O período da Reforma
Os principais reformadores protestantes contestaram muitas doutrinas da igreja medieval , mas não manifestaram maiores preocupações com a escatologia predominante, herdada de Agostinho. Todavia , Lutero afastou-se de alguns aspectos do amilenismo medieval . Por exemplo , ele questionou a glória da igreja histórica , cria que o papado era a manifestação do Anticristo e entendia a vinda do Senhor como uma ocasião feliz , e não como um dia de ira . Como Lutero, Calvino rejeitou explicitamente a posição milenista, considerando-a infantil e equivocada. Ele cria que a idéia do milênio impõe um limite ao reino de Cristo . Em grande parte , a escatologia de Calvino concentrou-se no futuro dos indivíduos . Nas Institutas da Religião Cristã, ele aborda a ressurreição final no contexto de uma seção mais ampla sobre como os indivíduos recebem a graça de Cristo . Para ele , a escatologia tem um sentido prático , pois a meditação sobre a vida futura é um elemento essencial da vida cristã.
Ouvindo as notícias , Matthys teve a visão de que Münster deveria ser o local da Nova Jerusalém e mudou-se para aquela cidade com os seus seguidores . No início de 1534, após a fuga de parte da população católica e luterana , Matthys assumiu o controle da cidade . Iniciou-se um período de repressão que visava “purificar ” a cidade , com rebatismos forçados , confisco de propriedades , queima de livros e a execução de um ferreiro pelo próprio Matthys. No domingo de Páscoa de 1534, acompanhado de alguns seguidores , Matthys atacou o exército do bispo que estava acampado fora da cidade , sendo imediatamente morto e decapitado. Jan van Leyden assumiu a liderança , ungiu a si mesmo rei , instaurou um reino de terror e introduziu inovações como a poligamia . No dia 25 de maio de 1535, o exército do bispo invadiu a cidade e matou quase todos os habitantes . Leyden e dois companheiros foram torturados até a morte com ferros em brasa . A esperança de uma Nova Jerusalém havia terminado em tragédia .
A experiência americana
O primeiro articulador dessa doutrina nos Estados Unidos foi o famoso teólogo calvinista e pastor congregacional Jonathan Edwards (1703-1758). No contexto do Primeiro Grande Despertamento, do qual foi um dos principais personagens , Edwards anteviu uma era de contínuo avanço do evangelho até que , por volta do ano 2000, surgisse o milênio , um período de paz , notável conhecimento , santidade e prosperidade geral . A maior contribuição de Edwards foi o entendimento de que essa obra resultaria de uma combinação da atuação do Espírito Santo com o uso de meios como a pregação do evangelho e o cultivo dos “meios ordinários de graça ”. Para ele , essa visão pós-milenista era um incentivo necessário para sustentar os melhores esforços da igreja .
A influência de Edwards continuou por várias gerações , principalmente após a Revolução Americana , quando surgiu um renovado interesse pela escatologia bíblica. Seu discípulo Samuel Hopkins publicou em 1793 um Tratado sobre o Milênio , dando grande ênfase ao ativismo social e expressando a convicção de que a grande maioria dos seres humanos iria converter-se. Suas expectativas pareceram confirmar-se com a ocorrência de um avivamento muito mais vasto nas primeiras décadas do século 19, o Segundo Grande Despertamento. Neste, o personagem de maior destaque foi o avivalista Charles G. Finney (1792-1875), que levou às últimas conseqüências a ênfase de Edwards no uso de meios por parte da igreja . Outro fervoroso partidário do otimismo pós-milenista, Finney entendia que o avivamento não era um fenômeno sobrenatural , mas resultava do uso apropriado de certas técnicas , as quais denominou “novas medidas ”.
