sábado, 19 de novembro de 2011

COMPROMETIMENTO COM AS ESCRITURAS SAGRADAS (Subsidio EBD)

Por Gilson Barbosa
Sendo a natureza humana inclinada ao pecado, a história vivida pelos judeus (como povo de Deus) sempre se repetirá: riscos, desvios, apostasias, desobediências, pecados, secularismo, profanação, etc. Urge voltarmos ao ensino pleno das Escrituras e firmarmos “aliança” com o Senhor em seguir estritamente seus preceitos. Nos dias de Neemias o tempo era de decisão!
Desde o alto escalão até aos leigos, homens e mulheres, filhos e filhas (jovens e adolescentes) e todos os que tinham compreensão e discernimento, estabeleceram entre si que obedeceriam ao Senhor. A história se repete. Precisamos refletir sobre o nosso estado espiritual, e caso necessite, devemos firmar compromisso com o Senhor ratificando assim o nosso amor à Ele.
PODEMOS FAZER JURAMENTOS?
Os judeus fizeram um juramento público de guardar as ordenanças de Deus (10.29). Segundo certa definição juramentos “são declarações solenes que invocam a Deus como testemunha das declarações e promessas feitas, pedindo a Deus que puna qualquer falsidade”. Naquela época o juramento era um hábito comum; era uma maneira pessoal de oferecer consistência num acordo, pacto ou aliança, com o intuito de reforçar o caráter de uma promessa.

Abraão, por exemplo, deu a Abimeleque sete cordeiros como testemunhas de seu juramento (Gn 21.27-31). Em Hebreus 6.16 está escrito que “os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento servindo de garantia, para eles, é o fim de toda contenda”. O escritor explica nesse texto a razão de um juramento divino e quando os homens confirmam um juramento, este não está mais sujeito as alterações e desobediências.
Porém, muitas vezes os juramentos maquiavam a verdadeira intenção da pessoa e acabava por revelar o caráter daquele que os fez. Porque jurar se haverá cumprimento? É a mesma condição que se encontram os que colocam a mão sobre a Bíblia para demonstrar que falarão somente a verdade numa audiência judicial. Pra quê isso? No tempo da Reforma Protestante os anabatistas eram contra esse procedimento, ou seja, não admitia os juramentos para validar a palavra ou confiança de alguém.
No período neotestamentário Jesus criticava o fato de pessoas usarem juramentos para reforçar suas declarações. Ele disse: “De modo algum jureis [...] seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disso passar vem do maligno” (Mt 5.35-37). O que Jesus está ensinando é que devemos ser verdadeiros em todo o tempo, e não somente sob juramento. Alguns expositores entendem que não há problema em fazer juramentos, se, falar a verdade sempre será ou é hábito entre os cristãos. Nesse caso jurar ou não é indiferente. Citam a passagem bíblica onde Jesus se submeteu a juramento (Mt 26.63) e do apóstolo Paulo invocando a Deus como sua testemunha (Rm 1.9). Outros entendem que a proibição de Jesus é universal.
 
