Não
se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo
Espírito (Efésios 5:18)
Quando
se quer defender determinada doutrina, entendimento ou ação da prática cristã, à
margem da verdadeira interpretação escriturística, a “coisa desanda”. Narrativas
bíblicas e versículo (s) são horripilantemente tratados de maneira absurda. Um
ou outro, achando que “estão com a bola toda” chega a ponto de qualificar
pejorativamente (por exemplo, como “tradicional”, “frio”, “incrédulo”) os
demais irmãos. Este é o caso de como a maioria interpreta e entende a expressão
bíblica cheio do Espírito Santo.
Meu
objetivo não é discutir a contemporaneidade das línguas não humanas
(desconhecidas) dentro do cenário pentecostal, mas, identificar, conceituar,
explicar e buscar uma correta aplicação desta expressão no texto sagrado. Obviamente
nossos educadores pentecostais sabem o significado correto da expressão e como
aplicá-la na vida do crente, mas, por alguma razão os dois lados da interpretação
não são mostrados.
Como
exemplo do que foi dito acima no estudo O
que é o batismo com o Espírito Santo (Lições Bíblicas, 17/04/11), é
informado que “o falar em línguas, a glossolalia, é a manifestação física do
enchimento do Espírito Santo” (p.22, lição do Mestre). Isso é verdade, pois, o
texto bíblico registra: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a
falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava” (Atos 2:4). Porém, o que
não é explicado é que em muitas outras passagens onde aparece a mesma expressão
não há a manifestação da glossolalia.
O que por si só é um prejuízo ao entendimento do cristão pentecostal sobre o
que significa “ser cheio do Espírito”. Isso também tem feito muitos valorizarem
tanto a glossolalia que redundou, em
muitos casos, no abandono da santidade e do fruto do Espirito. Nisso está
justificada a “acusação” de outros evangélicos de que no meio pentecostal há
“muito carisma e pouco caráter”.
“Ser
cheio do Espírito” pode ser entendido como a manifestação poderosa do Espírito
Santo. Resta-nos saber e identificar no que consiste esta manifestação. Seria apenas a manifestação extática ou
mística do mundo sobrenatural que ocorre quando o crente desejoso busca a glossolalia? Entender dessa forma pode
se tornar uma justificativa de caráter duvidoso em alguns aspectos na
administração da igreja local. Por exemplo: Será que foram separados para o
serviço sagrado (diaconato) apenas os
que tinham passado pela experiência da glossolalia?
(Atos 6:3, 5). A fiel interpretação do texto sagrado não corrobora com este
pensamento.
Alguns
textos bíblicos onde aparece a expressão, exata ou similar, “cheio do Espírito”,
não endossa o entendimento de que ser cheio do Espírito seja uma prerrogativa
dos crentes que falam em línguas
estranhas. Pelo contrário, não há menção do som vocálico, vento forte, ou línguas de fogo (Atos 2:2,3). Eis os textos bíblicos onde isso acontece:
Ora,
Josué, filho de Num, estava cheio do
Espírito de sabedoria, porque Moisés tinha imposto as suas mãos sobre ele.
De modo que os israelitas lhe obedeceram e fizeram o que o SENHOR tinha
ordenado a Moisés. (Deuteronômio
34:9)
Ele
será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão por causa
do nascimento dele, pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará
vinho nem bebida fermentada, e será cheio
do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. (Lucas 1:14, 15)
Seu
pai, Zacarias, foi cheio do Espírito
Santo e profetizou (Lucas
1:67).
Jesus,
cheio do Espírito Santo, voltou do
Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, (Lucas 4:1).
Então Pedro, cheio do Espírito
Santo, disse-lhes: “Autoridades e líderes do povo!” (Atos 4:8)
Mas
Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou
os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus (Atos 7:55)
Então
Ananias foi, entrou na casa, pôs as mãos sobre Saulo e disse: “Irmão Saulo, o
Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho por onde você vinha, enviou-me para
que você volte a ver e seja cheio do
Espírito Santo” (Atos
9:17)
Ele
era um homem bom, cheio do Espírito
Santo e de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor (Atos 11:24)
Então Saulo, também chamado Paulo, cheio
do Espírito Santo, olhou firmemente para Elimas e disse: (Atos 13:9)
Se
no lugar de cheio do Espírito Santo for
introduzido nos textos acima algo como “falou, falava, fale em línguas
estranhas” o entendimento e a interpretação do texto fica estranho e inusitado – faça um teste. Não
era preciso nem necessário que os protagonistas tivessem a experiência da glossolalia na situação proposta pelo
texto e vivenciada por eles, mas, mesmo assim é dito algo que tem haver com
o pleno assentimento da plenitude do Espírito.
