Por Gilson Barbosa
Os desafios contemporâneos à igreja evangélica brasileira são muitos. Pastores, obreiros em geral, membros, todos sem distinção devem atentar para esse fato. Muitos não se dão conta de que temos muitos problemas a resolver. Abaixo seguem alguns deles:
1. Distancia entre líder e liderado
Nicolau Maquiavel, em O Príncipe, dizia que, entre ser amado ou temido é muito mais seguro ser temido. Justifica sua posição dizendo serem os homens ingratos, volúveis, simuladores, covardes, portanto, dispensar afeto de alguma maneira acarretaria prejuízo. Talvez, dentro do contexto de sua época e dos fatos inerentes ao assunto que tratava, possa ter certa razão.
Por incrível que pareça certos líderes tem pensado e até mesmo agido como Maquiavel: preferem ser temido a amado, agir com austeridade do que com afeto. Comprovam isso quando exercem domínio sobre a fé e outras áreas da vida do fiel adepto (2 Co 1.24) esquecendo a função para o qual foi chamado: pastorear o rebanho do Senhor (At 20.28).
A estratégia usada por estes é de distanciamento dos membros. O entendimento é que esse distanciamento é saudável para o líder. Entre os efeitos dessa estratégia infame estão à ausência de visita, descaso com a dignidade da pessoa humana e desinteresse das necessidades do membro.
a) visitas – Tudo indica que a base da pirâmide administrativa eclesiástica foi alterada ao longo do tempo. Hoje, os líderes se julgam mais importante que os membros e congregados. Em muitos lugares não há mais visitas pastorais aos membros enfermos, com problemas conjugais; não são visitados mais os que se afastaram, e essas pessoas estão como diz o ditado “a Deus dará”, e estão sendo negligenciados no serviço espiritual. Ouvi até dizer que os “desviados” não devem ser visitados pelos grupos de apoio da igreja, pois “conhecem o evangelho” e são eles quem deve procurar auxílio espiritual. Parece que numa leram ou se esqueceram da essência textual de Lucas 15.4. Que absurdo!
2. Ativismo religioso
A estrutura da igreja cresceu tanto nos últimos tempos gerando no líder um ativismo desenfreado, desordenado, desgovernado, deixando-o desorientado. Esse ativismo também tem levado alguns à perda, omissão ou esquecimento das prioridades – tanto na sua vida quanto a da igreja. Para escoar a demanda passam colocar nos seus liderados:
a) fardos pesados – Cada vez mais é freqüente o líder “atar fardos pesados nos ombros dos crentes”. Isso, por outro lado, tem distanciado o liderado do líder. Os crentes são servidores voluntários na causa do mestre, mas, o que temos presenciado é uma carga tamanha, tantas atribuições, pressões, onde o crente fiel parece ter uma relação de patrão-empregado. Muitos são tratados como apenas como um numeral.
b) mais ativismos – Obreiros ativistas acostumados a pressionar o outro, certamente reproduzirão mais agentes ativistas e necessariamente produzirá um corpo de obreiros preocupado quase sempre em “bater as metas”, “agradar o chefe”, “cumprir o exigido”, negligenciando a essência do serviço eclesiástico e religioso.
Enfim, o ativista religioso está mais preocupado na sua apresentação e marketing pessoal, no desenvolvimento de suas tarefas eclesiológicas, no seu próprio bem estar do que na essência do serviço religioso. Um exemplo bíblico desse disparate encontramos na parábola do Bom Samaritano, contada pelo Senhor Jesus. Tanto o sacerdote como o levita estavam “cheios de Deus”, pois haviam terminado de oficiar no Templo de Jerusalém, dentro das respectivas escalas de serviço. Contudo, quando houve a necessidade de provar esse fervor religioso comprovou-se que tinham mais cuidado com a parte funcional de suas obrigações do que das necessidades físicas e espirituais das pessoas. Quando o sacerdote viu o homem ferido pelo espancamento dos salteadores, “vendo-o, passou de largo”; “e de igual modo também um levita”. Eles tinham razões cerimônias, litúrgicas e religiosas para tal procedimento, mas Jesus deixa evidente que eles não reconheciam, por suas atitudes, este homem como o próximo que deveria receber ações de misericórdia.
3. Institucionalização da Igreja
Qualquer denominação um dia certamente enfrentará a realidade de tornar-se institucional. No inicio não há departamentos formados e organizados, a estrutura jurídica, social ainda se encontra em formação e por conta de outros fatores tudo parece concorrer para uma paz perene. Mas, basta o aumento de números de seguidores, fiéis, obreiros, trabalhos, e as providências cabíveis ao bom funcionamento da obra de Deus torna-se algo imperativo e obrigatório. Não há nada errado no caráter institucional da igreja, visto que, para sua própria existência e sobrevivência deve ser assim. Porém, alguns se valem do seu caráter institucional para fazer valer apenas seus próprios interesses. Quer um exemplo? Leia o estatuto social da sua igreja. Por falar nisso, se sua igreja possui esse documento, você teve acesso a ele? Uma das primeiras contradições dos que governam é “esconder” ou dificultar o acesso a documentos que elucidam os direitos e deveres dos crentes, da denominação que participa. Quando se lê esse tipo de documento observamos nitidamente que a intenção, ainda que implícita, é se beneficiar da situação causada por algum procedimento do membro e que esteja arrolado no estatuto social.
Outro perigo que a institucionalização da Igreja apresenta é a ambição pessoal, e esta se apresenta desde as funções mais simples até a mais sofisticada. Pela graça de Deus exerço o cargo de presbítero, mas percebo ao longo do tempo que para muitos a função pastoral, ou seja, ser Pastor é de mais valia pela “importância” ministerial. Os cargos e funções na igreja têm sido disputados com afinco tal que muitos são pisoteados quando é “dada a largada” para usufruir da tal empreitada. Quantos utilizam os cargos e funções ministeriais apenas para sua projeção eclesiástica e até mesmo para “dominar” seus adeptos. Pedro, o apóstolo, recomendou aos obreiros de sua época o seguinte: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (I Pe 5.2,3).
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