OS TRÊS COMPROMISSOS

Tendo em vista alcançarem o favor Divino os judeus fizeram três compromissos com o Senhor. O primeiro deles foi não se casarem, ou não darem seus filhos e filhas em casamento, com povos vizinhos, pois não conheciam o Deus verdadeiro, não tinham aliança com Ele e cultuavam a diversos deuses. Há mais de uma década atrás Esdras havia combatido veementemente esses casamentos mistos (caps 9 e 10), porém o problema persistia, pois, no versículo 30 eles dizem que não dariam mais suas filhas aos povos da terra, nem tomariam das filhas deles para os seus filhos. Quais os motivos dessas palavras se haviam abandonado essa prática abominável aos olhos de Deus?
Como hoje em dia tudo é tido como intolerância e preconceito é interessante atentar para o sentido em que os judeus, ou o próprio Deus, não aceitava casamentos mistos (Leia Deuteronômio 7.1-5). Nos nossos dias é como se os jovens crentes (moços e moças) casassem com jovens espíritas, católicos romanos, mórmons, testemunha de Jeová, ateus, agnósticos, secularizados, sectários e outros nessa linha. A proibição bíblica não deve ser entendida como preconceito ou intolerância, mas, como segue abaixo:
“O casamento é o mais intimo dos laços humanos e seu caráter santo era preservado na lei do Antigo Testamento. O corolário é que o casamento não deve ser contraído com incrédulos, um princípio repetido no Novo Testamento (I Co 7.39). Israel não manteve sua pureza espiritual e sofreu por esse motivo (Sl 106.37-39)”. [1]
Hoje muitos casamentos estão estragados, destruídos por esse tipo de decisão tomada no passado, e, pior do que isso, jovens cristãos cometem o mesmo erro! É necessário os pais abrirem os olhos para essa questão, orarem a Deus sobre o assunto e buscarem ajuda pastoral. O texto de II Coríntios 6.14 fala sobre a questão do jugo desigual: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?”. Apesar da interpretação primária do texto bíblico ser 1º) uma orientação paulina sobre os falsos apóstolos que buscavam influenciar negativamente os coríntios 2º) e exortá-los que não deveriam submeter suas ações ao controle deles, em certo sentido havia a intenção dos falsos apóstolos combinar falsas doutrinas com a verdade do evangelho. Paulo diz, então, que não há meio-termo. Respeitando as regras de hermenêutica, penso que assim pode suceder com um casal onde a fé professada ou as crenças são diferentes, excludentes, opostas. Pode até dar certo o casamento em si, mas dificilmente vai dar certo no aspecto religioso, pois a “verdade” de um não é a verdade do outro, assim como as crenças também não.
O segundo compromisso tem a ver com a guarda do sábado como um dia sagrado. Antes de comentar brevemente sobre o assunto sugiro que leia aqui uma consideração importantíssima sobre o assunto, feito pelo nobre pastor e apologista Natanel Rinaldi.

