sábado, 31 de dezembro de 2011

AS HERESIAS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE


Por Gilson Barbosa

A Teologia da Prosperidade trata-se de um movimento e não uma seita. São conhecidos por outros nomes tais como “Confissão Positiva”, “Evangelho da Prosperidade”, “Movimento da Fé”, “Palavra da Fé”. Não é uma denominação, mas seus ensinamentos podem estar imiscuídos nelas. Ainda que não seja uma seita, seus ensinos são heréticos. O herege é aquele que se desvia do alvo principal, e as heresias são os ensinamentos desfocados do alvo ortodoxo, proposto pelas Escrituras Sagradas.

MARY BAKER EDDY
Como a crença em visões, profecias e revelações, fazem parte da cosmovisão pentecostal, foi no pentecostalismo que os pregadores da prosperidade encontraram terreno fértil para a proliferação e manutenção das suas heresias. Kenneth Erwin Hagin (1917-2003), um dos importantes mentores do movimento, alegava possuir autoridade profética e ao longo da sua jornada cristã teve várias visões e revelações. Porém, a origem deste movimento espúrio encontra-se nas seitas metafísicas do início do século XX, nas áreas próximas à Boston (USA), e nos ensinamentos de Mary Baker Eddy, fundadora da seita norte-americana Ciência Cristã.

Mary Baker Eddy negava a realidade da doença. Dizia que era o ser humano que formava as doenças através de uma postura mental errada. Para ela uma atitude mental que considerasse a doença uma realidade, poderia agravar o quadro do doente:

Compreender que a doença é formada pela mente humana, não pela matéria, nem pela mente divina, acaba com o sonho de moléstia. É tratamento mental errôneo fazer da doença realidade – considera-la como algo que se vê e se sente – e depois tentar curá-la pela mente. Não é menos errôneo acreditar na existência real de um tumor, de um câncer, ou de pulmões afetados, enquanto argumentas contra a sua realidade, do que teu paciente sentir esses males segundo a crença física. A prática mental, que considera a moléstia uma realidade, fixa a doença ao paciente, e esta talvez apareça sob uma forma mais alarmante.

No momento oportuno, explica aos doentes o poder que suas crenças exercem sobre seus corpos. Dá-lhes compreensão divina e sadia para poderem combater seus conceitos errôneos e assim apagar da mente mortal as imagens de doença. Quando um sofredor se convence de que não há realidade na sua crença de dor – porque a matéria não tem sensação, e por isso a dor na matéria é uma crença errônea – como pode ele continuar a sofrer?[1]

Conforme explica o Dr Alan Pierat (O Evangelho da Prosperidade) a cosmovisão prevalecente no movimento da prosperidade baseia-se em dois pressupostos: “Primeiro, pressupõe-se que o mundo material está debaixo do controle de forças espirituais. Segundo, ensina-se que essas forças podem ser manipuladas e controladas por meio da fé.” A Ciência Cristã ensina que os pensamentos humanos podem controlar as forças espirituais, ou seja, as leis espirituais são regidas pela vontade humana. Desta forma, a saúde e as riquezas estão ao alcance de todos os crentes.

A fé é o elemento primordial, responsável por apoderar-se das forças do mundo invisível e projetá-los no mundo visível. Kenneth Hagin chega até mesmo dizer que a fé do crente é do mesmo tipo da fé que Deus possui. Deus disse “Haja luz; e houve luz”; “Haja firmamento; e houve firmamento”; “Haja luzeiros no firmamento; e houve luzeiros no firmamento”. Da mesma forma o crente deve confessar, por meio da palavra, o sucesso financeiro e a saúde física. Afirma,também, ser errado dizer a Deus na oração “se for da tua vontade”, pois isso demonstra dúvida.

