Por Gilson Barbosa
Lucas registra, em Atos 2.42-47, como viviam os primeiros cristãos que iam se convertendo a Cristo e como eles se relacionavam, como se estruturavam, como era a liturgia da igreja, e outros procedimentos que diz respeito à Igreja Primitiva. Tal fato, tanto interessa a igreja evangélica do século 21 quanto deve ser o padrão para a mesma (para efeito positivo do nosso estudo é bom restringir o termo Igreja à denominação que pertencemos – ainda que não é esse o sentido aplicado na Bíblia).
Segundo I. Howard Marshall havia “quatro elementos que caracterizavam uma reunião cristã na igreja primitiva. Em primeiro lugar havia a doutrina dada pelos apóstolos, que eram qualificados para esta tarefa por causa do convívio com Jesus. Em segundo lugar, havia comunhão; a palavra significa co-participação e é provável que aqui (At 2.44,45) se refira a uma refeição em comum ou a uma experiência religiosa da qual todos participavam. Em terceiro lugar o partir do pão. Este é o termo que Lucas emprega para aquilo que Paulo chama de “Ceia do Senhor”. Finalmente, mencionam-se as orações. Caso não se trate de uma referência a parte de uma reunião cristã, então trata-se da maneira dos cristãos observarem as horas de oração marcadas pelos judeus (3.1)”.[1]
Atos dos Apóstolos relata o início da igreja cristã, seu crescimento e desenvolvimento. Lucas informa, nos primeiros capítulos que o cotidiano religioso da comunidade cristã do século I não era perfeito (nem religiosa, nem socialmente), mas, uma das marcas distintiva era a comunhão entre os membros, retratada no envolvimento interpessoal caracterizada como “um dos sinais da atuação do Espírito Santo na Igreja Primitiva”.[2]
O individualismo pessoal tornou-se uma das características marcantes da nossa época e tem seu paralelo no egocentrismo, trata-se de alguém que vive para si próprio sem considerar o espírito coletivo. Como informa o léxico Aurélio, egocêntrico “diz-se daquele que refere tudo ao próprio eu, tomado como centro de todo o interesse; personalista”. Para frearmos o ímpeto individualista é necessário possuir o Fruto do Espírito (Gl 5.22). Muitos de nós não conseguimos viver em comunidade, pois não toleramos as diferenças e não nos esforçamos para interagir com o outro, tanto no sentido social quanto espiritual. Para que uma comunidade cristã seja saudável e conquiste a estima da sociedade (At 2.47) seus membros devem ter obrigatoriamente comunhão. Aliás, o salmista há muito dizia “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Sl 133.1).
Etimologia e definição
A palavra grega para comunhão é koinonia e significa “participação, quinhão, comunicação, auxílio, contribuição, sociedade, comunhão, intimidade”. [3] O conceito de comunhão cristã é descrito da seguinte maneira por Ronald J. Sider: “Para os primeiros cristãos, koinonia, não era a ‘comunhão’ enfeitada de passeios quinzenais patrocinado pela igreja. Não era chá, biscoitos e conversas sofisticadas no salão social depois do sermão. Era um compartilhar incondicional de suas vidas com outros membros do corpo de Cristo”. [4] Contudo, para que nenhum cristão, de hoje, alegue ser impossível viver como os da Igreja Primitiva segue alguns pontos relevantes:
A palavra grega para comunhão é koinonia e significa “participação, quinhão, comunicação, auxílio, contribuição, sociedade, comunhão, intimidade”. [3] O conceito de comunhão cristã é descrito da seguinte maneira por Ronald J. Sider: “Para os primeiros cristãos, koinonia, não era a ‘comunhão’ enfeitada de passeios quinzenais patrocinado pela igreja. Não era chá, biscoitos e conversas sofisticadas no salão social depois do sermão. Era um compartilhar incondicional de suas vidas com outros membros do corpo de Cristo”. [4] Contudo, para que nenhum cristão, de hoje, alegue ser impossível viver como os da Igreja Primitiva segue alguns pontos relevantes:
1. A imperfeição da Igreja Primitiva. Segundo o historiador Justo Gonzalez, [5] “é erro comum entre muitas pessoas idealizar a igreja do Novo Testamento”. Sem dúvida, nossos primeiros irmãos tinham fortes convicções a respeito da fé cristã, acreditavam nas obras salvíficas de Cristo, na ressurreição e ascensão, foram mártires em testemunha a Cristo, possuíam dons espirituais e muitas outras qualidades similares, mas isso não os isentava de atitudes incoerentes e transparência de natureza pecaminosa. No capítulo 5, temos o relato do casal Ananias e Safira tentando enganar os apóstolos e mentindo acerca do valor doado e depositado sob os cuidados da liderança apostólica. No capítulo 6, temos um “episódio que nos indica que já na Igreja Primitiva começava a se refletir algumas das divisões que existiam entre os judeus em Jerusalém”, segundo Justo Gonzalez. Não escrevo isso de maneirar a tornar irrelevante o procedimento espiritual dos cristãos hebreus, de forma alguma, mas para que a igreja dos nossos dias entenda ser possível agir e ter a mesma comunhão que eles tinham. Concluímos que, a Igreja Primitiva não havia chegado à perfeição cristã, mas mediante o poder do Espírito Santo em suas vidas, conseguiram manter a unidade “na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. Desta forma, não há desculpa para os cristãos de hoje viverem uma vida isolada, solitária, individualista, egoísta e sem amor ao próximo.
