sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SUPOSTA CONTRADIÇÃO BÍBLICA (Jo 5.31 x Jo 8.14)

Por Gilson Barbosa

Afinal, o testemunho de Jesus é ou não verdadeiro”?

Textos-base: “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro” (Jo 5.31)
“Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro” (Jo 8.14)

Diante destes dois textos que aparentam contrariedade devemos perguntar: 1º) O testemunho de Jesus pode ser validado por outro homem? 2º) O testemunho a respeito de si próprio é válido? 3º) Por que precisava de outros testemunhos?

Para responder a primeira e a terceira pergunta temos de ser sinceros e aceitar que realmente alguém deveria ser acreditado caso pudesse provar, por testemunhas, suas reivindicações. Se alguém testemunhasse de si mesmo às autoridades rabínicas, diante de um tribunal, seu testemunho não seria considerado válido. Ora, esse não é o procedimento normal caso alguém, até mesmo na sociedade contemporânea, necessite apelar para a justiça dos homens quando seu caso for julgado diante de um juiz? Isto é, de alguma forma, Jesus necessitava de algum tipo de testemunho a seu respeito para que provasse sua messianidade, por exemplo. Jesus não precisava testemunhar a respeito de ele próprio ser o Messias tão esperado pelos judeus, mas, para que os judeus acreditassem nele, outras pessoas deveriam dar testemunho acerca de Cristo. Para isto Jesus contava com testemunhas externas. E, esta prova ele teve em diversas ocasiões. Em resumo: seus milagres foram vistas por inúmeras pessoas, João Batista deu testemunho a seu respeito (Jo 1.7, 15,19, etc) e o próprio Deus deu testemunho de Jesus em dois episódios: no batismo e no momento da transfiguração (Mt 3.16,17; 17.5).

É relevante atentar para a história do povo hebreu. A vinda de um Messias, salvador e libertador, era um pensamento normal na cultura judaica. O povo judeu, por diversas vezes, esteve sob jugo estrangeiro: egípcio, babilônico, persa, grego, sírio, romano, etc. Na época dos juízes, ainda que as pressões sobreviessem de povos semitas, algunsparentes” dos judeus, Deus levantava juízes, que na verdade eram libertadores do domínio inimigo. Não foram poucos os anos passados em terras distantes, estranhas e em situações adversas. Por isso, o assunto sobre a vinda de um Messias enchia de esperança o povo judeu. Chegando o tempo proposto por Deus o Messias veio, porém, os judeus estavam equivocados quanto às atribuições dele. O discípulo André disse a seu irmão Simão Pedro: “Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)” ( Jo 1.41). Filipe disse a Natanael: “Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1.45). Ao dialogar com Jesus, a mulher samaritana disse: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo”, ao que prontamente Jesus respondeu: ‘Eu o sou, eu que falo contigo’” (Jo 4.25,26). Daí em diante a mulher passa a testemunhar de Jesus. “Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo? Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele. E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito” (Jo 4.29,30,39).

Estes exemplos provam a necessidade das pessoas testemunharem acerca de Jesus. Ou seja, ele não precisava falar de si próprio que era o Messias prometido no Antigo Testamento e estes testemunhos procederam de pessoas simples, sinceras e eram verdadeiros (se bem que não de todos). A questão do “testemunho de Jesus não ser verdadeiro” deve ser entendida no sentido de quepalavras sem a necessária confirmação de santidade e poder não convencem. Os judeus baseados nos seus preconceitos atribuíram maldade a Jesus. Este, por sua vez, defendendo suas reivindicações messiânicas, apela para a regra bíblica que exigia duas testemunhas (Nm 35.30; Dt 17.6)”.[i]

Em suma, a resposta para a segunda pergunta (O testemunho a respeito de si próprio é válido?) é, afirmativa – sim! Jesus não era somente o Messias prometido, mas antes, Deus encarnado. Sendo assim, apenas o testemunho humano não é pleno. Ora, Jesus falava com propriedade do que havia experimentado na eternidade. Ao orar a Deus Pai ele disse: “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5). A Nicodemos asseverou: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3.13).

O texto de João 8 sugere que a discussão tinha a ver com o perdão de Jesus outorgado à mulher pecadora. Quando Jesus diz “quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”, obviamente refere-se a algo muito maior do que ter o messianismo endossado pelos judeus. Fala de algo espiritual, místico, metafísico, e, neste sentido, Ele não precisa do endosso de um ser humano. Tanto é assim que os fariseus disseram a Jesus: “Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro”, ao que Jesus rebateu: “Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou” (Jo 8:13,14). Pelo fato de Jesus ser o Emanuel (Deus conosco) ele não necessita de provas humanas. Jesus, como todo bom judeu, conhecia bem as normas e regimentos prescritos aos judeus e, logicamente, como em outros casos muito mais complexos, não a violaria. Contudo, no caso em questão, Cristo não falava como um simples judeu e sim como o Soberano do universo, por isso não precisava de testemunhos. Até porque, os inquiridores de Jesus não estavam aptos a testemunharem a respeito dele e nem a aceitarem seu próprio testemunho.

Norman Geisler arremata: “O testemunho de Jesus não era verdadeiro: oficialmente, legalmente e para os judeus”, mas, era verdadeirofactualmente, pessoalmente e em si mesmo[ii]. Jesus tinha os testemunhos completos: das pessoas alcançadas por eles; até por alguns de seus inimigos, e Dele próprio.



[i] Bíblia Vida Nova. Comentário de João 5.31. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
[ii] GEISLER Norman & HOWE Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1999, p 418.



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