por Gilson Barbosa
É fato incontestável que movimentos unicistas não receiam “assediar ” cristãos de forma geral , especialmente os pentecostais . A causa desse “assédio ” é de fácil compreensão quando analisamos a história . Como movimento moderno , sua fase embrionária deu-se em Arroyo Seco , adjacência de Los Angeles, numa reunião pentecostal realizada em abril de 1913. William Menzies relata desta forma o ocorrido: “O principal preletor da reunião seria a Sra. Mary Woodworth-Etter, mas , o preletor, que , sem querer , acionou a erupção , foi R.E. McAlister. Numa cerimônia batismal, realizada perto da tenda onde eram feitas as reuniões , o irmão McAlister casualmente observou que os apóstolos batizavam os novos convertidos em nome de Jesus Cristo e as palavras Pai , Filho e Espírito Santo nunca foram usadas no batismo cristão . Quando ouviram isso , um estremecimento passou pelos pregadores que se encontravam na plataforma ”.[1]A partir deste acontecimento , duas pessoas foram proeminentes para a proliferação das idéias heterodoxas unicistas: John Sheppe e Frank J. Ewart.
Raízes do unicismo
Monarquianismo, patripassionismo ou sabelianismo são todos conceitos que expressam o intenso desejo e objetivo , ainda nos primeiros séculos da Igreja cristã, de se combater o que seus defensores chamavam de triteísmo, referência ao reconhecimento de três deuses . Na tentativa de defender o monoteísmo , alguns apologistas da Igreja primitiva abandonaram a doutrina da Trindade Divina : Pai , Filho e Espírito Santo , três pessoas que subsistem eternamente numa única divindade (unidade composta ).
O monarquianismo foi a primeira das controvérsias ligadas ao relacionamento entre o Pai e o Filho . Começa a surgir já no final do século II e embora tivesse duas correntes bem distintas, ambas receberam o mesmo nome . Uma forma de monarquianismo foi chamada de “dinâmica ” (ou adocionista) e a outra, de “modalista”. Estas linhas focalizam o sistema monárquico modal .
Foi Teodoto de Bizâncio (cerca de 190 a .D.) quem primeiro ensinou que Jesus era apenas um ser humano movido e impulsionado pelo Espírito Santo . Em outras palavras , para ele , Jesus não era essencialmente e substancialmente Deus, logo, sequer conjugava as duas naturezas (humana e divina ) em si (união hipostática). Esse ensino é chamado de “monarquianismo dinâmico ”.
Outros preferiram reconhecer a divindade de Jesus, mas o identificaram (o Filho ) com o próprio Pai . Essa doutrina é conhecida , ainda hoje , como “monarquianismo modal ” ou “patripassionismo”. A Enciclopédia histórico e teológica nos informa que “patripassionismo é a doutrina segundo a qual o Pai se encarnou, sendo Ele quem nasceu de uma virgem e quem sofreu e morreu na cruz ”.[4]
O modalismo surgiu primeiramente na Ásia Menor com Noeto de Esmirna. Em Roma, Práxeas de Cartago recebeu o ensino de Noeto e o popularizou. Mas foi Sabélio, bispo de Roma (séc. 3o), quem promoveu avanços no sistema modal ao ensinar a respeito de um Deus “processado”. No caso de sua doutrina , Deus teria se apresentado à humanidade de três formas : como Pai (Antigo Testamento ), como Filho (Novo Testamento ) e como o Espírito Santo (período da graça ), mas esses “três seres ” não estariam separados em personalidades . Didaticamente, é como se um único e mesmo ator de teatro entrasse no palco por três vezes e em cada oportunidade trocasse apenas a máscara .
O que há de errado no hino unicista?
Essa informação propedêutica serve para mostrar que fatores aparentemente sem significado podem trazer conseqüências drásticas à ortodoxia e harmonia da igreja . Por isso julgamos importante atentar para a música unicista.
Há pelo menos um grupo musical [da linha unicista] de grande expressão no contexto evangélico . Este grupo, insistindo e explorando uma pretensa similaridade de fé , crença , teologia e liturgia , tem participado de eventos relevantes em nossa denominação . Na verdade , trata-se da sutil intenção de resgatar o alto prestígio que outrora tinham nas igrejas pentecostais e que estava em decadência. Incrível é que tem alcançado certo sucesso por meio do viés musical! Isto porque os hinos em si apresentam uma beleza estética capaz de fazer o ouvinte ignorar os pressupostos e as intenções interpretativas de seu compositor .
