sexta-feira, 25 de março de 2011

A VIAGEM DE PAULO À ROMA

Por Gilson Barbosa

Para entendermos o motivo da viagem de Paulo à Roma (At 27.1ss) devemos retornar ao capítulo 21 dos Atos dos Apóstolos, onde ele é preso em Jerusalém tendo sobre si o peso de três acusações: a promoção de sedição entre os judeus, liderar e defender a seita dos nazarenos e profanar o Templo de Jerusalém (At 24.6). 

O tempo da prisão foi logo após o retorno da sua terceira viagem (At 18.23-21.16). Depois da exortação aos obreiros da cidade de Éfeso, em Mileto, o apóstolo volta para Jerusalém.

Ágabo, o profeta

Ágabo eram um profeta de Jerusalém (At 11.27,28) e sua profecia era que o apóstolo Paulo seria preso em Jerusalém (At 21.11). Dois fatos importantes nesse episódio são: 1º) o profeta não ordenou [deu ordem] à Paulo que não fosse à Jerusalém, apesar do perigo; 2º) Paulo foi à Jerusalém mesmo avisado que seria preso ali. Entendo que o ensino é que a profecia não tem por objetivo “dirigir” a vida do crente ou de qualquer pessoa, mas informar ou avisar sobre um acontecimento ou as proporções deste. 

Os boateiros e os falsos boatos

O léxico Aurélio define boato como “notícia anônima que corre publicamente sem confirmação”. Alguns dos judeus ou até mesmo entre os cristãos judeus tinham espalhado boatos de que Paulo ensinava todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei (At 21.21). A questão é que a notícia ou informação não era simplesmente anônima sem confirmação, ou seja, um boato, mas totalmente falsa.

Paulo, então, preocupado mais com o princípio da Lei e no relacionamento pessoal com os novos cristãos judeus, para não causar confusão submeteu-se a indicação e sugestão da liderança em Jerusalém de que para provar àqueles, que ele não advogava a abolição da Lei, deveria submeter a certa prescrição da lei. Qual seria a prescrição? Segundo o Comentário Bíblico Moody “havia quatro judeus que tinham feito voto de Nazireu. Isto costumava demorar trinta dias, mas eles haviam incorrido em alguma violação, o que os deixavam em condições de impureza cerimonial por sete dias (At 21.26,27). No final desse período, eles rapariam suas cabeças e ofereceriam certos sacrifícios de purificação a Deus. Os anciãos sugeriram a Paulo que ele se identificasse com esses quatro e praticasse o costume de pagar-lhes as despesas dos sacrifícios. Com isto provaria à Igreja judia que Paulo mesmo aceitava os costumes judaicos”.

Resumindo: Alguns judeus procedentes da Ásia, vendo Paulo no Templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele. Acusaram que tinha introduzido um gentio no Templo. Incrível que sob a capa da religião existem pessoas com sentimento de ódio contra seu próximo. Os judeus odiavam tanto a Paulo que nutriam o sentimento de vingança e morte contra ele. Hoje, um pouco diferente, mas na mesma linha, infelizmente existem crentes que odeiam seu irmão, os da liderança preferem “colocar na geladeira” ou “queimar” seus desafetos. Perdão? É uma “coisa” só para a membresia! Além de faltar com a nobreza do caráter humano incorrem em erros gravíssimos, visto que, os discípulos de Cristo provam que amam a Cristo e a Deus amando e perdoando os demais irmãos (Jo 15.12; I Jo 4.20).          

Viagem à Roma

Paulo começou em Cesaréia (At 27.1) sua viagem de aproximadamente 3.200 km para Roma. Para evitar os mares abertos, o navio seguiu pela costa. Em Mirra, Paulo foi colocado em uma embarcação rumo à Itália. Chegou com dificuldade em Cnido; foi para Creta, desembarcando no porto chamado Bons Portos. A próxima parada era em Fenice, mas o navio foi arrebatado para o sul, contornando a ilha de Cauda, e ficou à deriva durante duas semanas, até que naufragou próximo à ilha de Malta. BÍBLIA DE APLICAÇÃO PESSOAL.
 

Naufrágio, regozijo e produtividade de Paulo

Quando Paulo foi preso, na Torre de Antonia, em Jerusalém, o Senhor apareceu a ele com as palavras: “E na noite seguinte, apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem ânimo; porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” (At 23.11). 

Ao saber de uma conspiração dos judeus para lhe tirar a vida, foi levado de noite à Antipátride e em seguida transferido à Cesaréia.

Minha reflexão sobre o assunto é que Deus está no controle de todos os acontecimentos da nossa vida e que, conforme disse o profeta, os pensamentos Dele é mais alto e sublime do que os nossos. Talvez Paulo pensasse em sua viagem à Roma de maneira diferente, tranqüila, com fins de visitar os irmãos da mesma forma como fazia como as demais igrejas (Rm 1.10,11). Porém aconteceu de forma conturbada e a contra gosto. Mas, em nenhum momento o ouvimos fazer perguntas a Deus de maneira inquiridora.

 O naufrágio aconteceu em Malta, onde a companhia do navio passou três meses. Finalmente outro navio deu-lhes a passagem para os 185,2 km até Siracusa, a capital da Sicília. Velejaram para Régio, finalmente soltando as âncoras em Puteóli. Paulo foi levado para a praça de Ápio (o Fórum da Via Ápia) e para Três Vendas (28.15), antes de chegar a Roma. BÍBLIA DE APLICAÇÃO PESSOAL.