2. Os cristãos tinham temor. Há exceção, claro, mas muitos dos pentecostais têm priorizado as experiências espirituais em detrimento do Fruto do Espírito. A adoração exigida e externada coletivamente nos cultos tem solapado a adoração individual e diária. O temor dos crentes da Igreja Primitiva e da sociedade são sintomas dos acontecimentos divinos naquela Igreja, e, também, fruto da comunhão e unidade entre os membros. Ananias e Safira não tinham esse temor e por isso foram a óbito. C.S. Lewis disse que não é bom querer ser mais espiritual que Deus. Se vamos exercer o que as experiências pentecostais nos fornecem e proporcionam, não devemos nem podemos esquecer que a sociedade hodierna não nos avalia somente por essas experiências, mas também como nos relacionamos em comunidade.
3. A comunhão dos cristãos influenciava a sociedade (At 2.47). O pastor Geremias do Couto comenta que o que mais chamava a atenção na comunidade dos crentes primitivos é que eles caiam “na graça de todo o povo”. Ou seja, havia tamanha relevância cristã, nos relacionamentos, de tal modo, que sua mensagem penetrava e fazia a diferença, inclusive, na cúpula religiosa do judaísmo (At 6.7). Suas propostas produziam impacto na sociedade e a colocavam em posição destacada.[6]
4. Os cristãos não praticavam o comunismo político (At 2.44,45). Alguns querem associar o comunitarismo dos cristãos em Jerusalém ao comunismo de Stálin, Mao-tse-tung e Fidel Castro. O comunismo político, segundo o Dicionário Teológico (CPAD), é uma “Doutrina sistematizada por Karl Marx e Engels, na qual propõem uma ordem social, política e econômica, onde os meios de produção de riquezas são controlados unicamente pelo Estado. Nesse sistema, pouco vale os direitos individuais e de propriedade”. [7] Não obstante os comunistas justificarem sua teoria com a citação de Atos 2.44,45, essa venda de propriedades, trazendo o valor “aos pés dos apóstolos” – isto é, “confiar aos apóstolos” – 1º) era algo voluntário; 2º) esse arranjo comunitário não visava moldar a vida econômica de cada comunidade cristã; 3º) não era requisito da comunidade cristã para alguém tornar-se membro da comunidade; 4º) não envolvia todas as propriedade privadas; 5º) essa estrutura organizacional não se tornou uma prescrição bíblica e 6º) foi uma decisão que demonstra as mudanças radicais operadas pelo Espírito Santo.
Conclusão
O apóstolo Paulo disse aos coríntios (I Co 12.13): “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Na comunidade cristã não deve haver egoísmo, individualismo, mas devemos seguir a comunhão com todos. O amor é marca do verdadeiro discípulo de Cristo conforme está escrito em João 13.35: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.
O apóstolo Paulo disse aos coríntios (I Co 12.13): “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Na comunidade cristã não deve haver egoísmo, individualismo, mas devemos seguir a comunhão com todos. O amor é marca do verdadeiro discípulo de Cristo conforme está escrito em João 13.35: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.
[1] Marshall, I.Howard. Atos, introdução e comentário. Editora Vida Nova, 1980, pg.82,83.
[2] Lição Bíblica. Até aos confins da Terra. 1º trimestre de 2011, pg. 29 (lição de Mestre).
[3] Dicionário do Novo Testamento. Editora Juerp, p.119)
[4] Lição Bíblica. As disciplinas da vida cristã. 2008, p. 87 (lição de Mestre).
[5] Gonzalez, Justo. Uma História Ilustrada do Cristianismo. Vol I, p. 32.
[6] Lição Bíblica. Igreja, projeto de Deus. 1998, p. 35.
[7] Andrade, Claudionor Correa. Dicionário Teológico. CPAD, pg. 67.
Olá, Paz do Senhor;
ResponderExcluirEncontrei sua matéria sobre Liturgia Cristã,
e gostaria que o irmão me enviasse referencias bibliográficas
( livros, e editoras...) O motivo é que eu preciso fazer o trabalho do TCC bacharelado em teologia.
Abraço, Paz do Senhor.