Por Gilson Barbosa
Sempre me interessei em descobrir
porque certos crentes que frequentam regularmente a igreja e que trabalham em
seus departamentos não possuem evidencias de serem regenerados por Cristo. Eles
não fogem do pecado, aceitam as coisas do mundo com facilidade, se assentam nas
rodas dos escarnecedores, estão sempre arrumando confusão, não evidenciam os
sinais da salvação e não fazem questão de esconder isso. Apesar de conhecerem
intelectualmente a Cristo não manifestam o poder do evangelho em suas vidas. Em
minha busca conclui que a razão da existência desses crentes na igreja é o
ensinamento de que existe na esfera evangélica o “cristão carnal”.
Este ensinamento tem sido
pernicioso à fé cristã, pois não reproduz o correto ensinamento das escrituras
com respeito à categorização do homem. Dentro do evangelicalismo moderno há uma
corrente de pensamento que divide o homem em três grupos: natural, espiritual e
carnal. Porém, à luz da correta interpretação bíblica, só há dois grupos:
espiritual e carnal. A origem do ensinamento do crente carnal é atribuída a
Bíblia de Estudo de Scofield. Ela afirma: ”Paulo divide os homens em três classes:
‘natural’, quer dizer, o homem adâmico, não regenerado através do novo
nascimento; ‘espiritual’, quer dizer, o homem nascido de novo que anda em
Espírito, está cheio do Espírito e em plena comunhão com Deus; e o homem ‘carnal’,
quer dizer, o homem renovado que ao ‘andar na carne’ segue sendo um bebê em
Cristo”’.
O entendimento de Scofield é que
há três classes de homens e que mesmo após a conversão alguns são carnais, pois,
se inclinam ao pecado idêntico a forma como um inconverso se inclina. O crente
carnal, segundo esse pensamento, apesar de professar fé em Cristo continua a
agir pautado nos princípios da sua velha natureza. Há muitos problemas com esse
pensamento:
1 – A Bíblia menciona apenas dois grupos
Não há como provar que as escrituras
mencionam três grupos de homens. A inserção de um terceiro grupo, baseado em I
Coríntios 3:1-3, trata-se de uma falácia lógica. Na verdade, a Bíblia menciona
apenas dois grupos de pessoas: natural e espiritual. Disso entendemos o que Paulo
cita em I Coríntios 2:14,15: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do
Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e
ele de ninguém é discernido”. As obras da carne e o fruto do Espírito, de
Gálatas 5:17-24, subentendem que existem
pessoas que são guiadas pelo Espírito e outros que realizam as obras da carne. Apesar
da possibilidade de um crente verdadeiro ser tentado ao pecado e até mesmo
ceder a ele, não significa que o fez desejando pecar, ou que foi atraído
fatalmente à ele, ou coagido pelo fato de ser “carnal”. Se isso acontecer o
resultado é causa da depravação total do homem. A natureza é inclinada ao
pecado, simplesmente por sermos descendentes de Adão. Contudo, a Bíblia afirma que
os que recebem Cristo em suas vidas são regenerados e santificados: “Assim que,
se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo” II Coríntios 5:17. Em Romanos 8:1-9 a distinção não é entre cristãos
carnais e espirituais, mas entre os que andam conforme a carne (incrédulos) e
os que andam segundo o Espírito (os que estão em Cristo Jesus).
2 – Interpretação equivocada de I Coríntios 3:1-3
O único texto “claro” para os
defensores da teoria do crente carnal é este. Leiamos: “E EU, irmãos, não vos
pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com
leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda
agora podeis, porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja,
contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os
homens?”.
O contexto desta assertiva de
Paulo trata do partidarismo dos crentes ao preferirem determinado pregador a
outro. Uns diziam ser do grupo de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro, e
ainda outros de Cristo. Por esse motivo a igreja estava rachada, não havia
unidade. Paulo identificou a atitude deles como as dos que ainda não houveram
sido regenerados em Cristo. Eles eram meninos
no sentido de serem imaturos até então. Com o tempo iriam aprender que o que
faziam não condizia com a realidade da nova vida em Cristo. Não significa que
Paulo está criando uma segunda categoria de crente. Posto assim haveria na
igreja em Corinto crentes regenerados e crentes não regenerados, mas renovados.
Isso causaria um defeito na eficácia redentora e regenerativa da obra sacrificial
de Cristo.
O texto deve ser entendido no
sentido de que os coríntios agiam como pessoas do mundo, não convertidas,
homens naturais que não compreendem as coisas do Espírito e por isso se
envolvem em disputas tolas. Os carnais, na verdade, são os que vivem segundo as
paixões da carne – é o homem natural. Um crente convictamente salvo em Cristo
não vive assim. Ademais, Paulo os chama em 1:2 de “santificados em Cristo
Jesus, chamados santos”, diz que foram “enriquecidos“ em Cristo (1:5), não
faltava a eles “nenhum dom” (1:7), os crentes não haviam recebido o “espírito
do mundo” (2:12) e tinham “a mente de Cristo” (2:16). Tudo isso nos leva a
entender que o problema dos irmãos coríntios era de imaturidade, graus individual
de santidade, natureza pecaminosa, e não que eram carnais.