Ao chegar a Roma esteve preso sob custódia de um soldado, contudo, não ficou a lastimar, praguejar contra Deus, sua fé não desfaleceu, muito pelo contrário, manteve seu objetivo de provar aos judeus, por meio das Escrituras, que Jesus era o Messias (At 28.23), confortou-se com a visita de Timóteo (Fp 1.1; Cl 1.1), de Tíquico (Ef 6.21), de Epafrodito (Fp 4.18), João Marcos (Cl 4.10) e Lucas (II Tm 4.11) e escreveu as denominadas “cartas da prisão”: Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom e II Timóteo. 

Paulo e os triunfalistas

Paulo não abraça um evangelho triunfalista, onde nunca se admite a existência de problemas.  Eis os motivos:

1) Vítima de boatos, teve de se submeter a pagar despesas pertinentes ao voto dos quatro homens (At 21.23,24) no ritual de purificação para entrar no Templo (Nm 6.9-20).
2) Quase é morto em Jerusalém pelos judeus enfurecidos que vieram da Ásia (At 21.28,29);
3) Foi acusado de proferir e ensinar palavras “contra o povo [insultar o povo judeu], contra a lei [Lei de Moisés], e contra este lugar [o Santo Templo de Jerusalém] ” além de introduzir gregos (gentios) no Templo. Entre outras palavras, todas as acusações eram mentirosas e Paulo todas as refutou.
4) Por pouco foi castigado com açoites pela guarda romana (At 22.24);
5) Quarenta judeus conspiraram e juraram não comerem alimento enquanto não matassem Paulo (At 23.12,13);
6) Por quatro vezes (At 23;24; 25; 25.18) enfrentou pressões emocionais tendo que responder, nos tribunais várias acusações diante de governadores (Félix e Pórcio Festo) e do rei Agripa.
7) A viagem para Roma foi cheio de aventuras perigosas: perigo de naufrágio, fome, tempestades, frio, presos amotinados no navio (At 27);
8) Ao desembarcar na ilha de Malta foi picado por uma serpente após recolher algumas varas de videiras para “alimentar” uma fogueira (At 28.2,3).
9) Ficou preso em Roma numa casa alugada, por dois anos, tendo em sua companhia um soldado romano. 
10) A tradição conta que Paulo foi executado em Roma em 64 A.D. ou pouco depois, quando Nero era o imperador.

Segundo o pastor Ciro Zibordi (leia aqui), “o termo ‘triunfalismo’ diz respeito à atitude excessivamente triunfante; ao sentimento exagerado de triunfo. É a mais perigosa dentre as influências filosóficas em análise, posto que os falsos mestres a propagam encobertamente entre nós (2Pd 2.1 e At 20.30)”. E “segundo a teologia do triunfo, o crente deve “decretar”, “determinar”, “profetizar” bênçãos materiais e espirituais — nessa ordem — para a sua vida, além de exigir a saúde física como um direito. Tudo gira em torno da fé, vista como a mais importante virtude da vida cristã. Mas isso não é a fé saudável, bíblica, e sim a egolátrica fé na fé. Conquanto precisemos de fé para agradar a Deus (Hb 11.6) e sejamos vencedores, em Cristo (Rm 8.37 e 1Co 15.57), essa virtude sem as obras é morta (Tg 2.17,24,26; 2Pd 1.5-9; Ef 2.8-10 e 1Co 13.2,13)”.
 
O final do livro de Atos

O livro de Atos em sua “conclusão” não responde a muitas perguntas que temos em nossas mentes, a começar pela prisão de Paulo. Conforme Atos 28.16, 30 ele morou em uma casa alugada e um soldado cuidava para que não fugisse: “E, logo que chegamos a Roma, o centurião entregou os presos ao capitão da guarda; mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta à parte, com o soldado que o guardava” e o interessante é que podia receber pessoas e gozava de relativa liberdade: “E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo”. Que fim teve a prisão de Paulo? Em que resultou o seu apelo a César (At 25.11)?

César tornou-se título para todos os imperadores romanos. O imperador (o César) do tempo de Paulo era Nero. Os doze imperadores romanos da história do mundo ocidental foram: Júlio César, Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba, Óton, Vitélio, Vespasiano, Tito e Domiciano.

Paulo foi considerado culpado e executado, ou inocente e libertado? Segundo os estudiosos a implicação natural de Atos 28.30 é que após os dois anos, o apóstolo foi libertado da prisão e então partiu para uma quarta viagem missionária. Mais tarde, provavelmente e novamente foi preso em Roma e executado por Nero, quando nesta ocasião colocara a culpa do incêndio (em Roma) nos seguidores de Cristo.

A Bíblia de Aplicação Pessoal (CPAD) opina e sugere sobre o fim abrupto e inconcluso do livro de Atos dos Apóstolos: “Por que o livro de Atos termina tão abruptamente? Ele não trata apenas da vida de Paulo; tem como principal tema a divulgação das Boas Novas, que foram apresentadas. Aparentemente, Deus não considerou necessário que alguém escrevesse um livro adicional, descrevendo a continuação a continuação da história da Igreja Primitiva. Depois que o evangelho havia sido pregado em Roma, seria espalhado pelo mundo”.
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3 comentários:

  1. Graça e paz amado!

    Obrigado por passar por aqui e comentar a postagem. Prazer em tê-lo por aqui.

    Em Cristo,

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  2. qual a duração tempo gasto da viagem de paulo a roma

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