Por Gilson
Barbosa
A “morte” foi expulsa das
nossas conversas cotidianas porque nossa sociedade é materialista. Ela nega e
não se conforma com a finitude humana. Mas, o certo é que cedo ou tarde, todos
morreremos. Por não aceitar a realidade da morte é que ela se torna tão
intragável.
A autora Maria Fernanda
Vomero disse o seguinte sobre esse tema:
“A morte pode ser vista como um mistério
incompreensível. Ou como um absurdo inaceitável. A morte pode até ser tratada
como um tabu. Mas, seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é uma
realidade inexorável. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de
existir é tão natural quanto existir. Na verdade, a morte é provavelmente a
única coisa certa na sua existência ou na minha: é certo que todos nós vamos
morrer um dia.
Pode-se aceitar a inevitabilidade da
morte e olhá-la de frente. Ou pode-se negá-la, fugir dela, imaginar que não
pensar na morte possa fazer com que ela deixe de acontecer com você ou com a
sua família. Mas todos nós estamos programados para nascer, crescer e morrer –
uma obviedade esquecida por boa parte da sociedade ocidental contemporânea, que
teima em ver a morte como um evento inesperado e injusto. Sobretudo, costumamos
vê-la como um evento exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda de todo
o resto do mundo. Mas não há nada menos exclusivo do que morrer”.
A primeira razão porque a
morte impõe medo é que “o maior desejo do homem é a imortalidade”, segundo a
psicóloga Ingrid Esslinger, da Universidade de São Paulo (USP). O que frustra o
homem é que apesar de toda a tecnologia científica ainda não se descobriu (nem
se descobrirá) uma maneira de deter a morte. No entanto, a Bíblia afirma que a
imortalidade do homem dependia da sua obediência ao mandato Divino, o que não
aconteceu: “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o
lavrar e o guardar. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore
do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela
não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis
2:15-17).
O teólogo Louis Berkhof
diz o seguinte sobre o fato de o homem ser criado imortal:
Outro elemento da imagem de Deus
ainda, é a imortalidade. Diz a Bíblia que só Deus tem imortalidade, 1 Tm 6.16,
e isto pareceria excluir a idéia da imortalidade humana. Mas é mais que
evidente, pela Escritura, que o homem também é imortal, nalgum sentido da
palavra. O sentido é que somente Deus tem imortalidade como uma qualidade essencial,
tem-na em Si e de Si próprio, ao passo que a imortalidade do homem é uma
dádiva, é derivada de Deus. O homem foi criado imortal não apenas no sentido de
que sua alma foi dotada de uma existência interminável, mas também no sentido
de que ele não levava dentro de si as sementes da morte física, e em sua
condição não estava sujeito à lei da morte. Foi feita a ameaça da morte como
punição do pecado, Gn 2.17, e que isso incluía a morte corporal ou física, está
patente em Gn 3.9. Paulo nos fala que o pecado trouxe a morte ao mundo, Rm
5.12; 1 Co 15.20, 21, e que morte deve ser considerada como o salário do
pecado, Rm 6.23.
A segunda razão porque a
morte impõe medo é a supervalorização da vida. Numa sociedade materialista e
consumista é difícil o desapego ao bem estar terrestre que a prosperidade proporciona.
Não é do cristianismo bíblico a preocupação sórdida com as benesses terrenas. O
pastor Geremias do Couto disse que economicamente e financeiramente prevalece
no ateísmo o princípio de que os bens materiais simbolizados pelo dinheiro são
a coisa mais importante em detrimento da busca de Deus (Sl 14.1-4). O pastor
Elienai Cabral comentando sobre o materialismo disse que este não admite as
coisas espirituais. Do ponto de vista dos materialistas tudo é matéria. Os
materialistas afirmam que a geração e a corrupção das coisas obedecem a uma
necessidade natural, não sobrenatural, nem ao destino, mas às leis físicas.
Portanto, o sentido espiritual da morte não é aceito pelos materialistas. Há
crentes materialistas? Se entendermos que na igreja de Cristo há trigo e joio,
detectaremos naturalmente que o joio é materialista. No meu entender, em algum
sentido a Teologia da Prosperidade induz ao materialismo. Para mim alguns
crentes são até mesmo ateus.
A terceira razão porque a
morte impõe medo é a ilusão de eterna beleza e jovialidade. Não é errado nem
pecado exercitar-se fisicamente ou usar cosméticos que produzem aparência
jovial. Mas, a excessiva preocupação com a aparência física, apenas
esteticamente, tem conduzido muitos a uma tímida negação da morte.
No Novo Testamento há três
palavras que designam morte: thanatos,
anairesis e teleute. “Thanatos”
pode ser usada como a separação do homem de Deus e a separação
da alma do corpo, ou seja, o último cessar
de funções e a volta para o pó. Em ambos, o sentido é de separação. A morte
é tão triste justamente por causa disso: separa-nos temporariamente ou
eternamente dos nossos entes queridos. Bem disse o salmista: “A duração da nossa
vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos,
o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos”. “Anairesis”
significa tomar para cima ou para fora, como
por exemplo, tirar a vida (no caso da morte de Estêvão): “E Saulo consentia na
sua morte. Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em
Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da
Judéia e Samaria” (Atos 8:1). “Teleute” é fim,
limite, ou seja, o fim da vida, morte, usado para descrever a “morte” de
Herodes: “e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora
dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho”
(Mateus 2:15).