Ocorre, porém, que por sermos humanos, limitados, não oniscientes, não sabemos o que nos acontecerá daqui a um segundo, por isso confiamos em Deus e submetemos a Ele as realizações da nossa vida futura. Ouvi, numa escola dominical, um professor (Dr Elizeu de Souza) dizer que uma criança, por exemplo, sabe o que quer, mas não sabe que não pode ter ou fazer o que quer. Deu o seguinte exemplo: uma criança sabe que quer colocar o dedo numa tomada, mas não sabe que não deve colocar o dedo na tomada. Assim somos nós diante de Deus: sabemos o que queremos, mas, não sabemos o que é melhor para nós. Aliás, talvez o que queremos seja até mesmo perigoso (como o caso da criança colocar o dedo na tomada). Não é errado orar para que Deus faça Sua vontade. Não foi isso que Jesus ensinou na oração do Pai nosso: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como nos céus”. Entendemos que a vontade de Deus prevalece até mesmo no céu, que dirá na terra!

O ensino da Confissão Positiva pressupõe que aquilo que está apenas na mente é trazido à existência, ao mundo físico, por meio de um pensamento certo e uma confissão correta. Nada de pensamento negativo, e até mesmo uma ponderação razoável é descartada. Ainda que Kenneth Hagin não negue absolutamente a realidade das doenças, porém, seu entendimento de que é necessário entender corretamente as dores e doenças (uma questão de reflexão e postura mental) acaba por negar que elas sejam reais. É assim que o crente conquista riquezas e saúde. Num de seus livros Kenneth Hagin afirma:

Quando você faz uma confissão positiva da fé, é criada uma realidade na sua vida. E então, você caminha na realidade das bênçãos de Deus... Se confessamos fraquezas, fracassos, e doenças, destruímos a fé... Quando conservamos firme nossa confissão, trazemos Deus para o cenário. Nossas confissões nos governam. Essa é uma lei espiritual que poucos de nós percebem... Eu falo para as pessoas o tempo todo: “Se você não está satisfeito com o que tem na vida, então mude o que você está dizendo. Você criou o que tem em sua vida com suas próprias palavras”.

Entretanto, o pastor Paulo Romeiro no livro Super Crentes (p.26) exemplifica a passagem bíblica (Gn 42.36) onde os irmãos de José ao regressarem do Egito sem a presença de Simeão diz o seguinte: “Tendes-me privado de filhos: José já não existe, Simeão não está aqui, e ides levar a Benjamim! Todas estas coisas me sobrevêm”. Note que ele disse algo negativo “José já não existe”. Contudo, isso não provocou a morte de José no Egito, e, portanto não se constituiu em maldição. É óbvio que não é bom o crente viver a vida reclamando, se subestimando, maldizendo, mas, não é porque suas palavras materializarão maldição, mas porque temos convicção que Deus está no controle de todas as coisas, não só no mundo todo como também nos pequenos detalhes da nossa vida.

Ensinam também, os pregadores da prosperidade, que até mesmo os conselhos médicos, apesar de atribuirem importância a ciência médica, não deveriam ser tão necessários aos que atingem uma fé madura. Os crentes que procuram os médicos denotam não terem fé suficiente nem madura para apossarem-se da cura, por isso permanecem doentes. Em outro entendimento, a culpa por estar doente é do próprio crente. Diz Kenneth Hagin:

Não me compreenda mal: não sou contra os médicos. Dou graças a Deus por eles. A ciência médica ajudará as pessoas tanto quanto puder. Se eu tivesse tido necessidade de ir a um médico nestes últimos cinqüenta anos, teria ido — mas nunca foi necessário. Por outro lado, já mandei outras pessoas aos médicos, paguei as contas, e comprei os remédios (muitas vezes, os médicos conseguem manter as pessoas com vida até que possamos colocar dentro delas uma dose suficiente da Palavra para receberem a cura divina total).