3 – A necessidade de uma segunda obra da graça
Se depois de regenerado por
Cristo o crente ainda permanece agindo como o homem não convertido, é
necessário algum acontecimento sobrenatural para que possa sobrepujar a
carnalidade. Desta forma, a busca de momentos de intensa infusão sobrenatural
se torna cada vez mais necessária para subjugar a força do pecado. Isso muitas
vezes se traduz em cultos onde a manifestação física e mística é buscada a
exaustão. É por isso que num culto se vê rodopios, “aviãozinho”, gritos, quedas
(“no espírito”), e o uso incessante e inadequado das línguas. Quase todos os
crentes acreditam que esses momentos místicos ou sobrenaturais serão os elementos
que infundirão força para vencer a natureza carnal. Qual o problema disso? O problema
está na ausência ou omissão de arrependimento na experiência da conversão.
O arrependimento é uma parte
essencial na conversão do pecador. Porém, o entendimento teórico de que existe
crente carnal banaliza essa ordem da salvação quando insinua que mesmo após a
regeneração o crente ainda permanece agindo como o homem natural. O apóstolo
Paulo não entendia assim. Ele falou aos irmãos de Éfeso que nunca deixou de
anunciar e ensinar publicamente de casa em casa “testificando, tanto aos judeus
como aos gregos, o arrependimento
para com Deus, e a fé no Senhor Jesus Cristo” (Atos 20:20,21). Não adianta
buscar experiência mística ou sobrenatural, sem ter se arrependido dos pecados
no momento da conversão ou tentando disfarçar uma vida impiedosa e sem
compromisso com o senhorio de Cristo.
4 – Falsa espiritualidade
Alguns crentes se julgam mais
espirituais que outros pelo fato de falar em línguas ou possuir dons
espirituais. O que me enoja é saber depois que esses mesmos crentes estão
envolvidos com mentiras, rebeldias, intrigas, esquemas, insubmissão, adultérios
e todo o tipo de imoralidade. O que é isso senão o resultado de dissociar o
ambiente do culto do ambiente de casa, ou o secular. No culto é “poderoso” em
outro ambiente é carnal. Que é isso leitor!!! Deus nos guarde desse tipo de
comportamento. Isso é resultado de admitir o ensino de que existe o crente
carnal. É uma espécie de prêmio para o crente relaxado com as coisas de Deus.
5 – A concessão da natureza divina
O teólogo Lewis Sperry Chafer
explicou a regeneração não como uma mudança interior, da mente, da alma do
pecador, mas como uma concessão de Deus da natureza divina do crente. Quando o
crente recebe a Cristo recebe de Deus a natureza divina. Essa teoria de Chafer
oferece margem para que o crente aceite que há uma parte da sua natureza (a
velha natureza) que não é afetada pela regeneração e continua a operar de forma
de pecaminosa, como antes da regeneração, até ser destruída na morte.
Segundo R.C. Sproul “essa visão
de regeneração provavelmente é responsável pela possibilidade comumente
sustentada pelos dispensacionalistas modernos do chamado cristão carnal. Essa é
uma pessoa que recebeu Jesus como Salvador mas ainda não se submeteu a ele como
Senhor. Essa pessoa ainda é basicamente carnal na orientação mas desfruta da
sua ‘posição’ de ser justificado. Ela ainda não foi enchida pelo Espírito”.
Prejuízos
O ensino de que existe o crente
carnal traz muito mais prejuízos, em vez de benefícios, à fé cristã. Uns vivem a
fé no autoengano substituindo os meios da graça (oração, santificação, leitura
da Bíblia) por experiência mística ou sobrenatural. Outros, nem se importam
mais em pecar. Paulo ataca a visão distorcida do pecado que alguns judeus
tinham: “QUE diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?”
(Romanos 6:1). Os ensinadores do “crente carnal” deveriam responder essa
pergunta assim: “Sim, podes continuar no pecado e ser um cristão carnal”.
Este tipo de pregação trata-se de
um evangelho sem poder, pois não tem capacidade nem força para transformar o
pecador. Não promove alternativa piedosa ao “crente carnal” e até mesmo o
incentiva a permanecer no pecado. As duas opções do homem é: ser espiritual ou
natural/carnal; andar pelo caminho estreito ou pelo caminho largo; servir a
Cristo como Salvador e Senhor ou ser fantoche de Satanás.