Há alguns que afirmam não haver nenhum problema em cantá-los em suas igrejas . Contudo , conforme o pastor Esequias Soares explica, “seus hinos servem para canalizar e divulgar suas doutrinas nocivas, e por isso devem ser rejeitados por nossas igrejas ”.[6] Ainda nesta linha de pensamento , uma das doutrinas nocivas refere-se ao conceito modal da Trindade . Quando se escuta um hino deste grupo , a primeira impressão é a de que a doutrina da Trindade está sendo enfatizada de modo teologicamente correto . Porém , o que a maioria não percebe é que a Trindade é relatada no sentido heterodoxo e não em seu modelo bíblico e histórico . Ou seja, quando se está falando do Pai , na verdade, pensa-se em Jesus; quando se fala do Espírito Santo , também se refere a Jesus.
É verdade que a musicalidade sacra é edificante : “Falando entre vós em salmos , e hinos , e cânticos espirituais ; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração ” (Ef 5.19); doutrinariamente correta : “Que fareis, pois , irmãos ? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo , tem doutrina , tem revelação , tem língua , tem interpretação . Faça-se tudo para edificação ” (I Co 14.26); e uma prática comum entre os irmãos primitivos : “E, perto da meia-noite , Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus , e os outros presos os escutavam” (At 16.25). Porém , o hino em sua natureza , não deve ser compêndio sobre doutrina , teologia , apologética e o mais importante : não serve como instrumento regulamentador e normatizador das doutrinas bíblicas: “Jesus, porém , respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras , nem o poder de Deus ” (Mt 22.29). Apesar de não servir nem possuir este foco – o de normatizar doutrinas – na prática influencia a igreja doutrinariamente, daí nossa preocupação com os hinos de grupos heterodoxos . E é o que infelizmente temos presenciado em alguns casos: igrejas deixando de lado a Sola Scriptura para conjeturar sobre letras de hinos .
Genericamente, uma música evangélica , também não serve como parâmetro para medir a verdade doutrinária bíblica simplesmente pelo fato de o crente ser “tocado” pelo Espírito quando a ouve. A prova testemunhal, neste sentido, [a de que o cristão foi tocado pelo Espírito através do louvor de um grupo heterodoxo ] é subjetiva e contém motivações potencialmente incorretas.
Em sentido análogo , este procedimento pode ser comparado ao “ardor no peito ” como elemento de verificação e validação da verdade do Livro de Mórmon , por exemplo . A teoria mórmon ensina que para se certificar de que o Livro de Mórmon é verdadeiro, o futuro adepto pode ter um sinal se sua pergunta for sincera : o ardor no peito . O livro Doutrinas e Convênios estabelece um modelo de verificação nestes moldes : “Mas , Eu te digo que deves ponderá-lo em tua mente , depois Me deves perguntar se é correto , e se for, Eu farei arder dentro de ti o teu seio ; assim hás de sentir que é certo ”.[7] Se após a leitura e ponderação o leitor sentir o peito arder é porque ele é verdadeiro . E aqui cabe uma pergunta : e se o leitor não sentir nada ? Uma coisa é certa para os mórmons : o Livro de Mórmon continua sendo verdadeiro ! O problema será sempre o leitor !
Julgamos ser incorreto recorrer ao subjetivismo para aferir se determinada coisa é verdadeira ou falsa . É incorreto contrariar o óbvio , ou seja, se determinada coisa é errada por natureza não há elemento mágico que mude esse seu estado. É incorreto também verificar se determinado movimento religioso é falso ou verdadeiro com um modelo análogo e identificável a este método mórmon [em sua natureza e em seu método técnico ]. Há muitas doutrinas no Livro de Mórmon em franca discordância com o cristianismo ortodoxo , por isso o método é inconsistente . Da mesma forma , as letras dos hinos – cantados pelo grupo modal – aparentam conformidade teológica quando comparadas às Escrituras , porém , na verdade, são discrepantes quando comparadas ao modo ortodoxo e histórico de entendimento . É o caso da doutrina da Trindade .
A guisa de ilustração, atente o leitor para a letra do hino Sangue de Deus (Banda Gospel Voz da Verdade ):
Nas |
Num breve olhar, a letra está em conformidade com o pensamento ortodoxo , porém este Deus morrendo na cruz, no entendimento unicista, não refere-se à pessoa de Jesus (com atributos da divindade); mas , a inusitada idéia de que o Pai corporificado no Filho morrera na cruz .