O
irmão Vagner Barbosa (Lição 05, Palavra
Viva, Ed: Cultura Cristã) comenta que ser cheio do Espírito Santo é buscar
uma manifestação mais plena do Espírito Santo e implica graus de experiência espiritual,
de acordo com a medida na qual o crente se sujeita a direção do Espírito; não se
trata de uma experiência mística. Josué, Zacarias, João Batista, Jesus, Estêvão,
Pedro e Paulo, foram, são ou deveriam ser cheios
do Espírito porquanto eram piedosos, consagrados, dedicados a Deus, e desfrutavam
plena comunhão com o Senhor por meio da busca constante do poder do Espírito.
É
verdade quem em Efésios 5:18 o apóstolo Paulo orienta que os crentes sejam
cheios do Espírito Santo, mas, este enchimento trata-se de um exercício contínuo
na vida cristã (algo como o exercício da santidade e a busca constante do fruto
do Espírito). O reverendo Hernandez Dias Lopes diz haver duas ordens paulinas em
Efésios 5:18 - uma negativa, outra positiva. O apóstolo Paulo faz uma comparação
entre a embriaguez e a plenitude do Espírito:
1.
A semelhança superficial
•
Uma pessoa que está bêbada, dizemos, está sob a influência do álcool; e
certamente um cristão cheio do Espírito está sob a influência e sob o poder do
Espírito Santo.
•
Em ambas as proposições, há uma mudança de comportamento: a personalidade da
pessoa muda quando ela está bêbada. Ele se desinibe; não se importa com o que
os outros pensam dela. Abandona-se aos efeitos da bebida! O crente cheio do
Espírito se entrega ao controle do Espírito e sua vida fica livre e desinibida.
2.
O contraste profundo
•
Na embriaguez o homem perde o controle de si mesmo; no enchimento do Espírito
ele não perde, ele ganha o controle de si, pois o domínio próprio é fruto do
Espírito.
•
O Dr. Martyn Lloyd-Jones, médico e pastor disse: “O vinho e o álcool,
farmacologicamente falando não é um estimulante, é um depressivo. O álcool
sempre está classificado na farmacologia entre os depressivos. O álcool é um
ladrão de cérebros. A embriaguez deprimindo o cérebro tira do homem o
autocontrole, a sabedoria, o entendimento, o julgamento, o equilíbrio e o poder
para aquilatar. Ou seja, a embriaguez impede o homem de agir de maneira
sensata.
•
O que o Espírito Santo faz é exatamente o oposto. Ele não pode ser colocado num
manual de Farmacologia, mas ele é estimulante, anti-depressivo. Ele estimula a
mente, o coração e a vontade.
3.
O resultado oposto
•
O resultado da embriaguez é a dissolução (asotia). As pessoas que estão bêbadas
entregam-se a ações desenfreadas, dissolutas e descontroladas. Perdem o pudor,
perdem a vergonha, conspurcam a vida, envergonham o lar. Trazem desgraças,
lágrimas, pobreza, separação e opróbrio sobre a família. Buscam uma fuga para
os seus problemas no fundo de uma garrafa, mas o que encontram é apenas um
substituto barato, falso, maldito e artificial para a verdadeira alegria. A
embriaguez leva à ruína. Ilustração: a lenda do vinho feito da mistura do
sangue do pavão, leão, macaco e porco.
•
Todavia, os resultados de estar cheio do Espírito são totalmente diferentes. Em
vez de nos aviltarmos, embrutecermos, o Espírito nos enobrece, nos enleva e
eleva. Torna-nos mais humanos, mais parecidos com Jesus.
Não
preciso nem dizer que ser cheio do Espírito Santo no texto de Efésios 5:18 (como
os demais textos citados) não tem nada haver com a experiência de falar em línguas
não humanas – a glossolalia. Se fosse assim teríamos castas de crentes, uns mais espirituais que outros, e os
que passaram pela experiência do batismo em línguas seriam tipos de crentes
melhores e superiores. Isso se parece com o gnosticismo do primeiro século. Na preocupação
em respaldar doutrinas e tendências modernas no evangelicalismo brasileiro, vale
tudo, desde “assassinar a exegese” até “apontar o dedo” para os que interpretam
com lealdade a Escritura Sagrada.
Vamos estudar com profundidade e dedicação os textos bíblicos!
Em
Cristo,
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