Por Gilson Barbosa
Conforme anunciado (leia aqui), nas postagens que seguirão, comentarei sobre as instruções contidas no documento eclesiástico conhecido como Didaquê. Para tanto sugiro que façam o download do arquivo que contém o texto do Didaquê (aqui).
O que tem o documento a dizer sobre moralidade? Como oficiar o ato litúrgico? Como proceder para com os ministros eclesiásticos? Qual a atitude dos crentes diante de um problema inédito? Qual o tratamento que os crentes deveriam ter entre si? O Didaquê fornece elementos exatos, respostas satisfatórias e rumo à igreja nascente. Junto às explicações que retratam as exigências daquela época poderemos analisar concisamente as práticas que acontecem em nosso meio evangélico na atualidade. Pode ser que as instruções possuam matiz antiquadas e extemporâneas ao seu ponto de vista. Se isto acontecer, pondere a respeito. Sócrates (470-339 a .C) disse que “uma vida não examinada não merece ser vivida”. Arrazoemos, então, a respeito deste documento!
O que tem o documento a dizer sobre moralidade? Como oficiar o ato litúrgico? Como proceder para com os ministros eclesiásticos? Qual a atitude dos crentes diante de um problema inédito? Qual o tratamento que os crentes deveriam ter entre si? O Didaquê fornece elementos exatos, respostas satisfatórias e rumo à igreja nascente. Junto às explicações que retratam as exigências daquela época poderemos analisar concisamente as práticas que acontecem em nosso meio evangélico na atualidade. Pode ser que as instruções possuam matiz antiquadas e extemporâneas ao seu ponto de vista. Se isto acontecer, pondere a respeito. Sócrates (470-
Capítulo I
O tema predominante, nos capítulos I ao VI, do Didaquê, é denominado Dois caminhos. O assunto versa sobre instruções morais. Os estudiosos vêem nestes capítulos uma forte tendência judaica e legalista em contraste com a natureza livre do cristianismo. Estes capítulos faziam parte da instrução ao neoconverso e candidato ao batismo. Todos os neoconversos eram discipulados, rigorosamente, e, após o livre exame de sua consciência, do aval do discipulador e da aceitação da igreja, nela ingressavam. Não poderia ser contabilizado no rol de membros – até mesmo desconsiderado como um convertido à fé cristã – se não fosse submetido ao rito batismal. A ausência deste ato o colocava à margem da comunidade cristã, sob diversos aspectos. Nas linhas que seguem o comentário será capitular e crescente, até a conclusão destes capítulos.
Os quatro primeiros versículos, do capítulo I, apresentam similaridades com as Escrituras Sagradas – especialmente os Evangelhos (exceto o de João). Com palavras firmes, mas, com amor, o discipulador prossegue exortando o neófito na fé cristã. Estas similaridades isenta-nos de tecermos comentários, pois, estaríamos comentando sobre o óbvio visto ser o assunto corrente nos evangelhos e de conhecimento e prática dos cristãos - tanto da época como os de nossos dias.
Os versículos 5 e 6 apresenta-nos um problema social da época: a pobreza. Qual deveria ser a atitude, desta comunidade de cristãos-salvos, com os menos abastados, com os pobres? Como poderiam ajudar? Eles encontraram ao menos uma saída: as esmolas. Deveriam, segundo o instrutor espiritual, oferecer auxílio básico aos pobres, como também aos mendigos, desta forma. Dizia o instrutor espiritual: “Dá a todo o que te pede”. Mas, assim como em nossa sociedade hodierna, este benefício deveria estar regulamentado, com critérios estabelecidos. O Didaquê estabelece então que “a respeito disto também foi dito: ‘que tua esmola sue em tuas mãos, até que saibas a quem dar’”. Sabemos que há campos de subjetividade pessoal nesta arte de “troca”, dar e receber, entre o esmolador e o ofertante. Neste caso entendemos ser melhor cada cristão analisar, individualmente, como agir. Porém, o cristianismo não entende ser esse ato dotado de elemento antídoto ao pecado, conforme induz o documento em IV.6.
Capítulo II
Neste capítulo, a aprendizagem espiritual, moral, social – para o neoconverso - é estabelecida a partir de instruções negativas. As atualidades dos problemas sociais, aqui relatados, nos causam admiração: drogas maléficas, aborto, magia, etc.
Não obstante tantas recomendações serem importantes ao cristão destacamos neste capítulo o direito do nascituro. Está estabelecido e disposto ao neoconverso, bem como a toda a congregação, no capítulo II.2, mesmo antes que os juristas defendessem esta causa. Infelizmente o humanismo secular tem grassado até mesmo lideres evangélicos ao ponto de alguns defenderem abertamente até mesmo forma vil de aborto. Sabemos que inúmeras pessoas, destituídas dos preceitos do cristianismo, tem levantado bandeiras pró-aborto. Bem como, também, existem pessoas que não são cristãs, mas, como nós, são contra o aborto. Desde os primórdios, os cristãos entendem que a vida começa no ventre da mãe e não somente após o parto. Conhecemos os limites [exceção] para que alguém aborte, mas, ao ato infame, nós os cristãos, bradamos de forma retumbante ao aborto: NÃO!
