quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

MAMOM – A IDOLATRIA EVANGÉLICA

Por Gilson Barbosa



O pastor Paulo Romeiro escreveu um livro interessantíssimo intitulado Super Crentes (Ed: Mundo Cristão). O objetivo é alertar, instruir e informar o povo evangélico em geral sobre o que ensinam os profetas da prosperidade e apresentar uma resposta bíblica ortodoxa. Os falsos mestres da prosperidade ensinam, entre outras coisas, que “Jesus usava roupa de grife, morava numa grande casa e liderava um ministério com muito dinheiro a ponto de ter um tesoureiro” (p. 42). Ainda nesta página 42 (6ª edição) Paulo Romeiro apresenta algumas declarações desses falsos mestres, favoráveis à riqueza na vida do crente, que eu reproduzo abaixo:

João 19 nos diz que Jesus usava roupas de grife... A túnica era sem costura, tecida de cima até embaixo. Era o tipo de vestimenta que os reis e os mercadores ricos usavam (John Avanzini)

Deus quer que seus filhos usem a melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles tenham o melhor de tudo... simplesmente exija o que você precisa (Kenneth Hagin)

Esta Bíblia é um livro de prosperidade! ... A única vez em que as pessoas foram pobres na Bíblia foi quando elas estiveram sob maldição. E a única razão de terem estado sob maldição é porque não ouviram e não fizeram o que Deus lhes dissera que fizessem (Robert Tilton)

Jesus estava administrando muito dinheiro, pois o tesoureiro que ele tinha era um ladrão. Agora, você não vai me dizer que ministério com um tesoureiro ladrão pode operar apenas com poucos centavos. Era necessário muito dinheiro para operar aquele ministério, pois Judas estava roubando da bolsa (John Avanzini)

Algumas características nos pregadores da prosperidade são: ambição de enriquecimento, retórica refinada, sempre justificam seus pedidos de oferta dizendo estarem realizando uma “grande obra” à Deus, capacidade de articular respostas (quando indagados), facilidade de  se tornarem extremamentes coléricos (quando questionados), habilidade de liderar e influenciar pessoas, exímios administradores (financeiros), esbanjamento de simpatia, são muito sarcásticos, possuem senso aguçado das coisas (principalmente para amealhar e arrecadar dinheiro) e são muitíssimos inteligentes.

É claro que isso não são necessariamente requisitos deles, mas quase todos possuem essas características ou fazem uso desses elementos. A meu ver, a causa de todos esses elementos inerentes neles ou não, é porque buscam desenfreadamente as riquezas terrenas. E nessa ânsia de enriquecer, conscientes ou não, tornaram-se adoradores (idólatras) do deus Mamom.  

 A nota da Bíblia King James (Mt 6.24) comenta o que segue sobre o termo Mamom: “Jesus escolhe uma palavra aramaica Mamom para personificar um dos mais poderosos deuses de todos os tempos: o Dinheiro. O adjetivo Mamom, deriva do verbo aramaico aman (sustentar) e significa amor às riquezas e dedicação avarenta aos interesses mundanos. Jesus orienta seus seguidores a investir suas vidas na conquista de bens espirituais agradáveis ao Senhor e adverte para a impossibilidade de servir com lealdade a Deus e ao mesmo tempo amar o deus Dinheiro. Isso não quer dizer que Jesus seja contra os ricos e prósperos, mas sim que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (Gn 13.2; Ec 3.13; 5.10-19; 10.19; I Tm 6.10). O dinheiro é para ser usado e as pessoas,  amadas. A inversão desses valores tem sido a razão de muitas desgraças (Is 52.3; 55.1; Rm 4.4; I Tm 5.18)”.

O Novo Dicionário da Bíblia (Ed: Vida Nova) salienta o fato de que “Jesus vê nas riquezas uma cobiça egocêntrica que se apossa do coração do homem e assim o aliena de Deus (Mt 6.19 vv): quando um homem ‘possui’ alguma coisa , em realidade essa coisa o possui”.

