quinta-feira, 26 de julho de 2012

AS AFLIÇÕES DA VIUVEZ (Subsídio EBD)

Por Gilson Barbosa

Refletir sobre a viuvez é um enorme desafio para a igreja evangélica moderna – se ela de fato busca se conduzir conforme a Escritura Sagrada. O apóstolo Tiago (1:27) chega a ponto de colocar o cuidado com as viúvas como um dos critérios que endossa a verdadeira religião: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. São pelo menos três as preocupações de Tiago: que não sejamos meros observadores dos mandamentos da Palavra de Deus, mas, praticantes; a importância do envolvimento da igreja nas questões sociais; e o dever da igreja de cuidar dos dois aspectos da vida cristã (espiritual e material).

Estamos vivendo em nossos dias uma grande contradição do verdadeiro evangelho. Enquanto uns poucos se enriquecem a custa da oferta das viúvas (Lucas 21:1-4), não as amparam nas suas necessidades.  A igreja evangélica moderna parece não se atentar para o fato de que no Antigo Testamento havia a prática do dízimo tri-anual, cuja finalidade era prover alimento para os levitas, órfãos, viúvas e estrangeiros. Segundo o antigo mandamento bíblico (vigente ainda hoje) uma das formas de ser abençoado, ao dizimar, era fazê-lo em favor dos que não tinham o básico e necessário para sua sobrevivência.   
   
Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade.

Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem. (Dt 14:28,29).

Quando o agricultor fosse recolher o produto do seu trabalho no campo, não deveria se preocupar em colher os produtos que ficassem pelo chão, para que os necessitados (os grupos listados em Deuteronômio 14:29) tivessem o que comer.

Quando vocês estiverem fazendo a colheita de sua lavoura e deixarem um feixe de trigo para trás, não voltem para apanhá-lo. Deixem-no para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva, para que o Senhor, o seu Deus, os abençoe em todo o trabalho das suas mãos.   

Quando sacudirem as azeitonas das suas oliveiras, não voltem para colher o que ficar nos ramos. Deixem o que sobrar para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva.

E quando colherem as uvas da sua vinha, não passem de novo por ela. Deixem o que sobrar para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva.

Lembre-se de que vocês foram escravos no Egito; por isso lhes ordeno que façam tudo isso. (Deuteronômio 24:19-22 – versão NVI).

É evidente a preocupação de Deus com as classes menos favorecidas em Israel. No livro poético dos Salmos (68:5) está registrado: “Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada”. A igreja evangélica moderna não deve ficar passiva diante da viuvez das pessoas, como dá a entender a verdade prática da lição, mas buscar alternativas e empreender ações no sentido de atenuar essas aflições, como comprova o item da lição o amparo da igreja (tópico II. 1,2). A igreja precisa se esforçar na construção de lares, abrigos e espaços, no atendimento às pessoas nesta condição – isso é praticar a justiça e agradável ao Senhor.  

A Igreja Cristã Primitiva herdou do judaísmo a preocupação em cuidar das viúvas. O primeiro conflito e desconforto entre os cristãos tiveram a ver com arranjos que deveriam ser feitos a respeito do sustento das viúvas, na igreja incipiente: “Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. (Atos 6:1). Certamente elas eram sustentadas pela igreja, pois não podiam trabalhar para se sustentar e não tinham parentes para ajudá-las com o mínimo necessário. Eram viúvas, provavelmente, oriundas da dispersão judaica que retornaram para encerrarem seus dias em Jerusalém.

Como a Igreja Primitiva tratou esse assunto? Apesar do cuidado com as pessoas nesta condição houve a necessidade de se estabelecer critérios no atendimento para não sobrecarregar a igreja primitiva (I Timóteo 5:16). O texto bíblico que aborda detalhadamente essa questão é I Timóteo 5:1-16, mas, note que a discussão não era se a igreja cuidaria ou não das (os) viúvas (os), mas, quem deveria e poderia ser sustentada por ela, ou seja, fazia parte da administração da igreja esse trabalho. Apesar de o texto mencionar somente a viúva (mulher), sua aplicação estende-se ao homem nesse estado também. 
  
Parece que havia uma ordem ou classe de viúvas na igreja primitiva. Depreendemos assim, visto a necessidade delas serem inscritas no programa da igreja, conforme o versículo 9 e 11. Alguns comentaristas bíblicos dizem que elas cooperavam de alguma maneira com os serviços sociais e espirituais da igreja. Não eram todas as viúvas que seriam sustentadas pela igreja, mas, somente as que enquadrassem no critério estabelecido pela liderança. Alguns deles são:

          - que tivessem acima de sessenta anos de idade (v.9);
          - que fosse casada apenas uma vez (v.9);
          - que de fato não tivesse nenhum amparo (v.4, 5a, 16);
          - que fosse exemplar nos afazeres domésticos (v.10);   
          - que demonstrasse sinais de vida piedosa (v.5. b).

