segunda-feira, 14 de março de 2011

RESPOSTA AO CD “VOZ DA VERDADE” (Parte II)

Jesus seria o Espírito Santo?
Depois de afirmar que Jesus é o próprio Pai, o senhor Carlos Moisés segue em sua exposição dizendo: “Eu quero provar que Jesus é o Espírito Santo e falar mais para vocês: será que o Espírito Santo tem sangue?”. Utilizando-se do livro de Atos 20.28, que diz: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, a qual ele resgatou com seu próprio sangue”, ele declara: “Para quem sabe português, o texto está dizendo que o Espírito Santo nos resgatou com seu próprio sangue: quem morreu por você, meu amigo? Quem verteu o sangue por você a não ser Jesus Cristo, que morreu pelos nossos pecados?”

Mas, onde se lê na Bíblia que o Espírito Santo é o próprio Jesus? Depois da ressurreição, o Senhor Jesus apareceu a seus discípulos e disse: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24.39). Como poderíamos contrariar as palavras de nosso Mestre, que afirmou que um “espírito não tem carne nem ossos”. Seria coerente  afirmar que o Espírito Santo tem sangue? Essa interpretação é um texto fora do contexto que gerou um pretexto.

Jesus referiu-se ao Espírito Santo como “outro Consolador” (Jo 14.16). A palavra “outro” utilizada aqui no original grego é allos, que significa “outro da mesma espécie, da mesma natureza, da mesma qualidade”. No grego, a palavra para consolador é parakletos, que quer dizer “ajudador”, “alguém chamado para auxiliar”, “um advogado”. Com isso, Jesus estava afirmando que iria para junto do Pai, mas permaneceria auxiliando o seu povo por intermédio do Espírito Santo.

Como podemos ver, o Espírito Santo seria enviado em nome de Jesus, e não que Ele seria o próprio Jesus. Onde está escrito na Bíblia que o Espírito Santo é o próprio Jesus? Por outro lado, Atos 20.28 não está falando “que o Espírito Santo nos resgatou com seu próprio sangue”. Antes, afirma, e faz isso com clareza, que quem derramou seu sangue para a nossa redenção foi Jesus Cristo, conforme relata o seguinte texto sagrado: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados”  (Ap 1.5).

Ora, se foi necessário que Jesus, já glorificado, voltasse ao Pai a fim de que o Espírito Santo viesse, como realmente aconteceu no dia de Pentecostes, como afirmar que Jesus é o Espírito Santo? O próprio Jesus disse: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7.38,39).

Pessoas ou títulos?
Quanto a essa questão, o senhor Carlos Moisés assevera: “Você sabe que por duas ou três testemunhas é confirmada a palavra. Não há na Bíblia uma pessoa batizada nos títulos: Pai, Filho, Espírito Santo. Todas são batizadas em nome de Jesus, e é esse que você tem de receber, é o nome do teu noivo”.

Ora, quem não sabe que biblicamente a colação de que por duas ou três testemunhas é confirmada toda a palavra é correta?  Entretanto, o senhor Carlos Moisés fala que Pai, Filho e Espírito Santo são apenas títulos. De fato, uma pessoa pode ter mais de um título, mas isso não significa que esses títulos sejam pessoas. Testemunhas são pessoas, não títulos. Vejamos alguns versículos:

          * “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro” (Jo 5.31-32 – grifo nosso).
* “Mas se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou” (Jo 8.16-18 – grifo nosso).

Porventura não são duas pessoas que dão testemunho para que esse testemunho seja válido?  O Pai testifica de Jesus. Conseqüentemente, são duas testemunhas ou duas pessoas, e não dois títulos.

Pela autoridade do nome de Jesus
Tomando por base o texto de Mateus 28.19, que diz: “Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, o senhor Carlos Moisés interpreta que Jesus “não mandou repetir as palavras Pai, Filho e Espírito Santo, mas disse em nome...”. 

Depois de citar passagens de Atos 2.38, 8.16, 10.48 e 19.5, o senhor Carlos Moisés fala que o batismo deve ser realizado somente em nome de Jesus, e não na fórmula de Mateus 28.19: “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Perguntamos, então:  um “nome” (singular)  pode ser usado para mais de uma pessoa? É certo que sim! Basta lermos Gênesis 11.4: “E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome (singular) para que não sejamos mais espalhados sobre a face de toda a terra”.

Ao observarmos a expressão “façamo-nos um nome”, encontramos um verbo no plural, indicando mais de uma pessoa, seguido pelo substantivo “nome” no singular, que também indica mais de uma pessoa. Semelhante ocorrência se dá em Mateus 28.19, quando um nome está indicando igualdade de natureza divina para as três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Por fim, perguntamos ao ministério “Voz da verdade”: de qual referência se vale para a realização dos batismos, considerando que os textos citados abaixo não são uniformes? Confira:

          *Atos 2.38: “...seja batizado em nome de Jesus Cristo...”       
          *Atos 8.16: “em nome do Senhor Jesus (omitido o nome Cristo)
          *Atos 10.48: “...em nome do Senhor...” (omitido o nome Jesus Cristo)
          *Atos 19.5: “E os que ouviram foram batizados em do Senhor Jesus” (omitido Cristo).