O sábado constava entres os dez mandamentos da Lei de Deus: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tú, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de  sábado e o santificou” (Ex 20.8-11).
A Lei proibia as seguintes realizações no dia de sábado: trabalhar (Ex 20.10), cozinhar (Ex 16.23), recolher o maná (Ex 16.26), viajar ou sair de casa (Ex 16.29), Acender fogo em casa (Ex 35.3), recolher ou apanhar lenha (Nm 15.32-36), comercializar (Am 8.5). Quanto a este ultimo texto, quase todos judeus, e nós mesmos, concordamos que vender é trabalho, mas para alguns judeus comprar não era trabalho e se os vendedores não fossem judeus não havia violação da Lei.
Porém, se para os judeus o sábado era um símbolo chave da Lei, nós Igreja do Senhor, participantes do Novo Pacto, estamos desobrigados de cumpri-lo, porque faz parte do Concerto que Deus tinha com o povo de Israel e este não possui a mesma validade para a Igreja. O escritor de Hebreus (7.12) falando sobre o novo e eterno sacerdócio de Jesus diz que “mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” e sobre a excelência do ministério de Cristo informa que “Dizendo Nova Aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar” (Hb 10.13). Entendo que Deus ainda tem um propósito escatológico com Israel, mas o tratamento com a Igreja é diferente. Somos a Nova Aliança. Mas, isso não significa que somos o “Novo Israel”. Não existe essa possibilidade, pois a Igreja de Cristo apenas inseriu-se nesse Pacto devido aos decretos eternos de Deus quanto à salvação.
Quanto à guarda do sábado para a salvação ou obediência como forma meritória diante de Deus, não há prescrição Divina para os que fazem parte do Novo Pacto. Alguns grupos defendem a guarda do sábado, semelhante ao judaísmo do Antigo Testamento e dos dias de Jesus, como os Adventistas do Sétimo Dia.
Entre eles dizem que nós (cristãos protestantes) guardamos o domingo. Quero dizer que não guardamos domingo como preceito salvífico ou para alcançar graça diante de Deus. Aliás, não guardamos dia nenhum e sim observamos o domingo como um dia onde temos a oportunidade de dedicar mais tempo às questões religiosas ou espirituais, tais como culto matutino, Escola Bíblia Dominical, evangelismo, culto de adoração à noite. É óbvio que servir a Deus é uma prática diária e não está vinculado a dias. O sábado é o único mandamento em Êxodo 20 que não se repete no Novo Testamento. Atentamos para os princípios da Lei, para o seu espírito, e não para uma Lei que possuía caráter temporário até a encarnação, e, que se finalizou com a morte de Jesus.
Os sabatólatras fundamentalistas são hipócritas. São semelhantes aos fariseus e judeus que foram censurados por Jesus, pois arrumavam um jeitinho de burlar a obediência a guarda do sábado. Por exemplo, os judeus circuncidavam no sábado, mas, não era proibida toda a atividade no sábado? Sobre esse assunto a Bíblia Apologética afirma em João 7.21-24:
“Os judeus eram ferrenhos guardadores do sábado e sempre estavam discutindo com Jesus sobre o assunto. O que é admirável no texto é Jesus afirmar que a guarda do sábado fica subordinada à circuncisão. Uma criança que devesse ser circuncidada no oitavo dia do seu nascimento (Gn 17.10; Lv 12.3) para que a Lei não ficasse invalidada, colocava a guarda do dia em posição inferior à circuncisão. Se a circuncisão é de valor secundário, inexpressivo, e nenhum cristão hoje a pratica, como terá a guarda do sábado como preceito superior? Ellen Gould White ensinava que a guarda do sábado implicava em salvação. O ensino de Jesus sobre o sábado é diferente, Ele é Senhor do sábado, com autoridade sobre o dia e inocentou os discípulos da acusação de transgredir o sábado (Mt 12.7)”.
Outra coisa, a violação do sábado era punida com apedrejamento (Nm 15.32-36). Pergunto: Qual o procedimento se algum adventista violar a guarda do sábado? Aplicarão a mesma sanção? Lógico que não! E porque não? O judaísmo do Novo Testamento prescreveu outra pena? Se prescreveu onde está ensinada e qual é? Essa é um tipo de doutrina semelhante a uma mesa com três pernas. Não se firma nunca. As doutrinas bíblicas ainda que em certos aspectos sejam difíceis de entender, são nítidas e coerentes biblicamente.
Por outro lado ninguém será salvo por algum tipo de merecimento, que se caracterize pelas obras. Dizer que temos de observar ou guardar o sábado como obra meritória para alcançar a salvação é se utilizar de elementos paralelos e periféricos doutrinariamente, o que contraria o ensino que a salvação é única e exclusivamente por Jesus (Ef 2.8,9; At 4.12). Agora, se depois de receberem a Cristo os adventistas observarem o sábado da mesma maneira e no mesmo sentido que observamos o domingo, tudo bem!  Mas, tanto na teoria quanto na prática não é isso o que acontece na doutrina adventista.