O contínuo progresso da nova nação norte-americana e a ocorrência de mais um avivamento em 1858 intensificou as esperanças pós-milenistas, que eram expressas nos termos mais triunfalistas possíveis . Porém , com a Guerra Civil (1861-1865) e os grandes problemas gerados pela imigração , urbanização e industrialização , o entusiasmo pós-milenista entrou em refluxo. Seus últimos vestígios se manifestariam no movimento do Evangelho Social , no início do século 20, que ainda insistiu em falar na conversão da sociedade e na implantação do reino de Deus na terra . O cenário estava preparado para o retorno triunfal do velho pré-milenismo abraçado por muitos cristãos antes de Agostinho.
A era dispensacionalista
Inicialmente, os evangélicos conservadores viram o dispensacionalismo com suspeitas. Todavia, a luta contra o liberalismo teológico aproximou os dois grupos, permitindo que os pré-milenistas fossem conquistando espaços. Em 1878, a Conferência Bíblica de Niagara aprovou uma declaração de fé que incluía, além de uma abertura para o pré-milenismo, ênfases evangélicas tradicio-nais como a autoridade das Escrituras e a necessidade da conversão pessoal. Apesar das suas diferenças na área da escatologia, fundamentalistas e pré-milenistas perceberam que possuíam muitas convicções comuns, o que os levou a firmar alianças por algum tempo. O pré-milenismo também foi auxiliado pelo apoio de líderes populares como o evangelista Dwight L. Moody e pela criação de institutos bíblicos. O fato é que, no final do século 19, o pré-milenismo parecia muito mais realista do que o pós-milenismo e os seus defensores apontavam para um grande número de problemas sociais como “sinais dos tempos” e evidências de que a sua posição era a mais correta.
O século 20
Um dos fenômenos mais importantes da história da igreja no século 20 foi o surgimento do movimento pentecostal, que teve como uma de suas características mais distintivas o falar em línguas. Curiosamente, os estudiosos apontam para o fato de que o pentecostalismo inicial tinha como enfoque principal a segunda vinda de Cristo. O dom de se expressar em outras línguas (xenoglossolalia) era visto simplesmente como um instrumento para a colheita final de almas antes do arrebatamento da igreja. Essa preocupação já estivera presente em Edward Irving (1792-1834), um pastor presbiteriano escocês que é tido como precursor do movimento carismático, e foi muito saliente nos primeiros líderes pentecostais, Charles Fox Parham e William J. Seymour. Depois de 1910, quando ficou claro que os missionários não estavam recebendo habilidades miraculosas de falar em outras línguas humanas, os pentecostais começaram a dar maior ênfase às línguas como evidência do batismo com o Espírito Santo e como uma linguagem devocional de oração. Mesmo assim, a preocupação escatológica não foi esquecida. Um exemplo disso é a Igreja do Evangelho Quadrangular, que tem como uma das quatro convicções básicas implícitas no seu nome a volta de Cristo.
Após a Segunda Guerra Mundial, o pré-milenismo despertou um interesse sem precedentes graças a fenômenos como as armas atômicas, a criação do Estado de Israel, a guerra fria entre os blocos capitalista e comunista e o surgimento da união européia. O número de publicações sobre o tema foi impressionante, com os autores oferecendo as mais diferentes interpretações dos eventos contemporâneos à luz das profecias bíblicas. Um grande campeão de vendas por muitos anos foi o livro de Hal Lindsay, A Agonia do Grande Planeta Terra (1970). Muitos filmes também foram produzidos nessa área, inclusive pela indústria cinematográfica secular. O fim da União Soviética em 1989 e o transcurso do ano 2000 apresentaram novos desafios e a necessidade de reinterpretações, como certamente também ocorrerá com os recentes atentados terroristas nos Estados Unidos e suas conseqüências. Os cristãos de todos as eras ficam imaginando se o fim dos tempos não irá chegar na sua geração. Não poderia ser diferentes em nossos dias, principalmente à luz de acontecimentos tão impressionantes que o mundo tem testemunhado. Importa que os seguidores de Cristo cumpram as solenes tarefas que lhes foram confiadas... até que Ele venha.
Alderi Souza de Matos, ministro presbiteriano, é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil.
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