segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O CRISTÃO E A POLÍTICA

Por Gilson Barbosa

Não adianta ter asco da política, ela é necessária para a boa condução social. Imagine um mundo onde todos mandassem em tudo ou ninguém mandasse em nada, na esfera social? Certamente isso seria o caos! É salutar á sociedade possuir uma hierarquia política que a organize de maneira que todos os setores sociais funcionem adequadamente. Revoltar-se contra o sistema vigente e sugerir a anarquia não é certo.

Por causa da corrupção de alguns dos nossos políticos, alguém, insensatamente, tem sugerido acabar com a política. É mesmo a coisa de acabar com o futebol por causa das brigas de torcida ou eliminar os carros por causa de acidentes. Absurdo! Se as coisas não funcionam muito bem como são, imagine sem ela. Pensar assim é aderir ao anarquismo.

O anarquismo é definido como “uma doutrina (conjunto de princípios políticos, sociais e culturais) que defende o fim de qualquer forma de autoridade e dominação (política, econômica, social e religiosa). Em resumo, os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade total, porém responsável. O anarquismo é contrário a existência de governo, polícia, casamento, escola tradicional e qualquer tipo de instituição que envolva relação de autoridade. Defendem também o fim do sistema capitalista, da propriedade privada e do Estado”.

Queira ou não, gostemos ou não, temos nos submeter às hierarquias constituídas nos sistemas políticos, religiosos, econômicos e sociais. Dentro do próprio âmbito divino o Senhor estabeleceu a hierarquia como forma de autoridade e organização. Pense na organização angélica. Quando Deus criou os anjos ele estabeleceu uma ordem: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” (Colossenses 1:16).

Pois bem, o Senhor deixou também leis onde as sociedades civis pudessem se organizar de maneira que a ordem pudesse ser estabelecida e desejada como ideal. Israel era apenas um povo escravizado no Egito, mas, após sua saída receberam preceitos, mandamentos, leis, para que não se extinguisse e tivesse característica de nação. Deus não estabeleceu apenas a lei moral. A partir de Êxodo 21:1 ao 23:33, o Senhor especifica a lei civil ao seu povo: “Estes são os estatutos que lhes proporás”. No sistema de governo original Deus era o regente: teocracia. O povo respondeu positivamente a esse tipo de comando: “Veio, pois, Moisés, e contou ao povo todas as palavras do SENHOR, e todos os estatutos; então o povo respondeu a uma voz, e disse: Todas as palavras, que o SENHOR tem falado, faremos” (Êxodo 24:3). As dificuldades de Samuel em atender as questões sociais (I Samuel 17:15,16) emergiu no povo o desejo de ter um governante que prontamente os atendessem: “E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações” (I Samuel 8:5). A partir deste momento é instituída a monarquia com todas as suas formas.

O certo é que a política desde cedo está presente em nossa vida. Ela é a arte de bem governar. Em si mesma é extremamente relevante e útil. O vocábulo política vem da língua grega, polis, “cidade” e o conceito predominante é a busca constante da conduta ideal na esfera municipal, estadual e federal. Dizer que a política é do Diabo e relegá-la não faz sentido. A atitude sensata nos orienta a buscarmos informações, pesquisar, e agir com sabedoria nessa área. Somos influenciados direta e indiretamente pela política, pois fazemos parte da sociedade que é fragmentada em diversos setores. Como fazer de conta que o tipo de política dos que estão no comando não é extensivo a nós?  

Alguns podem objetar que pelo menos os crentes não deveriam se envolver com política. Mas, os mesmos defendem a participação em outros tipos de segmentos que também pode não ser tão ético (?) ou recomendável. Temos que entender que o mal não reside propriamente nas coisas, mas na natureza humana inclinada ao pecado. Alguns crentes defendem a ideia de que o conforto social traz mornidão espiritual, o dinheiro e o poder corrompem, é pecado o crente usufruir de lazer, mas nada dizem que a raiz do problema é o estado de depravação que atingiu todas as pessoas pela Queda no Éden. O apóstolo Paulo esclarece que não tornaremos impuros simplesmente pelo convívio com pessoas que não possuem o mesmo procedimento santo e piedoso que devem ter os eleitos do Senhor: “Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo” (I Coríntios 5:9, 10).

Outros pensam que somos apenas cidadãos do céu: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3:20). É verdade que neste mundo somos peregrinos e forasteiros (Hebreus 11:13) e que não temos permanência neste mundo: “Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hebreus 13:14). Entretanto, como cidadãos deste mundo devemos cumprir nossas obrigações, já que somos, fomos e estamos inseridos nesse grande processo de construção social.  Jesus reconheceu a autoridade política do imperador quando respondeu aos inquiridores: “Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20:25). Ele não agiu, criticou ou se revoltou contra o sistema.  

O apóstolo Paulo vai além e diz que a origem da autoridade e do governo civil foi sancionada pelo próprio Deus: “Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação” (Romanos 13:1, 2). Em 1 Timóteo 2:1,2 ele orienta aos irmãos que intercedam em favor das autoridades constituídas: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Timóteo 2:1-2).

É certo que não devemos esperar que a política resolva todos os nossos problemas e colocar nela a nossa confiança como a única solução. Mas, temos de entender que o Senhor está no controle de tudo, até mesmo da política. O Senhor deixou isso bem claro quando Daniel interpretou o sonho do rei Nabucodonosor: “Serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (Daniel 4:25).

Não queira ser mais correto do que Deus. Se Ele não condenou a política, quem somos nós para opinarmos que ela não tem nada para nos oferecer e nenhuma serventia aos seres humanos? Estamos na iminência de mais uma eleição municipal. Ore ao Senhor para que ele o oriente, se informe a respeito dos candidatos e vote com responsabilidade.

Em Cristo,   


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