As viúvas que tinham parentes deveriam ser sustentadas por estes (v.3): “Mas, se alguma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a exercer piedade para com a própria casa e a recompensar a seus progenitores; pois isto é aceitável diante de Deus”. Significa que a princípio os familiares não podiam abandonar uma viúva desamparada e relegá-la aos cuidados da igreja. Os judeus, no tempo de Cristo, pensavam que era responsabilidade total da instituição religiosa sustentar os idosos em necessidade:

Entretanto, ainda havia pessoas que as [viúvas] espoliavam. E alguns dos que mais faziam isso eram justamente os que se passavam por mais religiosos. Jesus acusou diretamente os fariseus de agirem assim, pois montavam esquemas dentro da estrutura religiosa com a finalidade de “devorar” as casas das viúvas (Mc 12.40). Além disso, eles se recusavam a sustentar a mãe idosa, apelando para o “corbã”. Diziam que haviam contribuído para o templo, e que, portanto, o templo é que devia sustentar seus pais (Mc 7.11).[1]

Delegar à igreja os cuidados com idosos ou pessoas em viuvez, quando na verdade os familiares possuem condições de proverem o sustento, é infringir o mandamento bíblico: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá” (Êxodo 20:12); “Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra” (Efésios 6.2,3). É isso o que o apóstolo Paulo deixa claro a Timóteo no versículo 4.

O apóstolo Paulo trata de dois tipos de viúvas: a verdadeiramente viúva e a que não era uma autêntica viúva. Ou seja, as que eram realmente necessitadas de ajuda, pois, se enquadravam dentro do critério estabelecido, e as que possuíam meios de sobrevivência. Estas, por serem ainda jovens podiam casar-se novamente e evitar sobrecarga à igreja: “Quero, portanto, que as viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não dêem ao adversário ocasião favorável de maledicência” (v.14).

Mas, olhando atentamente para o critério das viúvas jovens, parece haver contradição entre o versículo 11 e 14, pois, naquele a viúva jovem é censurada por desejar novo casamento, mas neste Paulo aconselha o casamento (leia atentamente esses versículos). Na verdade não há contradição. O que há, é uma preocupação da liderança em não incluir no sustento da igreja as viúvas jovens por elas não serem espiritualmente dignas de tal ação e assim prejudicar o andamento do programa da igreja no trato com as viúvas piedosas e tementes ao Senhor e sobrecarregando tarefas à igreja. É assim que deve ser entendido o versículo 11: “Mas rejeita viúvas mais novas, porque, quando se tornam levianas contra Cristo, querem casar-se, tornando-se condenáveis por anularem o seu primeiro compromisso”. Há outra razão pela qual as viúvas jovens não deveriam constar na lista das que deveriam receber ajuda da igreja: “Ao mesmo tempo também aprendem a andar ociosas, indo de casa em casa, e não só ociosas, mas também tagarelas e intrometidas, dizendo coisas que não deveriam [dizer]” (v.13). É que diferente das viúvas piedosas e tementes ao Senhor elas mais traziam problemas a igreja do que solução - não que todas as viúvas jovens fossem impiedosas e que todas as idosas fossem piedosas ao Senhor.

Por fim não devemos responsabilizar somente a igreja pelo cuidado e sustento das viúvas, mas, caso determinada viúva (o) tenha familiares que possam ajudar, abrirá espaço para as que realmente necessitam de ajuda – e neste caso a igreja deverá sustentá-la: “Se alguma crente tem viúvas em sua família, socorra-as, e não fique sobrecarregada a igreja, para que esta possa socorrer as que são verdadeiramente viúvas”.   

Para algumas pessoas o estado de viuvez é muito angustiante; outras conseguem adaptar-se bem a essa condição. No aspecto econômico muitas recebem pensão do governo e vão sobrevivendo (algumas até muito bem); outras não têm a mesma sorte e estão sofrendo aflições. A igreja deve empreender esforços para saber quem são essas pessoas e buscar inteirar-se a respeito das condições delas. É uma maneira de honrá-las oferecendo carinho, proteção e sustento.  

Em Cristo,


[1] Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos, p. 38. 
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2 comentários:

  1. maravilhoso conteúdo,que Deus continue te usando tremendamente meu amado irmão!!!

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  2. Prezado (a) irmão (ã)

    Obrigado por acessar e ler as postagens deste blog. Que sirva para edificação, exortação e consolação para sua vida cristã.

    Grande abraço,

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