Por Gilson Barbosa
Segundo certa opinião o “achismo” é a tendência em avaliar as situações segundo as próprias opiniões ou intenções, muitas vezes sem justificação. O “achismo” é desastroso numa discussão bíblica, teológica ou doutrinária. Quando fazemos uso deste elemento estamos potencialmente regredindo, voltamos à estaca zero, somos ineficientes, e contribuímos bem pouco (ou nada) para o entendimento bíblico.
Nós, obreiros do Senhor e estudiosos das Escrituras Sagradas, não temos que “achar” nada, mas, respaldarmos nossos argumentos a luz das Escrituras Sagradas. Nesse sentido não podemos estender a discussão nem chegar a um consenso se a hermenêutica sagrada não for “convidada” para entrar na nossa conversa. Contudo também, não basta fazermos uso das ferramentas proporcionadas pela hermenêutica sagrada, é necessário sermos sensatos, imparciais e totalmente bíblicos.
Expressões tais como “eu acho que”, “penso que”, “o que quero dizer é que”, “minha opinião é que”, geralmente são inúteis num diálogo bíblico e causam mais confusão do que organização. Nestes casos geralmente não há nenhuma menção bíblica para comprovação da opinião, mas somente palavras evasivas. Quando a Bíblia é mencionada esquece-se da correta e fiel interpretação.
Na blogosfera, encontrei uma poesia titulada de Poema contra o achismo, muito interessante:
O achismo tudo sabe. Não tem dúvidas. É autoconfiante. Arrogante. Teimoso. Tira suas próprias conclusões. Não deve satisfações. Não dá ouvido a ninguém. Vive de aparências. O achismo é cego. O achismo seduz, envolve. Engana. Cria suas próprias leis. Não tem fundamento, ética. Julga. Condena. Destrói. Se alimenta da preguiça. Da presunção. Da ignorância. Da ingenuidade. O achismo é parasita.
Os apóstolos, dos quais herdamos preciosas doutrinas bíblicas, nunca fundamentavam suas discussões doutrinárias em opiniões pessoais, transformando-as em soluções infundadas e contraditórias.
Observe o primeiro Concílio realizado pela Igreja Cristã Primitiva (acesse matéria sobre este Concílio aqui). O que motivou a discussão foi à questão se os gentios que estavam recebendo Cristo por meio do evangelho deveriam praticar as mesmas coisas que os judeus praticavam tais como a circuncisão, alimentação, vestuário, cerimoniais, ritos, guarda do sábado, etc. (Leia At 15.5). Lucas anota o seguinte em Atos 15.1: “Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos”. Para resolver esse assunto “resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos” (15.2).
Os apóstolos Pedro, Barnabé, Paulo e Tiago (At 15.7, 12, 13) ao apresentarem seus pontos de vistas e argumentos, não tergiversaram, não foram evasivos, não inventaram alguma doutrina nova, não “acharam” que deveria ser feito dessa ou de outra forma, mas, apresentaram soluções prescritas antecipadamente no contexto bíblico.
Algum ousado pode tentar justificar suas opiniões pessoais colocando o apóstolo Paulo como exemplo, pois, instruindo os irmãos coríntios a respeito da estabilidade da família, disse que caso algum irmão ou irmã tivesse cônjuge descrente que não se apartasse e para tanto usou a expressão “digo eu, não o Senhor” (I Co 7.12). Porém, temos de entender a importância dos escritos paulinos, a canonicidade da carta, sua inspiração pelo Espírito Santo e que ele não estava “achando” que deveria ser feito assim, mas falou divinamente inspirado, e após ter prescrito este preceito ele passou a ter validade e vigência para a solução deste tipo de problema nas igrejas.
É salutar, espiritualmente, para as igrejas, que embasemos toda nossa compreensão doutrinária de modo objetivo (não subjetivo) e com total respaldo das Escrituras Sagradas. É claro que algumas discussões internas entram na questão do principio regulador ou normativo do culto, e, quando isso acontecer não devemos abrir mão da sensatez, mas abstermo-nos de todos os “achismos” nas soluções dos problemas.
Os que gostam de opinar ou de induzir os crentes mais simples ao seu próprio entendimento, mas sem respaldo teológico e bíblico, cabe a sensibilidade de se precaver para receber uma resposta que pode ser publicamente desagradável. É o caso de certos pregadores pentecostais que querem a aceitação de suas pregações em público e para tanto ficam fazendo perguntas ao auditório, que são doutrinariamente e teologicamente descabíveis.
Que o Senhor nos ajude a sermos fiéis intérpretes do texto sagrado, bons aplicadores da sua Palavra e avesso aos “achismos”.
Em Cristo,
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