Mas engana-se quem pensa que tudo tenha acabado neste instante : o Espírito Santo , a outra manifestação de Deus (Jesus) assume seu lugar . Cabe-nos perguntar : o Espírito Santo é Jesus ressuscitado? Quem, no momento do Pentecoste, veio : Jesus ou o Espírito Santo ? Quando o Espírito Santo veio sobre os crentes em pentecostes, qual pessoa da Trindade ficou no céu ? O céu , neste instante , ficou sem Deus Pai e sem Jesus?
“Doce |
A sutileza da letra está no fato de que o Espírito Santo, sendo a manifestação do Deus-Jesus, tem a seu dispor levar a pessoa até Jesus que por fim é o Espírito Santo manifestado. O que ocorre nestas letras é a negativa da pessoalidade distinta e individual de Deus Pai , Jesus e o Espírito Santo . Esta sutileza faz-nos lembrar do dito popular que afirma que as aparências enganam. Se no sistema modal o Espírito Santo é outra manifestação de Deus (Jesus), a letra do hino não proporcionaria espaço para entendermos que Jesus estaria levando os crentes a Ele mesmo ? Isto seria correto?
É muito comum os sectários negarem a ortodoxia da doutrina da Trindade devido a complexidade do seu entendimento e compreensão . Todavia , a inteligibilidade não anula a verdade desta doutrina e nem endossa idéias controversas. Aceita-se que nem todos os cristãos , em especial , compreendam realmente a doutrina trinitária, mas daí afirmar que ela é inteligível em sua natureza também não é verdade . Qualquer crente que ama , medita e se esforça em estudar as Escrituras Sagradas pode chegar ao entendimento desta doutrina : “Desejai afetuosamente , como meninos novamente nascidos, o leite racional , não falsificado, para que por ele vades crescendo ” (I Pe 2.2).
A doutrina da Trindade é importante para a salvação. “As opiniões não-trinitarianas, tais como o modalismo e o arianismo , reduzem a doutrina da salvação a uma charada divina . Todas as convicções cristãs básicas que se centralizam na obra da cruz pressupõem a distinção pessoal dos membros da Trindade ”.[9] A Bíblia diz que Deus enviou seu Filho (Jo 3.16); o Filho entregou voluntariamente sua vida como propiciação e consuma a obra da redenção (Jo 19.30) e o Espírito é o outro (do grego allos) da mesma espécie que substitui a Jesus (Jo 14.16). Tertuliano foi enfático quando combateu o modalismo: “Práxeas serviu ao Diabo em Roma de dois modos : expulsando a profecia e introduzindo a heresia , expulsando ao Espírito [Santo ] e crucificando o Pai ”. “Se o modalismo está correto , o Espírito Santo não é uma pessoa distinta dentro da Deidade , mas simplesmente outro nome do Pai e Filho ou outra manifestação deles e, além disso, não somente o Filho de Deus foi crucificado, mas também o Pai ”.[10]
[1] Mather, George A. & Nichols Larry A. Dicionário de Religiões , Crenças e Ocultismo , Editora Vida , p.356.
[2] Coleção Apologética. As Grandes Religiões , Editora Paulista , p.19.
[3] Lee, Witness. A economia de Deus , Editora Árvore da Vida , p.14.
[4] Elwel, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Editora Vida Nova , volume II, p.543.
[5] Horton, Stanley M. Teologia Sistemática , Editora CPAD, p.173.
[6] Lições Bíblicas, 2º Trimestre de 1997, p.36 (Mestre ).
[7] Doutrinas e Convênio , Seção 9:8
[8] Hodge, Charles . Teologia Sistemática , Editora Hagnos, p.345.
[9] Horton, Stanley M. Teologia Sistemática , Editora CPAD, p.178.
[10] Olson, Roger. História da Teologia Cristã, Editora Vida , p.93.
tem que ter muita fé para cre numa trindade o meu Deus é todo poderoso ele esta no ceu e na terra a o mesmo tenpo.E no dia do pentecoste o meu Jesus estava presente qual pai na hora de nacer o seu filho ele podendo não estaria no hopital esperando seu filho nacer? imagine Deus QUE AMOR! o meu Jesus que disse que não dexaria orfão e ele mesmo falou que estaria com nosco todos os dias mt 28v20 roberto rs
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