É bom que fique claro: não é errado um crente ser rico, nem ter comércio, indústria ou obter lucros. Deus não reprova o rico por causa das suas riquezas. Na parábola do Lázaro e do rico, seus destinos eternos nada tiveram a ver com suas condições financeiras. Em algumas parábolas contadas por Jesus inferem-se o estímulo aos bancos e lucros ou negócios, por exemplo, Lucas 19.11-23 (a parábola das dez minas) e Mateus 25.14-30 (a parábola dos talentos). Abraão era rico, e amigo de Deus (Gn 13.2). José de Arimatéia, discípulo de Cristo, era rico (Mt 27.57). Zaqueu recebia uma porcentagem de todos os impostos coletados, portanto, muito rico, mas foi considerado digno de ser chamado de “filho de Abraão” (Lc 19.9). Sou a favor da prosperidade financeira ou que um crente seja rico, pelas vias normais (meios) que existem, que nada mais é do que o trabalho, o investimento num negócio, o estudo, o profissionalismo, a promoção de cargos, etc, pois acredito que Deus pode usar essas situações para abençoar seus servos, se Ele quiser.  

Porém, é fato que as riquezas apresentam perigos espirituais. Jesus disse acerca disso sobre o jovem rico: “Eu ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19.24). Paulo exortou a Timóteo que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentam com muitas dores” (I Tm 6.10). Jesus reprovou a avareza do homem que pediu sua intervenção numa repartição de uma herança familiar: “E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstrui-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te . Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será ? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus” (Lc 12.16-21).






A Bíblia diz em Mateus 6.21 que “onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração”. Se os objetivos de uma pessoa (no caso, um crente) – fama, status, riqueza, popularidade, poder, prestígio – for algo que pertença a essa terra, então o seu coração será absorvido por esse objetivo secular e mundano. Têm crentes amando tanto o presente século, desejando tanto as riquezas e os prazeres e sensação de bem estar advindos dela, que nem pensam, nem anseiam mais pelo arrebatamento da igreja ou vinda de Cristo. Pra quê ir para o céu se a situação tá muito boa (e pode melhorar mais ainda!) aqui na terra.

Até mesmo a boa vida e as boas condições (em vários sentidos) que o ministério tem oferecido aos pastores integrais (bons salários, plano de saúde, previdência privada, cartões corporativos, viagens com despesas totalmente pagas) tem sido uma tentação para alguns obreiros. Acomodam-se nas boas condições que o ministério lhes oferece e não atentam para os pobres, as viúvas, os órfãos e os necessitados.  Há pastores com salários e condições de vida muito melhores do que presidentes de empresas nacionais de ponta. Outros obreiros, por estarem fora do mercado de trabalho por vários anos, são obrigados a afinarem-se pelo diapasão do líder-mor (porque se não já viu, né?).

Ocorre que na questão da satisfação dos anseios da carne (prazeres terrenos) o mandamento Divino não aceita ambiguidade: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Vocês  não podem servir a Deus e a Mamom” (Mt 6.24). O texto bíblico é claro: não há como devotar lealdade a dois senhores. Não tem como amar as riquezas e amar a Deus simultaneamente. Jesus ensina que não há meio termo.

Concluo com as palavras comentadas (Comentário de Mateus) por William Hendriksen: “Se alguém ama a Deus, então comprovará isso por meio de uma vida devotada a ele, colocando tudo – dinheiro, tempo, dons, etc – a seu dispor, servindo-o. Portanto, é evidente que amar a Deus não é simplesmente uma questão de emoções, senão que envolve o coração, a alma, a mente e forças (Mt 22.37; Mc 12.30). Assim posto, é por demais evidente que essa lealdade suprema, auto sacrificadora e entusiástica não pode ser prestada a duas partes diferentes. Aquele que devota essa lealdade torna-se um adorador, e aquele a quem ela se entrega passa a ser o seu deus. Além disso, uma vez que só existe um Deus verdadeiro, depreende-se que o culto a Mamom é idolatria”.  

Diante de tantas buscas desenfreadas por riquezas e vida mansa (quase sempre essa busca não parte dos membros, que na sua maioria são pobres, e os que são ricos ou bem sucedidos são pelos meios normais), pergunto: Estaríamos diante de uma idolatria evangélica? Que o Senhor nos guarde disso! O principio do Decálogo que diz “Não terás outros deuses diante de mim” continua vigente ainda hoje (I Jo 5.21): “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”. É por isso que muitos preferem pregar sermões triunfalistas: é daí que bancam seus luxos.

Um conselho aos amantes das riquezas: é melhor abandonar Mamom do que cair na mesma condenação do Diabo! 


Em Cristo,
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Um comentário:

  1. O resumo de tudo: usar e abusar do Velho Testamento, em contrapartida, esquecer o Evangelho do Cristo, a última palavra de Deus.

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