Capítulo III
O homem sem Deus procura paliativos cujos efeitos já sabemos: são ineficazes. Superstição, crendices, encantamentos, astrologia, levam as pessoas a idolatria e consequentemente a perdição eterna. Se isto já era corrente naqueles dias nestes últimos dias, em que vivemos, a angustia existencial tem dilacerado vidas, destruído famílias, dizimado felicidades. O didaquista aconselha aos cristãos evitar tudo o que é mal (III.1). Àqueles que não encontravam solução imediata aos dilemas, que “persegue” a humanidade desde sua criação, o conselho “didaqueano” é para que os cristãos compreendam que “nada acontece sem a permissão de Deus” III.10. Aceitar os momentos maus em nossa vida (III.10) e manter atitudes onde impera o fruto do Espírito Santo (III.7-9) é a melhor saída. Além do mais o cristão tem consigo a presença, proteção e segurança do Todo-Poderoso e o tempo da ignorância espiritual ficou confinado ao pretérito. Bem faria hoje se os crentes não fossem dado as crendices e superstições evangélicas que não são frutos do autentico cristianismo conforme observamos nas Escrituras Sagradas bem como neste importante documento cristão. Se estas distorções doutrinárias são inaceitáveis, o que não pensar dos cristãos que confiam em mapas astrais, magias, astrólogos e ocultismo?
Capítulo IV
Três pontos são importantes aqui: a comunidade cristã, os escravos e a confissão. No primeiro ponto notamos a importância do convívio harmonioso entre os crentes primitivos. A qualidade, deste convívio, deveria ser a de uma família. Não foi isto o que Jesus ensinou? Não é isto que relata Atos dos Apóstolos? Para uma comunidade [judaica] tão acostumada com este relacionamento familiar o conselho didaqueano apenas vem reforçar a teoria. Não há nenhuma dúvida de que os cristãos da igreja primitiva se reuniam em determinado lugar – em casa ou sala alugada – para adoração. O versículo II, deste capítulo, diz: “Buscarás a cada dia a presença dos santos, a fim de que aches descanso em suas palavras”. Isto nos traz a memória a importância de freqüentarmos regularmente a igreja que pertencemos. É nela que seremos edificados pelos testemunhos e pela pregação da palavra bíblica, onde temos a oportunidade de buscarmos a presença de Deus e adoramos sua Pessoa.
A questão da escravidão deve ser entendida dentro do contexto cultural e sócio-econômico da época. É bom que as pessoas saibam, antes de qualquer coisa, que o cristianismo não é a fonte ou o originador da escravidão. Quando o cristianismo surgiu a escravidão já era comum. Os cristãos, então, teriam de aprender a conviver com esta situação e encontrar um meio justo de relacionar-se com os escravos. Responsabilidade maior tinha, com os escravos, aquele senhor que possuía um escravo, mas, que recebia o evangelho de Cristo (IV.10). Por outro lado os escravos deveriam respeitar obedientemente seu senhor sendo este um cristão ou não (IV.11).
Por fim, este capítulo trata da confissão. Adiantamos que esta nada tem a ver com o sistema pertinente a igreja romana: confissão auricular. A confissão é no sentido vertical e horizontal: Deus e os homens. O hábito destes antigos crentes eram confessar seus pecados publicamente na igreja. Estar bem com Deus, mas, em atrito com o irmão de nada valeria a comunhão. Precedente ao ato da Ceia o crente tinha a oportunidade de pedir perdão caso tivesse ofendido algum outro irmão (IV.14). O assunto era extremamente levado a sério: “Se alguém é santo, aproxime-se; se não o é, arrependa-se” (X.6). Podemos até não concordar com este hábito, acha-lo antiquado, mas, não temos como negar que estes cristãos buscavam ser perfeitos e procuravam ser santos no relacionamento com Deus e com os homens. De qualquer forma o recado está dado: caso tenhamos ofendido alguém peçamos, imediatamente, perdão. Caso contrário, com que consciência nos apresentaremos perante Deus?
Capítulo V
O capítulo V comenta sobre o quê o didaquista acredita ser o caminho da morte em contraste com o caminho da vida do primeiro capítulo. Após numeração das qualidades nocivas do caminho da morte o instrutor recomenda, com ênfase ampliada, ao neoconverso: “Livrai-vos, filhos, de todos estes” (V.2). O binômio vida/morte demonstra claramente que é sensato ao novo crente escolher o bem – caminho da vida – em oposição ao mal – caminho da morte. Primeiro o instrutor comenta sobre o quê há neste caminho da morte (V.1). Depois, informa quem são os que trilham este caminho (V.2). Olhando para este quadro notamos que estas mesmas calamidades permeiam o coração das pessoas, em nossos dias. Todos estes males ocorrem porque há, na humanidade, a “falta de temor de Deus” (V.1) e por fim “não reconhecem o Criador” (V.2). O homem sem Deus, sem princípios morais, sem o referencial cristão, tem muito a oferecer de mal a sociedade. Richard Dawkins - professor da Universidade de Oxford e cientista britânico - ateu e crítico ferrenho das religiões, disse que o mundo seria muito melhor sem religião e que a religião é culpada de inúmeros atos de violência. Ocorre, porém, que ele não atenta para o fato de que nações atéias são responsáveis por atos bárbaros de crueldade. Portanto, contrariando sua própria opinião, o ateísmo também deveria ser extinto do planeta. Não é bem assim como pensa Richard Dawkins. Há pontos a serem considerados quando o assunto é religião. A violência, as guerras e tantas outras barbaridades são cometidas por pessoas sem a essência da autentica regeneração em Cristo Jesus e não por causa da religião em si. A advertência didaqueana é fujamos do caminho da morte.
Continua...
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