Por Gilson Barbosa
Seria contraditório se não houvesse uma organização eclesiástica, pois, o nosso Deus é partidário da ordem, ou melhor, Ele é essencialmente organizado: “Porque Deus não é Deus de confusão” (1Co 14.33). Assim afirmamos que a Igreja é tanto um organismo como uma organização e, diante disso, propomos neste capítulo tratar das diversas formas de governo da igreja.
Face ao sentimento de rejeição que alguém pode incorrer quanto à proposta de analisarmos tais formas de governos, é importante saber que algumas seitas, por exemplo, as Testemunhas de Jeová, exercem um sistema centralizador reportando-se ao sistema da igreja primitiva e até apoiando-se na idéia de que adotam idêntico sistema. Mas, existe uma forma de governo eclesiástico ideal? Quem dita as normas à igreja?
As três formas proeminentes da ordem governamental eclesiástica utilizada são: Episcopal, Presbiteriana e Congregacional. Não é, nesse estudo, nossa intenção defendermos ou contrariarmos um ou outro sistema, mas somente informar sobre os tais. Passaremos a analisar cada sistema eclesiástico.
Episcopal
A origem da palavra episcopal na língua grega remete ao vocábulo episkopos, que significa “supervisor”, traduzido seguidamente por “bispo” ou “superintendente”. Comparado aos outros, é o sistema eclesiástico mais antigo. O líder principal revestido de autoridade é o arcebispo, tendo à sua disposição o “domínio” sobre vários bispos. Basicamente este sistema apóia seu pensamento na certeza de que os sucessores dos apóstolos (bispos) foram legalmente constituídos por Cristo, obtendo de sua liberação o controle da igreja na Terra. Os que defendem esse sistema ou usufruem dele, alegam que se deu este desenvolvimento naturalmente no início da igreja. Acreditam estes, que após a morte do apóstolo João, naturalmente e sob sua aprovação, um bispado foi surgindo em cada igreja enquanto os apóstolos (originais) faleciam, e, pouco a pouco se tornou em grandes proporções com extremos poderes. Entre as igrejas que adotaram este sistema, a igreja Católica Romana é a mais “aguerrida defensora” e, apesar de existir vários bispos, um só é autoridade infalível, o Papa. As reivindicações e justificativas repousam na teoria de que Pedro foi o primeiro papa e que logo após a morte deste teria se iniciado uma série de sucessões papais, predominante hodiernamente. Menos fervorosos do que a igreja católica nesta reivindicação, mas, participantes do sistema episcopal estão a Igreja Anglicana, a Igreja Metodista Unida, a Igreja de Deus (pentecostais dos EUA) e a Igreja da Santidade Pentecostal (EUA).
Presbiteriano
No sistema presbiteriano não há a centralização da autoridade ou dos direitos em alguém, contudo, há um representante, escolhido pela igreja local, através do sistema de eleição, que figura a igreja nas atividades eclesiásticas. O representante, neste sistema, é denominado de presbítero (gr. presbuteros), e vemos sua presença, por exemplo, em Atos 11.30: “O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos (presbíteros) por mão de Barnabé e de Saulo”. As decisões básicas eclesiais, no sistema presbiteriano, são tomadas por seqüenciais concílios. Os presbíteros são responsáveis pelo governo das igrejas de determinadas áreas jurisdicionais. Fazem parte do presbitério os membros que compõem um conselho, ou uma assembléia. Este presbitério deve respeito ao superior hierárquico, o pastor da igreja, que não deixa de ser um presbítero, cuja autoridade é exercita sobre os demais presbíteros das igrejas locais. Em um patamar mais elevado, e de maior autoridade eclesiástica, está a Assembléia Geral ou Supremo Concílio, o órgão máximo do sistema presbiteriano. Entre as igrejas que se utilizam deste sistema está a Presbiteriana e a Assembléia de Deus.
Congregacional
Cada igreja local, geograficamente, exerce poderes eclesiásticos, sendo que as decisões tomadas pela congregação (de crentes) são investidas de autoridade. É o sistema em que mais se executa a democracia, pois, coloca em ascendência a vontade dos “leigos”. Decisões de extrema importância são tomadas pelos membros da congregação, denotando que todo o poder emana do povo, sendo que, nenhum poder externo tem a supremacia, e as decisões não podem ser revogadas por nenhum corpo eclesiástico. A compra e venda de propriedades, a escolha e até o orçamento do pastor, por exemplo, neste sistema, é feito totalmente sob a “aprovação” dos membros congregacionais. Porém, isto não isenta uma determinada congregação de deter uma representação pastoral e até mesmo um corpo eclesiástico. Destacamos, neste modo, as igrejas Batistas e Congregacionais.
Uma análise dos três sistemas
Obviamente cada aderente de um sistema se apóia contundentemente nele, entendendo que sua forma se estabelece e se fundamenta no modelo da igreja Primitiva. Às vezes, o sistema adotado na igreja primitiva se mescla e deixa algumas incertezas se realmente há um único modelo. Podemos observar pelos diversos aspectos, ao analisar os textos bíblicos, que os apóstolos não ofereceram um sistema cabal. Há fragmentos, na igreja primitiva, dos três sistemas de governo mencionados. Para percebermos este fato, basta observarmos os estes textos de 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9:
· “...se alguém deseja o episcopado [...] convém, pois, que o bispo” (1Tm 3.1,2);
· “ ...de cidade em cidade estabelecesses presbíteros [...] convém que o bispo” (Tt 1.5,7).
Conforme já estudado, episcopo (bispo, superintendente) se relaciona com o sistema Episcopal, e presbuteros (presbítero, ancião), com o sistema Presbiteriano. O que analisamos no texto de Tito 1.5-9, especialmente nos versículos 5 e 7, é que os termos episcopos e presbuteros estão sendo usados de forma intercambiável. Entretanto, já não parece ter nenhuma relação em textos tais como Atos 15.4,22 e Filipenses 1.1.
Para assinalar seu sistema, os aliados da forma Episcopal, em que o bispo é a autoridade suprema, defendem que no Concílio de Jerusalém o apóstolo Tiago norteou a reunião o que o qualificaria como tendo autoridade de bispo. A forma presbiteriana de governo eclesiástico, por sua vez, afirma da mesma reunião que Tiago foi apenas o mediador, cabendo as lideranças seletas apresentar as decisões às igrejas competentes. Há alusão, no Novo Testamento, que transparece o sistema congregacional quando, por exemplo, a congregação da igreja primitiva nomeava os líderes que eram encarregados de preservar a pureza doutrinária e até concordar na disciplina (At 6.2-4; 14.23).
Qualquer um dos três modelos seguidos pelos grupos denominacionais atualmente, encontra respaldo nas Escrituras, porém, salientamos que independente do sistema adotado, importante é ter Cristo como o “Sumo Pastor” (1Pe 5.4). Qualquer sistema de governo eclesiástico que não observe isso estará destinado à bancarrota. A conclusão de W.D. Davies é de proveitosa meditação: “O critério neotestamentário ulterior de qualquer ordem eclesiástica é que não usurpe a coroa real do Salvador dentro de sua Igreja”.
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