Outros sentidos de morte
são: saída
ou partida. Neste caso refere-se ao episódio onde Moisés e Elias
aparecem no Monte da Transfiguração e numa conversa com Cristo tratam da sua
partida ou saída deste mundo terreno, em outras palavras, da sua morte: “E,
estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e o seu vestido
ficou branco e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois
varões, que eram Moisés e Elias, os quais apareceram com glória, e falavam da
sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém” (Lucas 9:29-31); cessação
da existência da vida animal, física. Este termo é usado pelo anjo do
Senhor a José no retorno do Egito para a Palestina: “Tendo Herodes morrido, eis
que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te,
toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que
atentavam contra a vida do menino” (Mateus 2:19,20); rompimento das relações da
vida material. Neste sentido a reencarnação não passa de um sofisma. Podemos
observar esse princípio na morte do filho de Davi com Bate-Seba: “Então, Natã
foi para sua casa. E o SENHOR feriu a criança que a mulher de Urias dera à luz
a Davi; e a criança adoeceu gravemente. Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou
Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra. Então, os anciãos da sua casa
se achegaram a ele, para o levantar da terra; porém ele não quis e não comeu
com eles. Ao sétimo dia, morreu a criança; e temiam os servos de Davi
informá-lo de que a criança era morta, porque diziam: Eis que, estando a
criança ainda viva, lhe falávamos, porém não dava ouvidos à nossa voz; como,
pois, lhe diremos que a criança é morta? Porque mais se afligirá. Viu, porém,
Davi que seus servos cochichavam uns com os outros e entendeu que a criança era
morta, pelo que disse aos seus servos: É morta a criança? Eles responderam:
Morreu. Então, Davi se levantou da terra; lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes,
entrou na Casa do SENHOR e adorou; depois, veio para sua casa e pediu pão;
puseram-no diante dele, e ele comeu. Disseram-lhe seus servos: Que é isto que
fizeste? Pela criança viva jejuaste e choraste; porém, depois que ela morreu,
te levantaste e comeste pão. Respondeu ele: Vivendo ainda a criança, jejuei e
chorei, porque dizia: Quem sabe se o SENHOR se compadecerá de mim, e continuará
viva a criança? Porém, agora que é morta, por que jejuaria eu? Poderei eu
fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim” (II Samuel
12:15-23).
A morte impõe medo e
angustia, mas, os eleitos salvos em Cristo não devem se desesperar diante dela.
O apóstolo Paulo não temia a morte: “Porque para mim o viver é Cristo, e o
morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei
então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo
de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Filipenses
1:21-23). Para ele a morte não era perda e sim lucro, pois, seu desejo era
estar com Cristo, que ele afirma ser “ainda muito melhor”. A morte para os
eleitos em Cristo é triste apenas para quem fica, pois ao Senhor é aprazível à
morte do justo: “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos”
(Salmos 116:15).
Como disse o pastor
Eliezer Lira, comentarista da lição: “para o crente a morte não é o fim, mas o
início de uma extraordinária e plena vida com Cristo”. A morte não deve
amedrontar os eleitos do Senhor, pois Cristo na cruz a venceu: “Aconteceu que,
perplexas a esse respeito, apareceram-lhes dois varões com vestes
resplandecentes. Estando elas possuídas de temor, baixando os olhos para o
chão, eles lhes falaram: Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não
está aqui, mas ressuscitou” (Lucas 26:4-6).
Em Cristo,
Olá Professor Gilson, Graça e Paz....
ResponderExcluirComo não poderia deixar de ser, o seu texto é excelente. O tema é verdadeiramente preocupante.
A morte é um dos últimos assuntos a serem abordados em uma reunião, principalmente entre amigos e parentes, pois, não desejamos que ela venha nos frustar tão sedo, nos privando da presença de alguns deles, ainda que seja inevitável. A morte só é desejável para os nossos inimigos. RsRsRs..., Ainda que o Senhor tenha nos ensinado a ama-los.
Deus te abençoe, e lhe dê longevidade de vida....
Pr Fábio,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Concordo com o irmão que temos medo que a morte nos fruste tão cedo causando separação entre amigos e parentes.
Que o Senhor lhe dê também muita paz, saúde e longevidade. Obrigado amado.
Em Cristo,
Meu grande irmão e amigo Gilson. Sou frequentador assíduo do teu blog. É muito útil e, como todo o teu ministério, muito bem feito.
ResponderExcluirGostaria de sugerir uma mudança das fontes utilizadas. Acho que é um probleminha só meu, mas incomoda para uma leitura mais rápida.
Perdão pela ousadia.
Clóvis do Prado
Amado pastor Clóvis,
ExcluirSinto-me muito honrado pelos leitores do meu blog, e o senhor muito me honra.
Quanto a fonte vou buscar fazer uns testes alterando-as. Obrigado pela sugestão. Talvez o seu "probleminha" seja também de outros.
Grande abraço,
Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirEsta contribuição para o Reino é muito rica.
Pr. Antonio Walter
Estimado pastor Antonio Walter,
ExcluirObrigado por acessar esse humilde blog. Espero que sirva de edificação para o seu ministério.
Grande abraço.