estamos sujeitos a lei judaica do Antigo Testamento, por outro não significa que o cristianismo não tenha regras, princípios, ordem. A proclamação sobre o reino de Deus demanda e exige uma conduta conforme as máximas cristológicas. Nosso Senhor Jesus não se importava apenas com simples e pura pregação do Reino de Deus (Mc 1.14), mas, uma vez inserido nesse reino, como os seus súditos deveriam se comportar.
O escritor Marcos (Mc 1.15) diz que “depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho”. Este era o tempo onde às promessas redentoras de Deus começaria a se cumprir nos corações e nas vidas das pessoas como nunca antes. O apóstolo Paulo também falou desse tempo em Gálatas 4.4,5: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. A expressão “tempo” em Marcos 1.15 é kairóse tem o sentido de oportunidade ou tempo apropriado. Este era o tempo proporcionado por Deus para que as pessoas se arrependessem dos seus pecados e recebessem o evangelho de seu reino.
O reino de Deus significa “o seu domínio no coração e nas vidas das pessoas bem como na sociedade em que vivemos”. Seria bem diferente uma sociedade onde Deus governasse ou os seus princípios fossem válidos e praticados. Certamente não haveria adultérios, assassinatos, jovens viciados em entorpecentes, pessoas entorpecidas pelas jogatinas, homens e mulheres não seriam vítimas do alcoolismo e as pessoas se relacionariam muito melhor. Porém, o mundo que se apresenta hoje tão caótico é resultado de um mundo sem ética, pudor e regras.
A mensagem do reino de Deus
Esta, não é uma mensagem controvertida e para pessoas fracas que não possuem alto estima. O filósofo Friederich Nietzsche, por exemplo, transformou a biologia de Charles Darwin em filosofia. O historiador Will Duran disse a respeito dele: “Nietzsche era filho de Darwin [...] Se a vida é uma luta pela existência, na qual os mais capazes sobrevivem, então a luta é a virtude máxima, e a fraqueza o único defeito. Bom é aquilo que sobrevive, que vence; mau é aquilo que fracassa – assim pensava Nietzsche”. Logo, para Nietzsche, a moralidade cristã, exaltando a humildade, a misericórdia, o altruísmo, o amor, eram na verdade fraquezas, que iam de encontro a verdadeira lei da vida, isto é, a evolução da espécie pela sobrevivência do mais apto.
Como diz o pastor Geremias do Couto no Sermão do Monte, tido por muitos como impossíveis de ser vivido em nossos dias atuais, “o Senhor descortinou ao núcleo apostólico, as colunas que sustentavam o modelo trazido pelo reino de Deus, isto é, a sua ética [...] Jesus firmou os pressupostos que se tornariam a base do ensino desenvolvido nas epístolas e observado pela igreja apostólica.
Diferentemente do que apregoava o filósofo Friederich Nietzsche os critérios para sermos súditos do reino de Deus são aqueles esposados por Jesus no seu Sermão e não é sinal de fraqueza, de forma alguma.
“O domínio das trevas”
Se a humanidade não se subjugar ao reinado de Deus, mesmo que indiretamente, estarão sendo subjugados pelo domínio de Satanás. Paulo escreveu aos colossenses (1.14): “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”. Apesar de ter poder limitado existe uma esfera jurisdicial onde Satanás age. Fica claro que ele exerce também, certo tipo de domínio sobre as vidas, corações, atitudes e ações das pessoas que não são regeneradas por Cristo.
A humanidade sem Deus encontra-se impotente por causa do pecado e aprisionada dentro da esfera e domínio de Satanás: “Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência” Ef 2.2. Os comentaristas bíblicos discutem se a expressão “ar” deve ser tomado no sentido literal ou figurado, contudo, são unânimes em afirmar que Satanás (o espírito que opera) opera por meio dos seus agentes, seus demônios, agindo em certas pessoas, que Paulo denomina, conforme linguagem semítica, de “filhos da desobediência”.
Temos presenciado esse domínio de Satanás em nosso Brasil, infelizmente. Exemplifico no campo político o nosso legislativo e judiciário. As leis atuais estão comprometidas com o secularismo, relativismo e pluralismo. Aborto, homossexualismo, promiscuidades, pedofilia, são alguns temas que paradoxalmente e contraditoriamente tem sido implicitamente admitido devido a frouxidão das nossas leis e da permissividade dos nossos juízes. Como Igreja de Cristo, precisamos orar pelos nossos magistrados a fim de que aprovem leis justas e moralmente sadia – preservando a família.
Os “mandamentos” do reino
O primeiro passo para a demonstração damaneira como vive um súdito desse reino é a regeneração em Cristo – o processo do novo nascimento. Ninguém é capaz de cumprir integralmente os “mandamentos” do Rei e do reino se primeiro não passar por esse processo.
A regeneração, segundo o Dicionário Teológico (CPAD), é o “milagre que se dá na vida de quem aceita a Cristo tornando-o partícipe da vida e da natureza divina. Através da regeneração, conhecida também como conversão e novo nascimento, o homem passa a desfrutar de uma nova realidade espiritual. A regeneração não é um processo; é um ato revolucionário que leva o homem a nascer da água e do espírito”. Segundo certo teólogo brasileiro, algumas pessoas crentes que não se firmam na fé e tem vastos problemas imorais, por exemplo, na verdade não passaram ainda pelo processo da regeneração.
O segundo passo é proclamar este reino. Os sinônimos para proclamar são “anunciar”, “declarar”, “pregar”. O evangelista Marcos escreveu o que Jesus disse: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. Mas, como afirma o pastor Wagner Gaby “nosso comportamento e atitudes devem ser coerentes com a mensagem do Reino”. Infelizmente alguns evangélicos tem se comportamento de maneira infame. O querido leitor deve se lembrar de um caso na política, em Brasília, onde após a comprovação de corrupção, envolvendo autoridades políticas, certos evangélicos tiveram a petulância de orar por aquele dinheiro maldito – esse caso foi alcunhado de “oração da propina”.
O terceiro passo é gerar frutos. Isso significa a prática de boas obras, ou seja, são os efeitos da graça divina na vida do crente regenerado. As práticas destas obras servem para conversão de outras pessoas. Nosso Senhor disse aos seus discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda” (Jo 15.16).
O atestado do reino de Deus
Segundo o apóstolo Paulo “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Como o contexto anterior, do assunto que Paulo trata em romanos 14 é a alimentação dentro da cultura judaica, essa não poderia afetar a essência do reinado de Deus na vida do salvo. A essência do cristianismo é dividida em três partes: 1) a “justiça” tem a ver com a retidão, conforme Mateus 6.33: “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”; 2) a “paz” possui referência ao relacionamento com o nosso próximo e denota harmonia entre os irmãos. Isso fica evidente no versículo 19 “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros”; 3) a “alegria no espírito” representa os sentimentos e os pensamentos dos cristãos sob a influência do Espírito Santo, conforme I Tessalonicenses 1.6 “E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo”.
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