terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O FUNDAMENTO DA IGREJA

Por Gilson Barbosa

Teria o apóstolo Pedro a soberania jurisdicional pontificial? Faz sentido toda a dialética papal, quanto a ser Pedro o primeiro na linha ininterrupta de bispos católicos? As sucessões papais têm o endosso da história?
Em hipótese alguma devem pairar dúvidas na mente dos fiéis católicos sobre esta questão, sob pena de ser amaldiçoado. Ficou harmonizado no Concílio Ecumênico Vaticano I: “Se alguém afirmar que Pedro, por instituição do próprio Cristo ou por direito divino, não tem perpétuos sucessores no primado sobre a Igreja Universal, ou não ser o Romano Pontífice o sucessor  de Pedro no mesmo primado, seja anátema”.
Afinal, seria Pedro o fundamento da Igreja? As justificativas apresentadas a respeito deste “fato” são convincentes? Analisemos a indagação:

Pedro não é o fundamento da Igreja
         Que tudo não passa de um sofisma da teologia romana já está comprovado, pois os católicos romanos desconsideraram os meios para se chegar a esta interpretação. A igreja católica romana, em última instância, admite que Pedro seria o fundamento suplementar. Ou seja, se Jesus é o fundamento invisível, Pedro seria o visível e com poderes soberanos (eclesiásticos e espirituais) iguais a Cristo. Visível por ter a primazia no que concerne a ser ele o primeiro da sucessão papal, e invisível por ser o vigário de Cristo na terra.
É importante observamos que:

1.     Pedro aclamou a Cristo quando este indagou os discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Ao que Pedro prontamente respondeu: “Tu és o Cristo o Filho, o Filho do Deus vivo”. Entendemos desta assertiva que o falível e humano Pedro está declarando a superioridade de Jesus. Caso fosse ele o fundamento da igreja, não soaria tal afirmação como uma incoerência?

2.     O apóstolo Paulo deixa claro a não exclusividade de Pedro, equiparando-o aos demais apóstolos referendados no texto: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2.20). Não obstante a obviedade de ter Pedro se imiscuído na expressão “apóstolos”, em que encontramos, neste texto, a sua pretendida exclusividade? Entendemos expressamente que Jesus é o “fundamento” das Escrituras Sagradas, e a “ principal pedra”. Em que consiste a primazia de Pedro aqui? Encontrá-la é ver no texto o que se quer ver e não o que o texto por si só afirma.

3.     É fácil observar, pelos evangelhos, a vulnerabilidade de Pedro em diversos aspectos e em muitos episódios. Dizer que a igreja está fundamentada em Pedro é como construir uma casa na areia (Mt 7.24-29). As passagens bíblicas em que observamos um Pedro intrépido (At 4.19), desinibido (At 1.15; 2.14), operando milagres em nome de Jesus (At 3. 6), repreendendo com autoridade (At 5.1-11), pregando aos gentios (At 10.34-43), liderando o Concílio de Jerusalém (15.7), não suplanta, por exemplo, toda a investida de Paulo na proliferação do cristianismo e da igreja primitiva, o que o próprio livro dos Atos dos Apóstolos deixa explícito ao denotar, em suas páginas, a maior intensidade e superioridade e abrangência do ministério de Paulo face ao de Pedro. Pedro demonstra pelas páginas dos evangelhos não ser, sem sombra de dúvidas, o fundamento sobre a qual a Igreja de Cristo estaria alicerçada. Em contrapartida, temos, em Jesus, uma inamovível confiança pois, Ele nos confortou dizendo: “É-me dado todo o poder no céu e na terra [...] e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.18,20).

A problemática em torno de Mateus 16.18

“KAGÔ DE SOI LEGÔ OTI SU EI PETROS KAI EPI TAUTÊ TÊ PETRA OIKODOMÊSÔ MOU TÊN EKKLÊSIAN KAI PULAI ADOU OU KATISKHUSOUSIN AUTÊS”

Sem dúvida alguma este é o texto em que se trava um dos maiores embates teológicos entre a teologia romana e a protestante. Caso ficasse comprovado ser a interpretação romana verdade incontestável para os aplausos dos clérigos católicos, não obstante ter de lutarem para desmoronar toda a hermenêutica em outros textos, já seria um grande apoio aos teólogos romanistas. Entretanto, podemos extrair alguns elementos contra a defesa romana. Vejamos:

1.    Há no texto grego uma correlação entre os vocábulos gregos TÊ PETRA com Mateus 16.16 em que aparece O KHRISTOS. Este é um caso de paralelismo e uniformidade gramatical em que te petra simboliza, metaforiza, o khristos. É importante também observar que, justamente neste texto, tão propagado sobre ser Cristo o fundamento, não precede o artigo antes do substantivo próprio Pedro.

2.    A semelhança morfológica entre os vocábulos Petros e Petra é distinta, porém, no que concerne à aplicação. Não apresentam diferenças apenas no gênero, mas na nomeação de objetos dessemelhantes. Os melhores e mais respeitados léxicos da língua grega, dicionários e concordâncias, são uniformes no pensamento de que Petros significa um pedaço de rocha, uma pedra, pedra solta. Trazemos a informação da Concordância Exaustiva de Strong: “Petros, nome próprio do gênero masculino, que significa um pedaço da rocha, e Petra, substantivo comum do gênero feminino que expressa a rocha sobre a qual edificaria (Jesus) a sua igreja”.