Romildo Rodrigues Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus – R.R. Soares) até mesmo diz que é errado o cristão procurar ajuda médica, em qualquer circunstancia:

Alguém uma vez me disse: Mas, Deus não colocou os médicos no mundo?... Eu respondi: É verdade. Ele é tão bom que pensou nos crentes incrédulos.[2]

CIÊNCIA CRISTÃ, BOSTON, MASSACHUSETTS
É curioso esse ponto, pois Mary Baker Eddy (fundadora da seita Ciência Cristã) considerava toda a ciência médica sem valor e má:

Por que dar apoio aos sistemas populares de medicina, quando o médico talvez seja um infiel e talvez perca noventa e nove pacientes, enquanto a Ciência Cristã cura todos os cem que lhe competem? Será porque a alopatia e a homeopatia estão mais em moda e são menos espirituais?[3]

SEMELHANÇAS ENTRE O GNOSTICISMO E A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE 


A menção de semelhança entre o ensino da Teologia da Prosperidade e o movimento gnóstico é devido à cosmovisão dualista. Em primeiro lugar, está o fato de que na doutrina gnóstica subjaz um conhecimento especial, reservado para quem possuíssem verdadeiro entendimento. Esta era a chave secreta do gnosticismo: um conhecimento reservado aos que possuíssem um entendimento diferenciado, descoberto. Nos ensinos da Teologia da Prosperidade o entendimento é o mesmo. A chave para a posse da saúde e da prosperidade tem de ser descoberta por meio de um conhecimento especial, secreto, por meio da mente. E isso não está à disposição de todos, é por isso que nem todos são ricos ou ainda lutam com doenças. À medida que vão descobrindo o poder latente da mente, por meio da confissão positiva, alcançarão a cura e as riquezas. O segundo ponto, é a negação da matéria, com o entendimento de que ela é má. Se bem que esse ensino tem a ver com a soteriologia (como os gnósticos entendiam a salvação do ser humano), ele possui implicações no entendimento da constituição humana (corpo, alma/ espírito). Diziam eles:

O ser humano, segundo eles, é um espírito eterno que, de algum modo, ficou encarcerado neste corpo. Já que o corpo é cárcere do espírito, e já que nos oculta a nossa verdadeira natureza, o corpo é mau. O propósito último do gnóstico é, então, escapar deste corpo e deste mundo material no qual estamos exilados.[4]

Apesar de aparentar ser tricotomista o entendimento que Kenneth tem da constituição humana não é claro. Para ele a alma está intrinsecamente ligada à mente da pessoa sendo que o espírito humano é superior ao corpo e a alma/mente:

Resumidamente, a natureza tríplice do homem é a seguinte: (1) espírito — a parte do homem que lida com a dimensão espiritual, (2) a alma — a parte do homem que lida com a dimensão mental: seu raciocínio e seus poderes intelectuais; (3) o corpo — a parte do homem que lida com a dimensão física.

Há um homem interior. E há um homem exterior. O homem exterior não é o eu verdadeiro. O homem exterior é apenas a casa que você habita. O homem interior é o eu verdadeiro. O homem interior nunca envelhece. É renovado de dia em dia. Ele é o homem espiritual.

O entendimento é que Deus se interessa apenas pelo espírito em detrimento da alma/mente e do corpo. É por isso que a cosmovisão dualista cristã é perigosa (LEIA AQUI). Ou seja, a mente e o corpo não tem nada a ver com a realidade espiritual. É essa visão errada e estranha da constituição humana que faz Kenneth Hagin pensar que corrigindo a postura mental, podemos materializar aquilo que está no mundo espiritual.

A VULNERABILIDADE DO MOVIMENTO PENTECOSTAL


Aqui está apenas uma parte pequena dos ensinos da Teologia da Prosperidade. Ao longo das lições bíblicas vamos expondo suas heresias. Entendimentos mais graves são aceitos e ensinados por eles. Creio que devemos repudiar veemente seus pensamentos e ensinamentos. Por encontrar terreno fértil no pentecostalismo, por causa das profecias, revelações e visões, é salutar que os pastores, professores de teologia e Escola Dominical, possuam discernimento espiritual e compreendam que a aceitação desse tipo de “teologia” nos afasta gradualmente do modelo teológico, doutrinário da ortodoxia que vem sendo ensinada a mais de dois mil anos.

Em Cristo,


[1] Série Apologética, ICP, Vol VI, p, 31,
[2] SOARES, R.R. Como Tomar Posse da Bênção. Graça Editorial, 1987.
[3] Ciência e saúde com a chave das Escrituras, p. 344.
[4] GONZÁLEZ, Justus. A Era dos Mártires. Editora Vida Nova. Volume 1, p. 96.
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