Grande abraço,
Não sou nenhum conhecedor da Teologia, apenas curioso. Porém, gostaria de expor uma reflexão que venho remoendo faz alguns dias. Nasci em um lar religioso, que não vem ao caso qual é a religião, que foi fundamental para formar a pessoa que sou hoje. Durante a adolescência e juventude, entrei em uma fase em que simplesmente não sentia necessidade alguma de refletir sobre assuntos que iam além do "palpável", tornei-me alguém que seria o mais próximo de um agnóstico. Com o passar dos anos, aquela necessidade de buscar respostas para perguntas como "Quem sou eu? De eu vim e para onde eu vou?" foi aumentando de forma que sinto, hoje, até certa frustração por não poder obter as respostas. Talvez o que falta é entender essa limitação que nós temos com as perguntas em que jamais teremos as respostas, não importa o quanto as busquemos. Essa limitação, ao invés de frustração por não oferecer a ajuda necessária para nos autoconhecermos e assim definirmos nossos princípios e valores, deveria ser uma ferramenta de evolução como indivíduo através da reflexão ativa. Se você concorda com as coisas que escrevi, como fazer com que ou como encarar essa limitação que temos em explicar o inexplicável uma ferramenta de evolução?
ResponderExcluirOlá amigo!
ResponderExcluirAs vezes fico pensando se seríamos realmente felizes (ou satisfeitos) se soubéssemos tudo ou se tivéssemos todas as respostas para as questões que envolvem toda a nossa vida.
Concordo com sua exposição. Precisamos não somente entender nossa limitação, mas aceitá-la. Entendo que a não aceitação é que causa a frustração por não termos as respostas.
A resposta para sua pergunta é complexa, visto que cada ser humano reage de forma diferenciada com a questão em pauta.
Temos que nos "divertir" com nossa limitação, muita paciência para aprendermos com a vida e aceitarmos que ela é do jeito que é.
Os sistemas (filosofia, ciência, religião) apenas buscam responder as perguntas, mas ainda assim, são limitados pelo próprio limite.
Acho que na suas dúvidas você mesmo já "evoluiu" (de certa forma) e sem perceber convive em paz com suas limitações.
Temos que encarar as limitações com sabedoria e curiosidade, para aprendermos com ela. Esse é meu breve ponto de vista para que ela se torne uma ferramento de evolução no viver humano.
Grande abraço,
embora concorde que o crente verdadeiro (?) tem que refletir a imagem de Cristo - volto ao primeiro parágrafo e vejo que permanece seu primeiro questionamento - não respondido no desenvolver do texto (citando experiências místicas, por ex.): Como "nomear" aquele que se diz crente e não quer se envolver com Cristo de forma plena? Abs - Naza
ResponderExcluirGraça e paz!
ExcluirSinto-me contente em ter acessado meu blog. Que ele sirva de edificação para sua vida espiritual.
Respondo no primeiro parágrafo que a causa é que não são de fato regenerados. E a aceitação da permanência destas pessoas no núcleo da igreja é devido a teoria do crente carnal.
Enfim, somos salvos para uma vida de santificação. Se falarmos em termos cronológico, primeiro vem a salvação, depois a santificação.
Um crente que não consegue viver uma vida santa é porque muito provavelmente não passou pelo processo espiritual do novo nascimento, pois do contrário ela ama a Cristo e se envolve plenamente em sua obra.
Espero ter respondido. Grande abraço.
Esse crente hipotético que aceitou Cristo e não procura santificar-se, na sua opinião, está salvo ou não?
ExcluirAb - Naza
Boa Tarde!
ExcluirÉ até mesmo um paradoxo falar de "um crente hipotético que aceita Cristo". Conforme o artigo deixa claro há apenas dois grupos: natural e espiritual.
Esse "crente hipotético" que não se santifica, na verdade, nunca foi escolhido por Deus para a salvação. Leia Mateus 7:21-23.
Abraço,
no começo dessa passagem biblica sitada acima o Senhor diz a respeito do Reino, "Nem todo que diz Senhor senhor entrará no REINO" não podemos esquecer que Herdar o Reino é uma coisa e ser salvo é outra, a salvação é pela fé e o reino é pelas obras, Se o crente tem que fazer alguma obra para ser salvo então a salvação logo já não é de graça , e se o homem pudesse fazer algo para ser salvo, Jesus não precisava ter vindo morrer em nosso lugar.Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que realize boas obras e ande em espirito em todo o tempo seja salvo?????????????? NÃO... Mas para que todo aquele que nele CRER não pereça mas tenha a vida eterna. Acho errado as pessoas afirmarem que as pessoas que creram mas andam na carne não sejam salvas, porque embora elas estejam em pecado, um dia elas creram na obra redentora de Cristo. E todo aquele que crer será salvo . Obvio que sem obras feitas no espirito não podem herdar o reino, mas a salvação é um presente de deus para todo aquele que Crer.Abraços
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