Segundo o apóstolo Pedro, Cristo desceu ao inferno para pregar. Como
explicar essa afirmação?
“Porque também Cristo padeceu uma
vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado,
na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual também foi, e
pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a
longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca;
na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água” (1Pe 3.18-20).
A questão teológica à qual nos dedicaremos tem seu embrião em uma expressão
extraída do Credo dos Apóstolos, onde uma cláusula
supostamente afirma que Jesus foi crucifixus, mortuus et sepultus, descendit
ad inferna, ou seja, que Ele foi crucificado, morto
e sepultado; e que desceu ao inferno. É importante ressaltar
que, por volta
do século 5º, não havia a idéia de que Cristo desceu ao inferno, mas que simplesmente
foi sepultado ou desceu à sepultura .
Resumindo, a expressão descendit ad inferna
não aparece no credo apostólico. Foi
uma inserção feita
posteriormente na frase “crucificado, morto e sepultado”.
A expressão
“desceu ao inferno ” não
se encontra nas Escrituras
Sagradas, porém, para o desenvolvimento
da idéia teológica, vamos nos prender à interpretação do texto
bíblico. Os defensores da “descida de
Cristo ao inferno” apóiam-se em textos como Atos
2.27, Romanos 10.6,7, Efésios 4.8,9,
1Pedro 3.18,19 e 1Pedro 4.6. Aqui, a nossa atenção
será tributada ao texto bíblico de 1Pedro
3.18-20.
Há uma outra interpretação
corrente que ensina que essa pregação teria sido uma “proclamação de vitória” e
não uma pregação evangelística, mas, mesmo assim, o problema permanece. Por que
Cristo teria proclamado a vitória somente aos rebeldes dos dias de Noé? Por que
não a todos? Contrastando esse ensino com as Escrituras, temos que
“aos homens está ordenado
morrerem uma vez , vindo depois disso o juízo ”
(Hb 9.27). A alma do destinado se fixa inamovível no local
onde se encontra :
“E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós , de sorte que os que
quisessem passar daqui para
vós não
poderiam, nem tampouco
os de lá passar
para cá ” (Lc
16.26).
Contestamos
todas essas interpretações para nos aliarmos àquela que consideramos mais
coerente. Estamos nos referindo à interpretação proposta por
Agostinho. Primeiramente, o filósofo cristão entendia a passagem
no seu âmbito contextual, levando em conta a pregação
de Noé aos contemporâneos desobedientes.
Esse entendimento e consideração são importantes, pois o esquecimento desse
contexto é a “pedra de tropeço” das interpretações desconexas já analisadas. Para
Agostinho, Cristo atuou “em espírito ” ou “espiritualmente ” na
e com a pregação
de Noé. Assim, Cristo teria pregado aos rebeldes na própria época do patriarca
e por intermédio dele. Wayne Grudem declara que “esse
entendimento do texto
parece, de longe , a solução
mais provável
para essa passagem intrigante
[...] o texto fala ,
antes , de algo
que Cristo
fez sobre a terra
no tempo de Noé”.[i]
Esse pensamento encontra
respaldo e analogia no mesmo livro do apóstolo Pedro, nesta outra declaração: “Da
qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas
que profetizaram da graça
que vos
foi dada , indagando que
tempo ou
que ocasião
de tempo o Espírito de Cristo , que
estava neles, indicava, anteriormente
testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir , e a glória que se lhes havia de seguir ” (1Pe
1.10,11). Nesse texto, observamos como fica clara a ação do Espírito de Cristo
por intermédio dos profetas: “o Espírito
de Cristo , que
estava neles, indicava...”.
Mas fica,
ainda, uma última pergunta: “Se Cristo pregou aos contemporâneos de Noé, por
meio de Noé, por que Pedro diz que Cristo pregou aos espíritos em prisão?”. Será
que tais pessoas estavam presas à época de Noé? Que prisão seria essa? O
apóstolo Pedro diz que Cristo pregou aos “espíritos em
prisão, os quais noutro tempo foram rebeldes”. Há, na sentença, dois tempos
distintos: o passado, expresso na época de Noé, e o presente, expresso no
momento da composição da carta de Pedro. Então, a interpretação seria a seguinte:
que Cristo pregou aos que noutro tempo
foram rebeldes, mas que estavam, agora, na condição de espíritos em prisão, no
inferno.
Excelente post, sobre este assunto polêmico. Concordo com sua abordagem, ainda que sobrem aqui e ali algumas dificuldades que veremos esclarecidas no Céu.
ResponderExcluirAbraços!
Graça e paz irmão Daladier.
ResponderExcluirDe fato há muitas passagens bíblicas obscuras, de difícil entendimento, mas o Senhor nos dá graça para,com muita humildade, entendê-las e aplicá-las dentro do nosso contexto.
Obrigado pelo comentário.
Grande abraço,
Cristo nunca foi ao inferno , as escrituras quando querem afirmar algo , não as trata assim , por exemplo ,ele não ensinar sem clareza , mais com afirmação; tipo eu sou o caminho a verdade e a vida ninguém ,vai ao pai a não ser por mim , bem direto , Pedro estar falando do próprio Noé que pregou em espirito em prisões , que nada mais eram do que as pessoas da época de Noé , seria injusto da parte de Deus enviar Jesus ao inferno para pregar , para uma geração apenas quando na verdade Noé pregou para eles , a paz
ResponderExcluirmuito simples a longanimidade de Deus esteve com as pessoas , enquanto Noé fazia a arca pregava mais ninguém aceitou salvo 8 pessoas ;Noé e sua família !
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