terça-feira, 15 de março de 2011

CONVENÇÕES DE MINISTROS OU PASTORES: REPENSANDO A PRÁTICA

A associação de ministros e pastores nas chamadas “Convenções Estaduais”, “Convenções Regionais”, “Convenções Nacionais” e “Convenções Mundiais”, é uma prática antiga e comum na grande maioria das denominações evangélicas no Brasil e no mundo.

Em linha gerais, as referidas convenções foram criadas com o propósito de promover a comunhão, a unidade doutrinária, a postura ética, o crescimento espiritual, a defesa contra as heresias, a leitura dos grandes desafios da atualidade, estratégias de evangelismo e missões e outras nobres causas.
Sou pastor há dez anos, e desde então participo de convenções estaduais, regionais e nacionais, como também converso com companheiros de outras denominações e regiões do país sobre a prática convencional na atualidade. Minhas observações, seguidas das informações que me chegam, levam-me a entender que precisamos repensar a prática na reuniões convencionais, para que elas possam retornar aos propósitos iniciais, retomando assim sua importância para a vida e para o ministério pastoral, e consequentemente para a igreja.
Minhas reais preocupações giram em torno dos seguintes pontos:
1. Tempo e recursos financeiros gastos para a mobilização de obreiros (deslocamentos, anuidades, inscrições, alimentação e hospedagem), quando nada, ou pouca coisa é produzida para o crescimento ministerial e pessoal dos mesmos;
2. Elaboração e reformas estatutárias intermináveis, para atender ou adequar-se, em muitos casos, não às reais necessidades de contextualização da igreja, dos desafios sociais modernos, da urgência do avanço evangelístico, mas, para a criação ou abolição de cargos políticos, do novo período dos mandatos (vitalícios ou periódicos), da possibilidade ou não de alternância no poder, da consolidação ou redefinição dos limites das capitania e feudos eclesiásticos etc;
3. Disputas eleitorais que promovem a intriga, a inimizade, a traição, o oportunismo, a barganha, a compra de votos com promessas, vantagens, serviços e outras ofertas;
5. O uso de recursos financeiros (milhares de reais) de origem obscura, para bancar campanhas, e geralmente, sem nenhum relatório transparente posterior;
6. A criação de um sem número de comissões, conselhos, e consequentemente de cargos, que igualmente, nada ou muito pouco produzem. É preciso repensar a prática quando temos resposta para a pergunta “qual o seu cargo?”, mas silenciamos diante da indagação “o que você faz?”. O pior, se briga (literalmente), para simplesmente não fazer nada, se digladia apenas por um mísero e improdutivo cargo;
É preciso ter uma visão clara de que os talentos, os recursos espirituais, intelectuais e materiais que o Senhor graciosamente nos outorgou, precisam ser utilizados com sabedoria, prudência e responsabilidade. Prestaremos contas disto.

Sem diminuir a importância das Convenções (quando os seus papéis e propósitos originais são mantidos), muitas igrejas na atualidade crescem e prosperam, com líderes que não estão “ligados” às mesmas. A solidez doutrinária, o crescimento em qualidade espiritual, o crescimento quantitativo, não depende necessariamente de se estar ou não filiado a uma convenção. Por exemplo, há no contexto evangélico brasileiro, pastores filiados às Convenções (inclusive com cargo em mesas diretoras) pregando e ensinando heresias, e outros, não filiados, sendo mantenedores e defensores da sã doutrina.
Pasmem com o que vou revelar. Ouvi, dias atrás, de um membro de uma igreja cujo pastor não faz parte de uma convenção (nos termos aqui expostos), o seguinte: se o meu pastor se filiar a Convenção, eu vou procurar uma outra igreja, pois não acredito mais nas pessoas que lá estão. Percebam a gravidade do fato: as Convenções, que outrora davam credibilidade aos seus “associados”, agora, começam a denegrir a imagem e a reputação dos mesmos.
Estou lendo (e recomendo) a terceira edição da obra de Thomas L. Friedman, intitulada “O Mundo é Plano”, que nos revela o impacto essencial das mudanças tecnológicas que ocorre na atualidade. Dentre alguns destes impactos, está a exposição rápida, ampla e inevitável do privado, tornando-o cada vez mais público.
Os “atos secretos”, as conversas de bastidores, as tramas silenciosas, tudo que é ruim, em qualquer segmento social, explode na web, causando os mais sérios danos. Bem que poderia estar acontecendo o contrário, como por exemplo, uma explosão evangelística, por meio do chamado marketing viral, das grandes redes sociais (orkut, twitter, facebook etc), das grandes ferramentas de imagens midiáticas, como o youtube, das novas plataformas de publicação de textos (sites, blogs etc).
Podemos mudar o quadro? Sim.
As Convenções de ministros, pastores e líderes são importantes? É óbvio.
As Convenções podem recuperar a credibilidade comprometida? É claro.
Agora, isso não acontece apenas com discurso, acontece , antes, com ações concretas, legítimas e transparentes, resultado de reflexão crítica e mudanças observáveis. A nossa capacidade de saber ouvir críticas e analisar criticamente, é diretamente proporcional a possibilidade de transformação.
É hora de repensar a prática, redifinir os objetivos e agir.
É hora de reconstruir.
Do contrário...
Cabedelo-PB, 15/07/2009
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