Perguntamos ainda: qual das expressões acima é adotada pelo ministério “Voz da verdade”? A fórmula batismal é inalterável?

O próprio batismo de Jesus nas águas do rio Jordão é uma resposta categórica de que Mateus 28.19 revela a existência de três pessoas, e não de três títulos, como aponta o líder unicista.

Analisemos o texto:

“E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia:  Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17).  

Primeiramente, temos Jesus saindo das águas. Depois, o Espírito Santo descendo sobre Ele em forma corpórea de uma pomba. E, por último, temos a voz do Pai, dirigindo-se a Jesus e chamando-o de “Filho amado”. Surgem, então, indagações inevitáveis: Quem falava do céu? Quem ouvia aqui na terra a voz daquele que falava do céu? Quem desceu sobre Jesus em forma corpórea de uma pomba?

Diante do exposto, fica claro que os textos de Atos que não mencionam as pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo referem-se à idéia de “pela autoridade de Jesus”, como se lê em Atos 3.16 e 16.18, em que a autoridade de Jesus é invocada, procedimento ratificado pelos pais da igreja primitiva, conforme veremos a seguir.

A patrística
“Eu fui numa biblioteca metodista e encontrei alguns argumentos... Até o ano 300 se acreditava que Jesus era o único Deus e só se batizava em nome de Jesus. Vieram os filósofos, Ário e outros, e começaram a filosofar em nome de Jesus dizendo: Ele é muito pra ele ser Deus... aí veio o Concílio de Nicéia, no ano 325, o primeiro Concílio, e acharam que o Pai era uma pessoa e o Filho outra... Eram dois” (grifo nosso)

Interessante. Ir a uma biblioteca e encontrar alguns livros não quer dizer que este seria o pensamento corrente dos pais apostólicos, principalmente quando não se faz citação da fonte. O compositor Carlos Moisés pode ter ido a uma biblioteca Metodista, mas não deve ter feito uma pesquisa cientifica e responsável. Se o fizesse, encontraria os chamados pais da igreja batizando na fórmula trinitariana. Citaremos alguns desses patriarcas para desfazer esta falácia.

IRINEU, cristão cerca do ano 190 A D. declarou:

“Temos recebido o batismo... em nome de Deus, o Pai, em nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou e que morreu e ressuscitou de novo, e em nome do Espírito Santo de Deus”.[1]

O DIDAQUÊ ou Ensino dos Doze apóstolos, que apareceu cerca do ano 110 a.D, declara:

“Agora concernente ao batismo, batizai da forma: depois de dar ensinamentos primeiramente de todas as coisas, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo... O bispo ou presbítero, deve batizar desta maneira, conforme nos mandou o Senhor, dizendo: ‘Ide fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.[2]

JUSTINO MÁRTIR, escrevendo cerca do ano 165 A D., disse:

“São trazidos (os novos convertidos) a um lugar onde existe água e recebem de nós o batismo em água, em nome do Pai, Senhor de todo o universo, e de nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo”.[3]

Uma pergunta fatal:A quem foi paga a nossa redenção?
A quem Cristo pagou o resgate?

Se a doutrina ortodoxa da Trindade for negada (não há distinção entre as Pessoas da Deidade, conforme quer o modalismo), Cristo teria pago o resgate ou à raça humana ou a Satanás. Posto que a humanidade está morta em transgressões e em pecados (Ef 2.1), nenhum ser humano teria o direito de exigir que Cristo lhe pagasse resgate. Sobraria, portanto, Satanás. Nós, porém, nada devemos a Satanás. E a idéia de Satanás exigir resgate pela humanidade é blasfêmia, por causa das implicações. Pelo contrário. O resgate foi pago ao Deus Trino e Uno para satisfazer as plenas reivindicações da justiça divina contra o pecador caído. As Escrituras exigem: “andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef 5.2).

Embora mereçamos o castigo decorrente da justiça de Deus (Rm 6.23), somos, porém,  justificados pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, somente. “É o que alguns tem sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.11).

Fica claro que a doutrina essencial da expiação vicária, na qual Cristo carregou os nossos pecados na sua morte, depende do conceito trinitariano. “O unicismo subverte o conceito bíblico da morte penal e vicária de Cristo como satisfação da justiça de Deus e, em última análise, anula a obra da cruz”[4] (grifo nosso).




[1] Citado por J. N. Kelly, Early Christian Doctrines – N.  Y. Harper Row, 1958,  p. 193.
[2] Citado por Luisa Jeter Walker, no livro “Qual o caminho?”. Miami, Editorial Vida, 1980,  p. 277.
[3] Citado por Luisa Jeter Walker, no livro “Qual o caminho?” .Miami, Editorial Vida, 1980,  p. 277.
[4] Teologia Sistemática. CPAD, 1ª Edição, 1996, p. 280.
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