William Barclay
Os instigadores das perseguições eram os judeus. Era deles que provinham as calúnias. Em repetidas ocasiões, nos Atos dos Apóstolos, vemos como os judeus convenciam as autoridades para que tomassem medidas contra os pregadores cristãos. Sucedeu em Antioquia (Atos 13:50), em Icônio (Atos 14:2, 5), em Listra (Atos 14:19) e em Tessalônica (Atos 17:5).
A história do que sucedeu em Antioquia é um bom exemplo de como agiam os judeus. Em Atos diz que os judeus conseguiram comover um grupo de mulheres honoráveis e aos principais homens da cidade (Atos 13:50). Em torno da sinagoga se reuniam, habitualmente, muitos homens e mulheres “temerosos de Deus”. Estes eram gentios que embora criam em Deus não estavam dispostos a aceitar o judaísmo até suas últimas consequências nem desejavam tornar-se prosélitos; eram atraídos pela pregação sobre um só Deus em lugar das teorias pagãs sobre muitos deuses, e em especial a pureza da ética judia, em comparação com a lenidade e a luxúria que, em matéria sexual, era comum entre os pagãos. Eram especialmente as mulheres as que se sentiam atraídas ao judaísmo, por estas razões. Muito frequentemente estas mulheres eram de alta posição social, esposas de magistrados e governadores, e era mediante estas que os judeus influíam sobre as autoridades para que perseguissem os cristãos. Os judeus dispunham de molas — que certamente eram muito efetivas — para fazer com que as autoridades romanas tomassem medidas contra a Igreja.
João chama os judeus de “a sinagoga de Satanás”. Aqui João está usando uma expressão que era muito comum entre os judeus, ainda que nele assume o significado inverso. Quando os judeus se reuniam gostavam de autodenominar-se “a assembleia do Senhor” (Números 16:3; 20:4; 31:16). A palavra “sinagoga” significa literalmente “reunião”, “assembleia” ou “congregação”. É como se João estivesse dizendo: “Vocês se chamam a Assembleia de Deus quando, em realidade, não são senão uma assembleia de Satanás, o Diabo”.
Em certa oportunidade João Wesley replicou a uns homens que estavam apresentando uma imagem crua, cruel e selvagem de Deus. “Seu Deus é meu diabo”. É terrível quando uma religião converte-se em instrumento do mal, da crueldade ou da selvageria.
Nos dias da Revolução Francesa Madame Roland pronunciou suas palavras famosas: “Liberdade, que crimes se cometem em teu nome!”.
Houve tempos trágicos nos quais poderia ser dito o mesmo com relação à religião. Quais eram as calúnias que se levantavam contra os cristãos? Havia seis calúnias que era moeda corrente em todo o mundo antigo:
(1) Baseando-se nas palavras da comunhão — isto é o meu corpo, isto é o meu sangue — corria a história de que os cristãos eram canibais.
(2) Porque os cristãos chamavam ágape a suas ceias fraternais (onde se celebrava a Eucaristia), e essa palavra em grego significa “amor”, dizia-se que os cristãos praticavam orgias de luxúria desatada e terrível imoralidade.
(3) Sendo um fato que o cristianismo muitas vezes dividia as famílias quando alguns de seus membros se convertiam e outros seguiam sendo pagãos, acusava-se a Igreja de ameaçar a estrutura familiar e interferir nas relações entre maridos e esposas, pais e filhos, etc.
(4) Os pagãos acusavam os cristãos de ateísmo porque não podiam compreender um culto no qual não havia imagens da divindade que se honrava, como em seus templos.
(5) Os cristãos eram acusados de serem cidadãos desleais e potenciais revolucionários, visto que negavam-se a dizer “César é o Senhor”.
(6) Os cristãos eram acusados de serem incendiários, porque profetizavam o fim do mundo numa grande conflagração cósmica com fogo.
Não era difícil para as pessoas maliciosas disseminarem rumores perigosos e calúnias infamantes com relação à Igreja.
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