3.    Uma análise no original mostra-nos as distinções entre os vocábulos Petros e Petra, e em outras colocações poderíamos identificar incoerências que poderíamos julgar contradições. Note, por exemplo, que Jesus utilizou a expressão EPI TAUTÊ TÊ PETRA, que significa sobre esta pedra, relacionando com a declaração de Pedro (Mt 16.16). Caso Jesus quisesse dar a honra do fundamento da igreja a Pedro, deveria dizer EPI TOUTO TO PÉTROS, ou seja, sobre este Pedro, Ele (Jesus) edificaria a sua Igreja.
Outro episódio propício encontra-se em João 1.42 em que falou Jesus: “tu serás chamado Cefas [Kephas]”, nome próprio em aramaico que significa pedra. Porém, deste texto, João continua “... que quer dizer Pedro”. Há coerência entre os termos Cefas e Petros. Ambos significam fragmentos de pedra. Afora toda essa polêmica, Mateus, poderia resolver toda esta problemática dizendo de Pedro: “Tu és pedra [Petros] e sobre esta pedra [Petros]”.

4.    Valendo-se da regra da hermenêutica, uma ferramenta de extrema importância da teologia, podemos verificar pelo contexto que a mesma não dá qualquer possibilidade sobre ser Pedro a pedra sobre a qual estaria fundamentada a igreja. Principiando pelo Antigo Testamento, notamos a importância do vaticínio do profeta Isaías (28.16): “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse”. Deu-se, já no Novo Testamento, este cumprimento (antítipo) em Jesus e por ele mesmo reivindicado: “Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ângulo” (Mt 21.42). Meditando no sentido da palavra pedra, podemos concluir que Jesus é o fundamento. Leia atentamente os textos a seguir:

·         “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” (At 4.11);
·         “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (1Co 10.4);
·         “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2.20);
·         “E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (1Pe 2.4).

É importante saber que a Bíblia se refere aos crentes como sendo “pedras” também: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.5). Entretanto, jamais encontraremos o vocábulo grego petra sendo direcionado ao ser humano. O termo empregado por Pedro neste texto, no original grego é lithos e significa “pedra”. As “pedras vivas” (lithoi zontes), foram trabalhadas, desbastadas por Cristo para serem embutidas corretamente neste empreendimento divino. Estas pequenas pedras não são mais importantes, com certeza, do que a “principal pedra da esquina”. Uma informação rica nos adiciona a obra de Stanley Horton sobre a “pedra principal da esquina”: “Nas edificações modernas, a pedra da esquina é usualmente mais simbólica que parte integrante dos alicerces, em que é gravada a data em que foi lançada e os nomes dos principais benfeitores envolvidos. Na era bíblica, no entanto, a pedra da esquina era da máxima relevância. Normalmente maior que as demais pedras, orientava o desenvolvimento do projeto para o restante da edificação e conferia simetria à obra”.

Teria Pedro estado em Roma?
         “E, saindo, partiu para outro lugar” (At 12.17).

         Roma, Antioquia ou qualquer outra localidade. Para onde foi Pedro após ser liberto da prisão por um anjo?
          Não obstante a Bíblia trazer um silêncio sobre o assunto, os católicos afirmam ser fato incontestável ter sido o apóstolo Pedro o fundador da igreja em Roma. Atribuem-lhe ainda um pontificado de 25 anos, na capital do Império, e conseqüente morte neste lugar. É claro que estas ligações são a priori de valor inestimável, pois entrelaçadas vão robustecer a tese vaticana da primazia do papado. Contudo, há de se frisar que somente a chamada tradição vem em socorro das causas romanistas nestas horas e, mesmo assim, de maneira dúbia.
         Pedro não pode ter sido papa durante 25 anos, pois foi martirizado no reinado do Imperador Nero, por volta do ano 67-68 d.C. Subtraindo-se 25 anos, retrocederemos ao ano de 42 ou 43. Nessa época não havia se realizado o Concílio de Jerusalém (At 15), que se  deu por volta  de  48-49 d.C., do qual Pedro participou  (mas não deveria, pois segundo a tradição, nesta época, ele estava em Roma), no entanto, foi Tiago quem o presidiu (At 15.13-21). No ano 58 d.C., Paulo  escreveu  a  epístola  aos Romanos. E no capítulo 16 dirigiu uma saudação para  muitos irmãos, mas Pedro sequer é mencionado. Paulo chegou a Roma no ano 62 d.C., e foi visitado por muitos irmãos (At 28.30-31), todavia, nesse período, não há nenhuma menção de Pedro. O Apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios, Colossenses, Filemom (62 d.C.) e Filipenses (entre 67/68 d.C.), mas Pedro não é mencionado em nenhuma delas. Se Pedro estava em Roma no ano 60 d.C., como se deve entender a revelação referida no livro de Atos, em que Jesus disse a Paulo: “Importa que dês testemunho de mim também em Roma?” (At 23.11). Pedro não deveria estar cumprindo esta função? Onde se encontrava o suposto papa de Roma nesta ocasião?
         É por estas e outras razões que não acreditamos que Pedro tenha fundado ou presidido a Igreja de Roma como afirmam os católicos.
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2 comentários:

  1. BOM ARTIGO POIS DESCONTROI A TESE ROMANA, SE BEM QUE ELES NÃO ESTÃO INTERESSADOS NISSO, MAS É BOM PARA QUE AS PESSOAS PENSEM AO ANALISAR ESTE TEMA.PARABÉNS.-VAGNER=IEAD-VIANELO

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  2. A ICR só consegue menobrar seus adeptos, pois os mesmos não entendem nada das Escrituras - salvo raríssimas exceções.
    Grato pelo comentário.

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