William Barclay
Mas havia outra razão para que os cristãos fossem pobres. Ocorria muito frequentemente, naquela época, que as casas dos cristãos eram saqueadas por multidões avivadas. Assim, ficavam sem recursos de tudo o que poderiam ter. Não era coisa fácil ser cristão nos tempos de João, na cidade de Esmirna ou em qualquer outro lugar do mundo antigo.
A Igreja em Esmirna estava atravessando um momento de prova e o futuro imediato era ainda mais sombrio.
Há três coisas nesta carta com relação a esta prova.
(1) É tribulação. Já vimos que esta palavra, no idioma original, o grego do Novo Testamento, significava simplesmente a sensação do que é apertado por um peso ou força. A pressão dos acontecimentos pesava sobre a Igreja de Esmirna, e a força das circunstâncias procurava obriga-la a que abandonasse sua fé.
(2) É pobreza. No Novo Testamento a pobreza e a fé em Cristo estão intimamente relacionadas. “Bem-aventurados os pobres”, diz Jesus (Lucas 6:20). Tiago diz que Deus escolhe os pobres deste mundo para que sejam ricos na fé (Tiago 2:5).
Devemos tomar nota da palavra que se usa neste caso. Em grego há duas palavras que designam o pobre. Uma, a que se usa aqui, é ptojia. A outra é penia. Esta define a condição do homem que deve trabalhar com suas mãos para ganhar o sustento. A primeira, pelo contrário, denota a destituição total. Em outras palavras, penia é o homem que carece do supérfluo, ptojia o que não tem nem sequer o essencial.
A pobreza dos cristãos devia-se a duas razões. Devia-se a que a maioria dentre eles pertencia às classes mais baixas da sociedade, e muitos deles eram escravos. O abismo entre os estratos sociais mais baixos e os mais altos não é coisa nova. No mundo antigo era ainda maior que em nossa época. Estas cartas foram escritas a Igrejas asiáticas, mas sabemos que nessa mesma época em Roma os classes sociais mais baixas literalmente morriam de fome quando os ventos contrários atrasavam os carregamentos de cereais provenientes de Alexandria e fazia-se impossível distribuir a farinha gratuita que recebiam como único meio de sustento. Os primeiros cristãos sabiam o que é a pobreza absoluta.
Mas havia outra razão para que os cristãos fossem pobres. Ocorria muito frequentemente, naquela época, que as casas dos cristãos eram saqueadas por multidões avivadas. Assim, ficavam sem recursos de tudo o que poderiam ter. Não era coisa fácil ser cristão nos tempos de João, na cidade de Esmirna ou em qualquer outro lugar do mundo antigo.
(3) Em terceiro lugar, o cárcere. João prevê um encarceramento de dez dias. Esta cifra não se deve interpretar literalmente. Segundo o costume antigo ao falar de “dez dias” fazia-se referência a um período curto de tempo. Esta profecia, portanto, é ao mesmo tempo uma ameaça e uma promessa. Virão dias mais difíceis e os crentes serão encarcerados por sua fé; entretanto, ainda que dura, a prova não demorará muito em ser superada. Devem destacar-se duas coisas.
Primeiro, foi desta maneira, exatamente, como sucedeu. Ser cristão era contra a lei, mas as perseguições não foram muito prolongadas nem contínuas. Durante longos espaços de tempo, os cristãos eram deixados em paz. Inesperadamente, entretanto, um governador de província podia pensar que era necessário “ajustar os parafusos”, ou as multidões lançar uma “caça” de cristãos — então estalava a tormenta e descia sobre a Igreja a perseguição. Ser cristão era estar submetido a uma constante incerteza.
Em segundo, lugar, ir ao cárcere pode nos parecer algo não muito terrível. De toda maneira, é melhor que a morte. Mas no mundo antigo o cárcere não era mais que uma sala de espera do sepulcro. O Estado não se preocupava com a sorte dos presos. A forma mais comum de terminar uma condenação era morrendo de fome, peste ou esgotamento.
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