O terceiro compromisso possui aspecto financeiro, pois tem haver com os impostos religiosos. Abrange os versículos 32-39, e, é dedicado ao assunto extrema importância. O imposto do culto (Templo) fundamentava-se em Êxodo 30.11-16, e era exigido somente no caso de um censo (v.12). Nos dias de Moisés o valor exigido para o Tabernáculo era metade de um siclo, aproximadamente 6 gramas, em Neemias é uma terça parte de um siclo, aproximadamente 4 gramas de prata. Portanto, talvez devido a crise financeira da época houvesse diminuição no valor do imposto. O rei Joás convencionou que o imposto para o Templo deveria ser anual (II Cr 24.4-14) e nos dias de Jesus a prática permanecia, com a diferença de que o valor havia retornado à metade de um siclo (Mt 17.24) e que todo judeu acima de vinte anos de idade deveriam pagar o imposto anual do Templo.
Aos impostos eram dados alguns destinos. Genericamente, era destinado para o serviço e obras do Templo (Ne 10.32, 33). Estritamente, eram usados para a fabricação dos pães da proposição – doze pães colocados sobre a mesa, no templo, e depois da semana comidos pelos sacerdotes (Lv 24.5-9); às ofertas de manjares (Nm 28.5,6); para o contínuo holocausto nos sábados (semanais), nas Festas da Lua (mensais) e nas festas fixas (anuais); para as ofertas pelo pecado e para fazer expiação por Israel.
Havia também a oferta da lenha (v.34). Como está escrito em Levíticos 6.12.13, a oferta implicava na necessidade de provisão de lenha para manter o altar do holocausto aceso constantemente. A menção desta oferta é importante, pois naqueles dias havia escassez de lenha (Ag 1.8) e para providenciá-la três grupos tinham de se esforçar para a tarefa: os sacerdotes (é, sacerdote também buscava lenha!), os levitas e o povo em geral.
Os judeus juraram também ofertar suas primícias aos sacerdotes no Templo (agricultura, animais, filhos, v.35-37); esse procedimento está baseado em Êxodo 23.19 e 34.26. Os produtos agrícolas seriam ofertados aos sacerdotes (v.37). Dr Russel Shedd informa-nos que a renda do povo, dentro da economia agrícola, não se calcula em dinheiro, mas em víveres; o dízimo, portanto, era cobrado na base daquilo que as pessoas tinham em mãos (cf II Co 8.12).
Comprometeram-se a entregar seus dízimos aos levitas (vs. 37,38; Nm 18.21,24). O sustento do sacerdote e do levita vinha do dízimo oferecido ao Senhor. Concordo que os que desempenham tarefa de pastorear uma igreja deveriam fazê-la integralmente e com ajuda financeira do ministério. O apóstolo Paulo, apesar de não querer causar nenhum tipo de constrangimento a algumas pessoas, entendia que tinha direito a receber recursos financeiros para a manutenção do seu ministério – esse direito contemplava também os demais obreiros - presbíteros (I Tm 5.17,18). Não é errado receber salário do ministério para o sustento terreno e labor espiritual das ovelhas, o errado é usar o dinheiro dos irmãos para aquisição de carros caríssimos, roupas de grife, viagens paradisíacas, gastos com alimentação em restaurantes elitizados (enquanto alguns irmãos necessitados não têm nem o que comer) ou uso familiar de cartão corporativo com valor ilimitado.
O dízimo tem sido também ponto de discussão e polêmicas nos últimos tempos. Algumas pessoas entendem que sua validade legal restringe-se ao período vétero-testamentário e possui a mesma funcionalidade da circuncisão, do sábado, das festas solenes, da prescrição alimentar, das ofertas de sangue, entre outros. Dizem também que, se estes não são praticados atualmente pela igreja, porque estamos acordados num Novo Pacto, o dizimo também não deveria ser praticado. O que deveria ser ensinado aos crentes é a necessidade e responsabilidade de ofertar financeiramente com uma quantia até mesmo superior ao dízimo mensal tendo em vista sempre a manutenção da igreja, dos obreiros, dos pobres e carentes. Se Jesus não se opôs aos dízimos é devido ao contexto judaico que vivia, jamais ele poderia contrariar os mandamentos prescritos na Lei a um povo que seguia essa Lei.
SÓ AS ESCRITURAS
Bom, encerro lembrando-os que todos os juramentos judaicos possuíam bases testamentárias e a desobediência os colocavam sob severas maldições. Para os judeus havia a prescrição da Lei do Senhor (no Pentateuco), repassada por Moisés ao povo. À Igreja do Senhor, nos dias atuais, fica esse fato histórico como um princípio que devemos aplicar às nossas vidas e na igreja local onde congregamos. Infelizmente, há muitos crentes que trocam a infalibilidade e inerrância das Escrituras, por uma leitura superficial das “caixinhas de promessa” (refiro-me no caso a leitura integral da Bíblia Sagrada), apegando-se as promessas de maneira inapropriada, outros pensam que as musicas evangélicas possuem poder místico e suas letras são infalíveis e inerrantes, inspiradas da mesma maneira que as Escrituras Sagradas e não recorrem mais a ela. Que o Senhor nos conceda graça e força para mantermos compromisso com as Santas Escrituras, e se você leitor, tem negligenciado esse importante fato, mude sua concepção, atitude, e valorize a Palavra de Deus como deve ser.
Em Cristo,



[1] Bíblia de Estudo de Genebra, nota de Deuteronômio 7.3.
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